25/10/2011

Dai nemici mi guardo io! (1968 / Realizador: Mario Amendola)

No pós guerra civil, Alan Burton (Charles Southwood) vagueia pelo deserto com uma sela ás costas. Ao longe avista uma diligência que aborda e a troco da sua sela consegue autorização para subir e seguir viagem. Eis que pouco depois, um grupo de homens a cavalo ataca a diligência. O objectivo dos agressores é sequestrar um dos passageiros, um militar do derrotado exército sulista. Escamoteando-se habilmente, o nosso herói acidental consegue abater os delinquentes a tiro de Winchester.

No meio da troca de balas também o Major acaba por ser baleado, mas antes de morrer transmite um rico segredo a Burton. Um valioso tesouro confederado fora refundido e para determinar o seu paradeiro será necessário possuir três moedas de dólar muito especiais. Nestas estão estampados os códigos que determinam a localização exacta do lote. Burton lança-se então na busca das outras duas moedas.


As reminiscências a “Il buono, il brutto, il cattivo” são óbvias. Temos um tesouro escondido e imaginem só, três tipos atrás dele (um gringo, um mexicano de intenções dúbias e um mauzão que por breves momentos até une esforços com os bonzinhos da fita). E como se não bastasse temos também um Charles Southwood que aqui e ali replica o modus operandi usado por Clint Eastwood na trilogia do «Homem sem nome». A versão dobrada em Inglês que tive a oportunidade de assistir comprova-o. Mas desenganem-se, este “Dai nemici mi guardo io!” fica a léguas da qualidade do terceiro western de Sergio Leone.

“Dai nemici mi guardo io!” (também conhecido como “Three Silver Dollars”) foi até ver o único filme realizado por Mario Amendola que assisti. Todavia mesmo que não lhe possa exigir créditos na cadeira de realizador confesso que esperava muito mais de uma pessoa envolvida nos argumentos de alguns westerns-spaghetti que bastante aprecio – “Il grande silenzio” ou “Winchester, uno entre mil” – mas que afinal aqui se limitou a recontar mais uma caça ao tesouro no oeste selvagem. Espalhando-se ao comprido na abordagem sobre a ganância humana.


No campo das interpretações a coisa não corre muito melhor, especialmente ao nível dos chamados «extras», que diga-se são mesmo muito pouco convincentes. Para nosso contentamento, ao menos a estrela do cartaz – Charles Southwood – garante os requisitos mínimos do pistoleiro sedento por ouro. Esta foi apenas a sua segunda aparição no cinema, na primeira fora curiosamente dirigido pelo amado/odiado Demofilo Fidani. Na verdade Southwood não faria grande carreira no cinema, mas apesar do curto portfolio haveria de ganhar alguma fama graças ás bizarras personagens que interpretou nos westerns de Giuliano Carnimeo (“C'è Sartana... vendi la pistola e comprati la bara” e “Testa t'ammazzo, croce... sei morto... Mi chiamano Alleluja”).

Actualmente “Dai nemici mi guardo io!” apenas está editado no mercado germânico, o DVD segundo consta é de fraca qualidade pelo que esperemos que uma cópia decente surja num futuro breve. Enquanto isso não acontece resta-nos aproveitar as maravilhas do mundo digital, que vai disponibilizando algumas versões ripadas das velhinhas cassetes de VHS.



Eis mais algumas imagens do filme, porque vale a pena contemplar Alida Chelli, filha do maestro Carlo Rustichelli:



18/10/2011

Bandas Sonoras | "Zorro" de Guido & Maurizio De Angelis

Os irmãos De Angelis são provavelmente a dupla de músicos / compositores mais prolífica de Itália. A sua carreira abrange trabalhos não apenas no cinema mas também na televisão e até em séries de animação!

Acho que um dos seus grandes trunfos é a capacidade de adaptar perfeitamente os seus registos ao produto a que se destina. Se queremos sonoridades lúdicas ou infantis, eles conseguem! Se queremos partituras musicais mais sóbrias, eles também conseguem! Se queremos a mescla destes dois registos, a banda sonora de “Zorro” alcança facilmente o objetivo!

Como é típico nos filmes do justiceiro mascarado, tem de haver um ambiente hispânico e a música deve traduzir isso mesmo. De Angelis usam fundamentalmente o virtuosismo das guitarras espanholas, adicionando-lhe teclados e, para os momentos mais lúdicos, flautas. “Zorro” varia entre faixas que sugerem alegria, brincadeira e regozijo, faixas que demonstram grande dinamismo e virtuosismo, e faixas mais melódicas a apelar ao drama ou até mesmo ao romance.

Embora a maioria seja instrumental, três músicas são cantadas por Oliver Onions (pseudónimo usado pelos compositores). Em suma, estamos perante um belo trabalho musical que enriqueceu este filme de Duccio Tessari e que mais uma vez veio demonstrar a capacidade desta dupla de brilhar em qualquer registo!


11/10/2011

Os spaghettis da minha vida | Bruno Barrenha @ Analisando o Oeste


Já não é a primeira vez que contamos com um fã do western-spaghetti de tenra idade nesta rubrica. De facto é com um prazer especial que publicamos os dizeres dos novos fãs. E é sobretudo bom saber que apesar das overdoses de CGI que o cinema contemporâneo nos quer impingir, existem ainda aqueles que se encantam com as artimanhas da velha escola de cinema popular. Saibam que o Bruno, que hoje partilha connosco as suas preferências dentro do western-spaghetti mantém desde há um ano o blogue Analisando o Oeste, que como o nome diz, vai dissecando obras do chamado faroeste, sejam elas americanas ou europeias. Passem por lá!


Primeiramente, gostaria de mandar um extremo “muito obrigado!” aos gajos deste incrível blog pela atenção que vem dado a um garoto de 14 anos tentando entrar para um mundo de gigantes.

Pois é... Minha relação com o western iniciou-se em uma tarde de sábado: havia feito o download de "Butch Cassidy & Sundance Kid", o qual foi meu primeiro faroeste assistido. A partir dele, as portas do gênero se escancararam para mim... De súbito fui apresentado ao mestre italiano Sergio Leone e me apaixonei por seu cinema: desde Clint Eastwood até Ennio Morricone, desde o visual do velho-oeste europeu até o punhado de dólares.

Virei um fanático pelo velho-oeste e, acima de tudo, pelo cinema. Como consequência, criei meu blog (Analisando o Oeste) há um ano. Até hoje ele continua vivo e todas as semanas o abasteço em parceria com meu amigo Thierry Vasques, realizando críticas destinadas somente ao gênero do western, independente se ele é norte-americano ou spaghetti.

Só gostaria de acrescentar que ainda não vi muitos dos filmes desconhecidos dentro do gênero; por isso minha lista terá bastantes obras clássicas e, se pararmos para pensar, é um tanto quanto óbvia para qualquer cinéfilo que se interessa pelo faroeste italiano. Ainda assim, me faltam assistir alguns baita épicos, como "Preparati la bara!", "I giorni dell'ira" e alguns da série Sartana.

Por último, meu respeito ao faroeste vai além dos limites, já que foi através dele em que eu fui laçado pelas rédeas dos mais diversos cowboys e arrastado por seus cavalos até a maior das maiores recompensas possíveis: o reconhecimento.


Os 10 favoritos:

01 | Il buono, il brutto, il cattivo | Sergio Leone | 1966

É muito difícil – digamos que seja praticamente impossível - conversar com alguém que já tenha assistido a esta obra-prima e não tenha gostado. É o auge do western spaghetti, é aquele estilo de filme em que não queremos o seu fim, onde rezamos para que tenha alguma coisa a mais. As atuações são de tirar o fôlego de qualquer um, porém o que mais merece atenção é a trilha sonora: ela é uma das razões pelo qual o elejo como um dos melhores filmes da sétima-arte e, consequentemente, o meu predileto em todos os tempos.


02 | Giù la testa | Sergio Leone | 1971

Enquanto uns dizem ser o pior trabalho de Leone, meu carinho por este filme é inexplicável. A parte dramática é, sem dúvida alguma, uma revolução no gênero onde normalmente só se ouviam tiros. Ninguém imaginaria a comoção de um revolucionário no meio de uma sangrenta revolução. Tal motivo é então um dos principais para este filme assegurar seu segundo lugar na minha lista, sem contar ainda com outra belíssima trilha de Ennio Morricone.


03 | Il grande silenzio | Sergio Corbucci | 1968

Para o espectador que estava acostumado em ver o mar de cores áridas do deserto europeu, aqui o baque será grande: a imensa branquidão da neve, do gelo e do frio tomará conta da telona, sendo quase imperceptível a presença do personagem Silêncio (Jean-Louis Trintignant). A partir disto, novas fronteiras para o western spaghetti foram descobertas: a fotografia mais que inovadora, um vilão se dando bem no final das contas, um personagem principal mudo durante todo o filme... Todos os parâmetros milimetricamente perfeitos para um clássico do gênero!


04 | Keoma | Enzo G. Castellari | 1976

O triste adeus não oficial do western spaghetti se baseia neste maravilhoso trabalho do diretor Enzo G. Castellari. Com seu toque provido de muito talento, o filme até serve como uma espécie de homenagem ao gênero que durou somente 14 anos na teoria, mas que até hoje vive em nossas mentes e corações. Admirável pela penetrante e engenhosa trilha sonora dos irmãos De Angelis, a película ainda conta com a atuação magnífica de Franco Nero e com a mistura de perspectivas criadas por Castellari, apresentando os close-ups de Leone e as câmeras lentas de Peckinpah.


05 | La resa dei conti | Sergio Sollima | 1966

No mesmo ano de clássicos como "O Bom, O Mau e O Feio" e "Django", surge "O Dia da Desforra". É a revelação de mais um diretor com o nome Sergio dentro do western spaghetti: Leone já havia se idolatrado e Corbucci ia pela mesma rota, enquanto que Sollima também aparece para lhes fazer companhia. O trio é contemplado na produção de obras-primas e, como sua maior, Sollima adquire O Dia da Desforra, com Tomas Milian e Lee Van Cleef.


06 | C'era una volta il West | Sergio Leone | 1968

O maior western já realizado, tanto por parte do norte-americano quanto do próprio europeu. Mais uma vez a trilha de Morricone é de arrepiar os cabelos, juntamente com as atuações de gala por parte de todo o elenco. A lindeza de Claudia Cardinale faz tudo ficar mais alinhado, porém o detalhe que mais engrandece o trabalho é seu roteiro irreprochável, escrito pelo próprio Leone em parceria com seu xará Donati. Também há a presença do antes mocinho de olhos azuis, Henry Fonda, no papel de vilão. Apesar de tudo não é o meu filme predileto, mas com certeza é uma coisa de outro mundo...


07 | Lo voglio morto | Paolo Bianchini | 1968

Uma grata surpresa! Apesar de suas diversas falhas, é um dos trabalhos onde as características paisagens de Almería-Espanha estão mais explícitas. Ainda apresenta uma qualidade técnica invejável para as grandes produções do gênero.



08 | Per qualche dollaro in più | Sergio Leone | 1965

O encerramento deste filme é uma das cenas mais belas de todo o gênero, com o Coronel Mortimer (Lee Van Cleef) desaparecendo na bela paisagem do pôr-do-sol indo em direção ao nada. É um dos filmes que mais expõem os ideais do western spaghetti, com os olhares avassaladores nos close-ups de Leone, a trilha exaltada de Morricone e a dupla formada por Eastwood-Van Cleef arrematando qualquer comentário. Com todos estes aspectos, a metade da "Trilogia dos Dólares" refletiria no que viria ao seu final.


09 | Un dollaro tra i denti | Luigi Vanzi | 1967

É praticamente um musical dentro do velho-oeste, justamente pela trilha sonora estar presente em quase toda a obra, fortalecendo-a; poucos são os momentos onde ela não se encontra. Além disso, me faz recordar de grandes filmes nos quais o pistoleiro encontra – já nos momentos finais – seus adversários e os mata um por um, sendo que está sozinho.


10 | Per un pugno di dollari | Sergio Leone | 1964

Esse não poderia estar de fora: é o estopim do western spaghetti, apesar de ser uma cópia descarada de "Yojimbo". E, assim como foi o início para o gênero, também foi para mim pelo fato de ter se tornado o primeiro trabalho que assisti de Sergio Leone. Não é aquele tipo de coisa extremamente magnífica, mas podemos considera-lo como um ensaio para o que viria depois em toda a filmografia de Leone...



Joker: Comicidade de boa qualidade no velho-oeste!


Il mio nome ès Nessuno | Tonino Valerii | 1973

Como uma forma de descontrair a seriedade dos outros filmes de faroeste, o ex-assistente de Leone acerta ao realizar "Meu Nome é Ninguém", criando um daqueles filmes pastelões que conseguem nos sacar algumas risadas e nos apresentar uma história sem o mínimo de conteúdo clichê. Com dois atores completamente divergentes (Henry Fonda e Terence Hill) é formada uma lenda poética na história do western.



A evitar:
Desculpem, pois não achei mais do que... Superestimado!

Django | Sergio Corbucci | 1966

Talvez o título para este clássico não fosse “A EVITAR”, porém é um filme que não me agradou e então o coloquei aqui. O motivo para isto talvez seja a grande expectativa que criei sobre ele e, no geral, apenas o final acaba por surpreender. Apesar de tudo, "Django" é um dos maiores símbolos do western spaghetti, mas que, infelizmente, não me agradou!

04/10/2011

La caza del oro (1972 / Realizador: Juan Bosch)

Com a chegada do western cómico até o habitualmente taciturno Anthony Steffen, que por regra associamos aos mais carrancudos dos personagens do western-spaghetti (“Django il bastardo”, “Garringo”, etc), passou a interpretar personagens em filmes que não são carne, nem peixe (“Uno, dos, tres... dispara otra vez”, “Arriva Sabata!”). Filmes que se por um lado tentam imprimir algumas passagens mais cómicas nos seus roteiros, não se contêm quando chega a hora da matança.

É certo e sabido que o Steffen que adoramos é desprovido de expressividade. Coisa sem importância quando se trata de encorpar os mais destemidos pistoleiros do velho oeste, mas quando se passa para o lado da paródia, as coisas ficam estranhas. Os anos 70 foram férteis em produções deste tipo, e esta co-produção ítalo-espanhola intitulada de “La caza del oro” é um desses bichos raros.


Carver (Manuel Guitián) é um velho bandido que roubou 28 sacos de ouro à companhia mineira, mas que acabou na prisão por 20 penosos anos, onde manteve segredo sobre o paradeiro do saque. No dia da sua libertação uma série de bandidos sem escrúpulos fazem romaria até às portas da prisão, com o intuito de forçar o avozinho a indicar a localização do tesouro. O director da prisão (Raf Baldassarre) também está interessado no dinheiro e oferece protecção ao velho em troca do metal precioso, mas Carver agride o carcereiro e volta para dentro da choldra. Lá, espera-o o mexicano Paco (Daniel Martín), companheiro de cela que tenciona escapulir-se com o velho e com ele repartir o ouro. O mexicano logra em fugir com a sua «galinha dos ovos de ouro» mas não chega longe porque Trash (Anthony Steffen) - o mais afoito dos abutres - lhes interrompe a fuga.


Os três acabam por formar uma delicada sociedade, seguindo em direcção ao local onde o ouro terá sido refundido. Pelo meio encontram uma caravana de mulheres de má fama, geridas por uma velha conhecida de Carter. Ressabiado, o velho acaba por bater as botas antes de consumar o acto! Sem saberem ao certo sobre o paradeiro do ouro, Trash e Paco continuam em direcção à fronteira Mexicana. O infortúnio dura pouco e acabam por mero acaso por ter conhecimento da localização do tesouro, que afinal foi escondido dentro da imagem de San Firmino! Mas um grupo de bandidos mexicanos comandados pelo velhaco Firmin Rojas (Fernando Sancho) também estão interessados na estatueta, que crêem poder proporcionar-lhes grandes milagres nas suas actividades criminosas. Imagine-se!


No meio desta trapalhada toda salva-se a interpretação do espanhol Fernando Sancho, muito divertido nas poucas linhas que lhe couberam. De resto, nem os cenários usados na rodagem abonam a favor do filme, que apesar de ter sido rodado por Espanha não contempla nenhuma das vistosas paisagens de Almería. Um filme bastante regular que apenas o mais sedento dos fãs do género se deverá atrever em perseguir.