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01/06/2024

Django spara per primo (1966 / Realizador: Alberto De Martino)


A desértica cidade de Silver Creek tem um novo visitante, um misterioso cavaleiro solitário cujas únicas posses parecem ser o seu cavalo, a sua arma e um cadáver que carrega. O nome do forasteiro é Glenn Garwin e o cadáver é do seu pai, um suposto fora-da-lei procurado na implacável cidade de Silver Creek.

Todavia, ao chegar à cidade descobre que o seu pai afinal não era criminoso nenhum, mas sim um empresário aldrabado pelo seu antigo sócio. Esta descoberta leva-o a ficar na cidade, vingar-lhe a morte e tentar reclamar a sua legítima herança.

Acasos da vida: Um caçador de prémios cruza-se com o filho do homem que acabara de mandar para os anjinhos.


E assim estava dado o mote para a primeira apropriação não oficial da personagem Django, uma temática que daria azo nos anos seguintes a dezenas de sequelas sem qualquer ligação ao filme originalmente lançado por Sergio Corbucci. 

Sem surpresas, o personagem interpretado por Glenn Saxon (nome artístico do holandês Roel Bos) tem muito pouco em comum com o lendário homem do caixão. A própria explicação dada para que lhe chamem Django é simplória: «É assim que sou conhecido no México».

Duelo estiloso com as paisagens de Almeria em pano de fundo. 


Glenn Saxon, actor holandês de sorriso maroto, aqui mais se compara aos habituais papeis de Giuliano Gemma do que o taciturno Django, popularizado por Franco Nero. E curiosamente há mesmo uma ligação entre este filme e o pistolero nazionale

Ao que parece a produtora Fida Cinematografica tinha entregue o então projecto de “Per pochi dollari ancora” (em Portugal: “Gringo Não Perdoa”) ao realizador Alberto de Martino, a estrela do filme seria o bello Giuliano. Mas este, desconhecendo ou desmerecendo as qualidades de Martino, forçou a entrega da cadeira de realização a alguém da sua confiança: Giorgio Ferroni! Com quem já trabalhara no fundamental “Um Dólar Furado”.

Não faltam beldades nesta pelicula. 


A produtora para não deixar o pobre Alberto na mão, e visto que ele até se tinha safado na colaboração anterior entre as duas partes, “100.000 Dólares por Ringo”, entregou-lhe então este “Django Atira Primeiro”.  Ficando a segunda unidade desses dois filmes da Fida ao comando do emergente Enzo G. Castellari. Ele que teria de remendar outro pseudo Django nesse mesmo ano, o frenético: “Poucos Dólares para Django”.

29/03/2024

Là dove non batte il sole (1974 / Realizador: Antonio Margheriti)


Em 1974 já o western-spaghetti estava nas ruas da amargura. A produção excessiva fatigara as audiências, a qualidade caíra a pique e as estrelas abandonavam a Itália ou migravam para outros géneros emergentes. As produtoras que insistiam em continuar a financiar westerns, optavam maioritariamente por aproveitar a boleia de Enzo Barboni, que entretanto havia atingido finalmente o sucesso comercial com os seus filmes da saga «Trinitá». 

Outras preferiram apostar em novas fórmulas, misturando histórias no velho oeste com outros géneros. Daí surgiriam filmes de crossover Oriente/Ocidente, que incluíam aspectos da cultura oriental nas suas tramas, apresentando personagens como samurais, lutadores de kung-fu ou de karaté.

Uma dupla improvável.

Antonio Margheriti, reconhecido pelos conhecedores do cinema de género italiano sobretudo pelos seus primeiros trabalhos no horror gótico (“Danza macabra”, “I lunghi capelli della morte”), foi um dos realizadores que apostou fichas neste novo filão. O seu crossover entre o cinema de acção de Hong Kong versus oeste selvagem, resultou com algum efeito, ainda que furos abaixo dos seus dois westerns anteriores (“E Dio disse a Caino” e “Joko invoca Dio... e muori”). 

Para a frente das câmaras Margheriti recuperou um dos actores mais reconhecidos do western europeu, Lee Van Cleef, por esta altura já bastante envelhecido e que aqui interpreta o assaltante azarado, Dakota. A ele junta-se uma das maiores estrelas do cinema de kung-fu, Lo Lieh, actor que na altura já era uma super-estrela na Ásia e que começava a ganhar tracção internacional com as ondas de choque provocadas pelo super-clássico da Shaw Bros: “Five Fingers of Death”

Lee Van Cleef tenta saber o segredo do punho de ferro.

Dakota mete-se num plano arriscado para apoderar-se da fortuna de um chinês chamado Wang. A sua tentativa de roubar o cofre de um banco com dinamite, fracassa quando Wang aparece inesperadamente e morre com o impacto da explosão. Para surpresa de Dakota, o cofre não contém dinheiro, mas sim quatro fotos das amantes de Wang. Dakota é então condenado à morte pelo assassinato, mas o seu destino sofre uma reviravolta inesperada quando o sobrinho do falecido Wang, que é enviado da China por ordem do imperador para recuperar a fortuna da família, intervém para o salvar da forca. 

Juntos, embarcam numa busca desvairada pelas quatro mulheres, cada uma com uma mensagem oculta no seu traseiro! Os dois, enfrentarão a perseguição de um sádico reverendo que se faz apresentar com uma igreja móvel puxada a cavalos, um lutador indígena e um gangue de bandidos mexicanos. 

Longe de ser a última Coca Cola do deserto, este “Onde o Sol Nunca Brilha” ainda consegue entreter com o seu bom humor e com as muitas boas cenas de acção. Mas Antonio Margheriti, não voltaria a tentar esta fórmula e no ano seguinte voltaria com uma nova ideia de um crossover, desta vez misturando o western-spaghetti com o blaxploitation: “Take a Hard Ride”. Aí o resultado roçou o medíocre e esse seria mesmo o último western que assinaria. 

O realizador prosseguiria depois a sua carreira com maior foco no cinema de acção de baixo orçamento, assinando alguns filmes que são ainda hoje clássicos dos tempos dos videoclubes: “Indio”, “The Last Hunter” ou “Tiger Joe”. No terror, aventurou-se num rip-off manhoso do clássico “Piranha”, que transformou no infame “Killer Fish”, mas mais aconselhável será a sua incursão no género zombie, com o filmaço “Cannibal Apocalypse”. Um autor com rendimento inconstante, mas que merece a pena descobrir. 

16/08/2022

Quei disperati che puzzano di sudore e di morte (1969 / Realizador: Julio Buchs)


Noticias do eminente parto de Rosa, fazem com que o soldado confederado John Warner deserte da sua unidade. Uma fuga que rapidamente termina, por azar ele bate de caras com outra unidade confederada em patrulha no deserto. Devolvido à procedência, decidem as patentes de serviço que em vez de o submeterem a tribunal militar, seja designado à desmoralizante tarefa do enterro de soldados inimigos em valas comuns.

As coisas não correm de feição ao soldado Warner e só tendem a piorar. Na vala encontra um soldado nordista moribundo, o pedido de auxílio que lança é rejeitado e recebe antes ordem para apertar o fagote ao desgraçado. Dá-se uma disputa com oficial ordenante e Warner acaba por matá-lo acidentalmente. Está tudo f*dido! Em pânico, ele e os companheiros designados às valas comuns chegam à conclusão de que não têm outra alternativa senão meter-se ao fresco, certos de que a hierarquia militar não lhes daria o benefício da dúvida.

Warner recusa matar um soldado moribundo.

Ao chegarem a Los Sadros a tragédia adensa-se. A cidade está assolada pela cólera e Rosa morreu no parto. O irrascível Don Pedro Sandoval, pai de Rosa, não está com mais nem boas e mete o recém-nascido nas mãos de Warner, dando-lhe guia de marcha. Mesmo sabendo que este não terá a menor condição para criar a criança. Barra pesada, estimado leitor. Isto não é filme para rapaziada sensível a dramas familiares e muito menos para espectadores dos filmes com final feliz da Fox Life. Pois então, Warner e companheiros partem de Los Sadros com a criança em braços. O estigma da cólera faz com que sejam escorraçados de qualquer sítio onde passem e sem surpresas o recém-nascido sucumbe. Um acto que destruiria qualquer pai. Warner fica destroçado e promete vingança a todos os que lhe negaram a ajuda num momento tão crucial.  

Ora como se percebe, este é um filme de estilo e motivações diferente do típico western-spaghetti. Inegavelmente é também o oposto daquilo que se conhece do restante reportório western de Julio Buchs. Recordando, em “O Homem que Matou Billy the Kid” Buchs enredou pelo uso de um personagem estabelecido no imaginário do típico consumidor de cinema western. E em “Mestizo” abordou típicas escaramuças entre índios e a Polícia Montada Canadiana. Tudo muito clássico e não particularmente interessante. 

Nenhum pai deveria ter que enterrar seu filho

Na verdade, a produção do filme nem sequer era para ser um western e isso pode ajudar a perceber o que fez parir um filme tão fatídico. Aponta Marco Giusti no seu “Dizionario del western all'italiana” que originalmente o filme deveria ser sobre “Los Siete Niños de Écija” 1, um grupo de bandoleros espanhois que nas invasões napoleónicas imprimiram actos de guerrilha sobre o invasor. Os distribuidores gringos não terão ficado entusiasmados e foi preciso repensar o filme como um western-spaghetti.

Apesar do título internacional – A Bullet for Sandoval – dar destaque à personagem de Ernest Borgnine, um actor oscarizado que interpretava qualquer papel com as pernas às costas, parece-me que é justo destacar aqui o trabalho do uruguaio George Hilton. Ele interpreta Warner, o soldado confederado que pelas trágicas circunstâncias da vida se vê transformado num bandolero sem escrúpulos. Um papel que fica a léguas dos habituais pistoleiros sorridentes que somou na sua carreira western e que não se limitaram aos filmes das franquias Aleluia e Tresette. 


Os cabeças de cartaz desta corrida de touros.

Que não hajam dúvidas, este é um espécime que o entusiasta do western-spaghetti não pode perder. Mas não é um filme isento de problemas, o maior será porventura a ténue ponte que é feita entre a primeira parte do filme, carregada de melodrama e a ponta final, uma vendetta tresloucada em que nenhum dos protagonistas parece ter razão que lhes justifique os actos. Mas tudo culmina com grande efeito, num embate numa praça de touros mexicana. Possivelmente uma ideia que Buchs terá sacado do “Pistoleiro Profissional”, filme de Sergio Corbucci lançara no ano anterior. E não, não é um plágio.

25/04/2022

El precio de un hombre (1966 / Realizador: Eugenio Martín)



Aquando do lançamento de “Os Oito Odiados”, o aclamado western nevado de Quentin Tarantino muito se escreveu sobre as obras que lhe serviram como influência. O titulo “O Grande Silêncio” surgiu naturalmente em todos esses artigos mas existem outros westerns-spaghetti que poderiam facilmente ser conectados com esse filme. Este “El precio de un hombre” seria um desses filmes. Tal como na fita de Tarantino uma diligência transporta uma pessoa algemada. Em ambos, a diligência faz uma paragem numa estalagem onde nem toda a gente é o que aparenta ser.

"I got an idea of something we can do with a gun"

É estranho que o filme não tenha ganho nova notoriedade ao sabor do sucesso de Tarantino, mais sabendo-se que até o próprio reconheceu ao Spaghetti Western Database que “El precio de un hombre” é um dos seus spaghettis favoritos. Então para o bem e para o mal, lembramos-vos nós que este filme existe e que se já dissecaram a filmografia western dos três Sergios, está mais do que na hora de adicionar este filmaço à vossa watchlist! Na modesta opinião do vosso escriba estamos mesmo aqui a falar do melhor western espanhol, a léguas das produções simplórias dos Balcazar.

A realização é de Eugenio Martín, que se estreava no género, e conta com a participação do nosso favorito: Tomas Milian. Um individuo ambíguo, perseguido pelas autoridades, mas que goza de grande simpatia no pequeno povoado em que cresceu. Em sentido inverso temos Luke Chilson (Richard Wyler), um caçador de recompensas que todos odeiam. Esse universo dos caçadores de recompensas popularizado pelas películas de Sergio Leone é justamente aquilo que move a trama desta fita e curiosamente a ligação entre o signore Leone e este “El precio de un hombre” pode ser mais do que uma coincidência.  

O nosso herói é torturado. Um lugar comum no western à europeia.

Ao que parece o produtor José Gutiérrez Maesso terá abordado Duccio Tessari para escrever o guião do filme, mas não chegaram a acordo uma vez que Tessari estava ocupado. Na época Tessari ainda fazia parelha com Leone e julga-se que lhe terá comentado essa ideia de um caçador de recompensas como protagonista. Leone não trabalharia em “El precio de un hombre” mas adaptaria a personagem de Clint Eastwood no segundo tomo da saga do “Homem sem nome”. Residirá aqui alguma verdade ou será apenas mais um dos muitos mitos que fazem deste género a delícia que é? Nunca saberemos! 

Milian interpreta José Gomez, um fora-da-lei que as autoridades se apressam a entregar nos calabouços de Fort Yuma. Um dos seus capangas passa a informação do roteiro da diligência a Eden (Halina Zalewska), amiga colorida de José que ainda o vê como uma espécie de herói local. A rapariga num acto de grande frieza faz chegar um colt a José que acaba por dar-lhe um uso mortífero. No entanto, o caçador de recompensas Luke Chilson (Wyler) está em seu encalço e chega ao lugarejo antes do fugitivo, para a ira dos habitantes da cidade, acérrimos defensores de José, que consideram ser um produto das duras circunstâncias que a vida lhe trouxe. Mas quando Gomez chega com o seu bando de desperados, os moradores começam a perceber que ele já não é o rapaz que conheciam. 

Neste filme quem rouba a cena é o vilão.

A fotografia de Enzo Barboni é um dos grandes destaques do filme. O italiano não desperdiça os magníficos exteriores da região de Almeria e nem se deixa atrapalhar nas cenas de interiores, que normalmente são aquilo que os cineastas do género mais mal trabalham. Barboni, vale a pena lembrar, notabilizar-se-ia anos mais tarde como realizador ao atingir o sucesso com os filmes da saga Trinitá. Mas antes disso assinou a fotografia de alguns dos melhores filmes do western-spaghetti. Trabalhou com mestres como Sergio Corbucci, com quem fez “Django”, “Os Cruéis”, etc. Outra parceria de grande efeito foi a que fez com Ferdinado Baldi, entregando-nos os não menos recomendáveis “Texas Adeus” e “Viva Django”

Em Portugal o filme apareceu com o título “Vingança ao Amanhecer” e salvo edição em VHS não existe formato físico para encontrá-lo. O meu contacto inicial com ele foi num DVD espanhol da Filmax, isto há uns quinze-vinte anos. Mas actualmente existem até blurays do dito. Na Europa tema a edição francesa da Artus e nas Américas foi lançado pela recém-finada Wild East. Também pode ser repescado no catálogo do Amazon Prime mas não sem usarem uma malandrice para camuflar a vossa origem. Infelizmente o catálogo desta plataforma parece não ser para os dentes do tuga.

05/09/2021

L'uomo della valle maledetta (1964 / Realizador: Siro Marcellini)


Muitas vezes por cá temos falado de westerns-spaghetti com sabor a western clássico. De todos os que assisti este foi provavelmente aquele que, não soubesse eu da sua origem, facilmente tomaria por uma produção gringa. Tal o ambiente! Há muitos factores que para isso contribuem, mas a razão principal atribuo-a à banda sonora, tirada a papel químico de um qualquer western B americano. Genuinamente americano é o protagonista da fita, o bonitão Ty Hardin. Actor que tal como Clint Eastwood, também voou para Itália depois de se dar a conhecer em terras do Tio Sam numa série de televisão de temática western. No caso de Hardin, a sua personagem Bronco Layne foi curiosamente transitando entre shows, primeiro em “Maverick”, “Cheyenne” e “Sugarfoot”, até firmar-se em solo no seu próprio título, em “Bronco”. 

Ty Hardin, o bom samaritano.

E por Itália ficaria durante muitos anos onde trabalhou sobretudo em, claro está, westerns. Infelizmente para ele nenhum deles de real nota, e por isso votados na esmagadora ao esquecimento.  A estreia deu-se precisamente com este “O Pistoleiro do Vale Maldito”. A trama do filme é tão simplória que dói. Consigo até imaginá-la numa versão encurtada como um episódio de uma série de TV, mas não funciona numa longa. Sobretudo com a erosão dos anos. 

Tudo começa numa tenda índia. Uma mulher branca está prestes a ser abusada por um trio de apaches (alguns mais branquelas que eu, é esse o nível da produção), nesse mesmo momento o marido irrompe por adentro do tipi e a porrada começa. A mulher dá à soleta durante a confusão, visivelmente abalada acaba por deslizar por uma ravina abaixo. Por sorte Johnny (Ty Hardin) está por perto e resgata-a. Mas no encalce seguirão ainda assim os apaches, esses desgraçados que a TV e cinema americano se encarregou de demonizar em anos e anos de produções westerns. Esta não é uma ameaça que o western-spaghetti nos habituou a incluir no menu, e quando o fizeram, os resultados foram quase sempre modestos.   

Os vilões mais insípidos que poderíamos ter. 

O desenvolvimento da acção lá segue com briguinhas entre índios e cowboys, num ritmo francamente sonolento, tendo ainda assim o mérito de abordar temas raciais num estilo muito “Romeu e Julieta”. De recordar que Gianni Puccini, deu também ele uma abordagem em modo western a esse clássico de Willian Shakespeare no espectacular “A fúria de Johnny Kidd”. Esse sim, um filmaço que aguentou bem ao longo dos anos. Já este aqui, remanesce como uma curiosidade para fãs mais completistas do género. 

Ty Hardin ficaria mais 8 anos por Itália, participando igualmente em 8 filmes do género. Em nenhum desses trabalhou com nenhum dos grandes realizadores que por lá gravitavam, e talvez por isso nunca tenha firmado um grande sucesso. Tendo estado porém ás ordens de Sergio Corbucci numa ocasião, mas aí numa produção euro-spy chamada “Bersaglio mobile” que em Portugal veio catalogado como “Homens Desesperados”.

Silêncio que se vai cantar o fado.

Uma curiosidade sobre essa fita, antes de vos deixar ir embora. Se viram o mais recente filme de Quentin Tarantino, “Era Uma Vez em... Hollywood”, provavelmente saberão que ele aborda a vida destes astros da TV americana que nos sessentas tiveram que fazer as malas e partir para Itália. Nesse filme, a personagem Rick Dalton - estrela da série de TV “Bounty Law”- recebe uma proposta de um tal de Sergio Corbucci, «o segundo melhor realizador italiano». 

Tarantino reconta-nos obviamente a história de Burt Reynolds que foi fazer “Navajo Joe” com Corbucci, mas poderia facilmente aplicar-se o mesmo a Clint Eastwood ou a este Ty Hardin. Tal é, que nas cenas seguintes foram inclusive inseridas frames do já citado, “Bersaglio mobile”, numa sequência de perseguição automóvel habilmente cortada e colada entre as novas filmagens com o Leonardo DiCaprio. 

Podem falar mal do tio Tarantino à vontade, mas uma coisa é certa, se não fosse ele, muitos destes filmes de género e pessoal que neles gravitou, estariam votados ao mais profundo esquecimento. Portanto, honra a quem as merece e esquece lá a aposentadoria.


Poster original italiano de “Bersaglio mobile”.



Poster falso para o filme fictício “Operazione Dyno-O-Mite!”.


15/08/2021

L'uomo che viene da Canyon City (1965 / Realizador: Alfonso Balcázar)



Algures no meio do deserto, Rayo e Carrancho caminham acorrentados sob forte guarda prisional. Num piscar de olhos aproveitam um descuido dos guardas e mandam-se por uma ravina abaixo. A perseguição sucede-se imediatamente, mas no jogo do gato e do rato, os dois foras-da-lei levam a melhor e escapam sem mazelas. Sem hipótese de se libertarem das correntes não lhes resta outra hipótese que não seja entrar em acordo sob qual o rumo a seguir. Acordo feito, lá seguem caminho, mas quase imediatamente os dois dão de caras com uma tentativa de assalto a uma diligência. Sem nunca se porem a descoberto, escutam uma informação empolgante: A localização de um pagamento de 70 mil dólares, destinados às minas de prata. O portador da maquia é um tipo texano astuto, que não só repudia o ataque à diligência como também escapa à tentativa de roubo encetada entretanto pelos dois meliantes. 

Rayo (esquerda) e Carrancho (direita), unidos pelos elos de uma corrente.

Todavia estamos na presença de patifes trabalhadores! Pois bem, ao aperceberem-se que o dinheiro tem como destino o rancho de um tal de Morgan (Robert Woods), encontram forma de serem por ele contratados. Rayo, faz-se valer da agiliza no gatilho e é naturalmente contratado como capanga. Já Carrancho alista-se como cozinheiro, uma profissão adequada para o gorducho. O intuito de ambos é fazerem-se passar despercebidos e localizar o local exacto onde o dinheiro mora, e só então executar o golpe. Melhor, golpes, que por esta hora já é cada um por si! Os planos individuais parecem ter pernas para andar, mas o que nenhum deles  esperava certamente era bater de caras com um esquema de escravatura engendrado pelo deplorável Morgan. Tornando-se ambos improváveis defensores dos peones

Carrancho: Simpático, larápio, trapaceiro e agora salvador dos fracos e oprimidos!

“L'uomo che viene da Canyon City” é o segundo filme do contrato de Robert Woods para o clã Balcázar, e neste capítulo ao contrário do que seria regra nos seus westerns seguintes, desempenharia o papel do antagonista. A sua personagem é um tipo sem escrúpulos que não só se entretém a explorar a mão-de-obra mexicana usada na extração do minério, como ainda congemina esquemas para arrebatar o dinheiro dos pagamentos do governo que legitimamente lhe haveria de vir parar. Forçando assim o duplo pagamento. E no elenco temos também o impecável Luis Dávila, no papel de Rayo. Para os mais distraídos será uma cara nova, mas o actor argentino foi um habitué nos westerns espanhóis mais madrugadores e como tal, parceiro habitual nos filmes dos Balcázar (L'uomo dalla pistola d'oro, Dinamite Jim).

Todos se acagaçam na hora de saltar para dentro dos carris.

O filme tresanda a western paella e até mesmo o título espanhol – Viva Carrancho – é o que me parece mais apropriado. Um título que não deixa margem para dúvidas, a personagem que rouba a tela é a de Fernando Sancho, que genuinamente saca umas valentes gargalhadas ao espectador menos sisudo. Curiosamente, ele e Robert Woods contracenaram nesse mesmo ano em “Los Pistoleros de Arizona”, onde Sancho interpreta igualmente uma personagem chamada Carrancho. Além do nome existem poucas singularidades entre ambas as personagens, podendo e devendo, encarar os filmes como dissociados. Resumindo e baralhando, se procuram um grande western para preencher os vossos corações, sigam caminho. Ainda assim, como é boa regra nos filmes de Alfonso Balcázar, o entretenimento está minimamente garantido. A fotografia é cuidada e a acção é literalmente explosiva! É arriscar e não piar!

25/07/2021

La bataille de San Sebastian (1968 / Realizador: Henri Verneuil)


Estamos em 1746, México. Leon Alastray, um rebelde sem causa irrompe adentro de uma igreja à procura de refúgio. Atrás dele seguem uma catrefada de soldados espanhóis desejosos de lhe afinfar o pêlo. O padre Joseph, clérigo em funções no local dá-lhe guarida e recusa-se liminarmente em entregar a custódia do homem. Sem tardar e como paga, o seu superior manda-o ir pregar lá para a terra onde o diabo perdeu as botas. Numa aldeia chamada San Sebastian. Sem nunca perder a cara e a crença, o velho padre aceita a decisão e faz-se ao caminho, mas não sem levar o rebelde oculto sobre a sua carroça. 

Este Uber não é nada confortável, vai levar uma avaliação negativa!

Nos dias seguintes os dois homens enfrentam os desafios do deserto e a chegada ao destino não é de todo certa. No entanto, mesmo em extrema dificuldade lá conseguem atingi-lo. Acontece que mal chegam ao lugarejo, são imediatamente emboscados pelos homens de Teclo (Charles Bronson), um mestiço que mantém a população sobre um clima de temor constante. No breve conflito que se dá nesse momento, o padre acaba fatalmente ferido e o rebelde é confundido pelos aldeões como homem de Deus, tornando-se assim, por mero acaso, no novo padre de San Sebastian.

Anthony Quinn, actor de mão cheia com créditos tanto em grandes produções, como em menores veículos de acção, é evidentemente o rebelde de que falo. E meus amigos: ele rouba claramente o show com a sua personagem! O engraçado é que não tinha de ser assim. É que como antagonista principal temos outro astro em ascensão na época: Charles Bronson! Mas infelizmente, mesmo que a personagem de Bronson tenha um papel relevante no desenrolar da trama, nunca chega a ser devidamente dissecado… O que representa um perfeito desperdício de talento! Isto afecta a qualidade intrínseca do filme, na minha opinião.  

Leon escapa aos soldados mas não a Teclo.

Há quem defenda que este filme não entra no saco dos westerns-spaghettis, mas tecnicamente faz sentido considerá-lo. A saber: a produção é de facto europeia. Neste caso partilhada entre franceses e italianos e até somos brindados com uma banda sonora do maestro Ennio Morricone! De resto, pouco paralelo existe entre ele e o estilo do “nosso” western, devendo muito mais ao western tradicional americano. E que não haja dúvidas: o filme é extremamente deficitário no que respeita a pistoleiros e duelos. Em vez disso temos uma trama que em certos momentos mais parece um filme de aventuras ou uma variação de “Os Sete Magníficos” e do seu antecessor, “Os Sete Samurais”, dado que também aqui os aldeões são ensinados a defender os seus pertences por um profissional. O opressor adaptou-se para um bando de índios yaquis esfomeados. Et voilá!

Quer Anthony Quinn, quer Charles Bronson haveriam de continuar a fazer perninhas entre Hollywood e Europa. Quinn ainda protagonizaria mais um western-spaghetti, “Los Amigos”, em que contracena com o astro italiano Franco Nero, mas o filme não é lá grande espingarda. Nesta passagem pelo velho continente, quem teria o maior impacto seria o tio Bronson, a quem lhe sairia um verdadeiro jackpot, ao elencar pouco tempo depois naquele que muitos consideram o pináculo do western-spaghetti (e do western no geral), “Aconteceu no Oeste”.

Leon engendra um esquema para obter armas para a resistência de San Sebastian.

Ora vá-se lá saber como, “Os canhões de San Sebastian”, está editado no mercado Português (trata-se de uma edição ibérica na verdade), lançada pela Cine Digital no já longínquo ano de 2009. A edição vem munida de áudio francês e espanhol, com legendas opcionais em português. A qualidade de imagem é fraquinha e não a recomendaria a menos que tivesse num daqueles cestos do Jumbo a 1€. Curiosamente agora que peguei na caixa, reparei que o selo do IGAC da minha cópia indica ser a Nº1. Olha a minha sorte! 

Tal como o último filme resenhado aqui no blog, este também passou no mais recente ciclo western da Fox Movies Portugal. A versão transmitida não é muito melhor do que a da Cine Digital, diferindo sobretudo no idioma apresentado, desta em inglês com legendas em português. Mas se são defensores do formato físico, então saibam que ainda há dias atrás foi lançada pela mão da Warner Brothers Archive Collection, uma versão bonitinha em glorioso HD. 

13/06/2021

Odio per odio (1967 / Realizador: Domenico Paolella)

 

Os fãs de coboiadas têm sido brindados pela Fox Movies Portugal com uma programação farta. O recente mês de Maio então, foi um non-stop de westerns, com a balança pender  largamente para a variante italiana. Por entre clássicos e outros títulos já batidos na programação, desta vez surgiram também algumas novidades de maior interesse. A mim despertou-me especial curiosidade este “Odio per Odio”. O filme não consta na cada vez mais longa lista de westerns-spaghetti com edição Blu-ray. Na verdade, à data que escrevo este texto existe apenas uma edição brasileira cortada e com proporções incorrectas e um DVD-R on demand da Warner Brothers Archive Collection. Nem mesmo no Videoclube do Sr. Joaquim se encontra o dito sem ter que escarafunchar. 

“Ódio por Ódio” é o primeiro western dirigido por Domenico Paolella, realizador já veterano por essa altura e que colecionava alguns sucessos, sobretudo em comédias e filmes peplum. Ora, em 1967 esse filão tinha os dias contados e naturalmente também ele transitou para os westerns. Aí chegado e rodeando-se de alguns dos suspeitos do costume – Mario Amendola, Bruno Corbucci, Fernando Di Leo – coescreveu este “Ódio por Ódio”, título comum em Portugal e Brasil. Tanta carola junta é normalmente sinal de que o argumento saiu a ferros, mas o resultado, não sendo fantástico, consegue ser suficientemente interessante para manter o espectador desperto na totalidade da sua duração. 

Miguel prepara a emboscada.

Cooper, interpretação do Canadiano John Ireland, é um velho assaltante de bancos procurado pela lei. Certo dia ele e um compincha de ocasião esvaziam mais um banco. O plano era entrar e sair com o dinheiro sem desferir qualquer tiro, mas o seu parceiro que é mau como as cobras resolve eliminar todos os funcionários à facada. Só porque sim. Entretanto, Miguel (Antonio Sabàto), um maltrapilho mexicano fica barrado à porta. O desgraçado só queria fazer o levantamento das suas poupanças e seguir caminho, mas escolheu o momento errado. Ao aperceber-se do que estava a acontecer, resolve seguir os bandidos interceptando a carroça já em pleno deserto. Na sua rectidão, Miguel apenas exige restituição do que lhe é devido, mas por azar alguém à distância observa a transação, denunciando ambos às autoridades. 

Os dois são rapidamente presos e julgados, mas as suas sortes serão muito diferentes. Cooper vai parar a um campo de trabalhos forçados onde acaba por contrair malária. Já Miguel, consegue uma benesse e acaba por ser libertado depois de um tipo chamado Coyote subornar o Juiz. Ficando por isso em dívida para com ele. Enquanto isso, Cooper apodrece na carcere, mas jamais revela o paradeiro de dinheiro roubado e o seu antigo sócio não está com meias medidas raptando-lhe a filha. Certa noite ele e os seus capangas infiltram-se nas instalações por forma a resolver a coisa de uma vez por todas! Mas o velho matreiro consegue escapar miraculosamente, qual Mandrake. Já cá fora, com a ajuda de Miguel, confronta os bandidos. E mais não conto.

Este é Cooper, um bom malandro.

Este era o único western-spaghetti protagonizado por Antonio Sabàto que ainda me faltava riscar da lista, e que bela surpresa foi! O seu personagem, é um tipo pacato estigmatizado pelos gringos e pares, uns por motivos raciais e outros pela sua ambição. Ele só quer largar a vida de prospector de ouro e rumar a Nova Iorque e dedicar-se ás artes. Poderia ser apenas uma sugestão de construção de personagem, mas certo dia quando os capangas lhe atacam a casa, ele faz uso dessas valências montando um complexo esquema de articulações que lhe permite embutir chumbo em todas as direcções, iludindo os patifes, que julgavam estar a duelar-se com um largo número de oponentes. É um dos momentos mais divertidos do filme! John Ireland entrega também uma credível prestação, um grande ator que não gozou de enorme popularidade, mas que muito honrou o género com a sua presença. A ligação entre os dois personagens ainda que não envolta de grande sofisticação funciona perfeitamente. 

O que me parece que funcionou menos bem foi o desenlace final. Tem contornos de revolução à moda dos zapata-westerns, mas que julgo deveria ter sido um pouco mais dramatizada. Em vez disso, Paolella optou pelo confronto entre facções com uma verdadeira chuva de fogo, na minha opinião demasiado extensa e não coincidente com o ritmo do filme. Paolella faria logo de seguida um outro western, As Duas Pistolas de Bill, um filme menos convencional, mas que também recomendo aos fanáticos das coboiadas italianas. Recordar que Antonio Sabàto faleceu já este ano vítima de Covid-19. Ele foi um actor que deixou pegada no género, com uma porção considerável de títulos dos quais se destaca o popular “À Margem da Lei”, onde contracenou com Lee Van Cleef e o então barbeado Bud Spencer. O seu primeiro papel de relevo foi no clássico de corridas de John Frankenheimer “Grande Prémio” em 1966. 

  Tomaram este mexicano por parvo. Agora levam o bucho cheio de chumbo!

Nas décadas seguintes foi astro em dezenas de filmes série-B, desde giallo, policiais, pós-apocalípticos, guerra, etc. Deixou ainda neste mundo o Antonio Sabàto Jr. que também seguiu as pisadas do pai, estabelecendo-se nos Estados Unidos como actor e modelo. Daria um tiro no pé ao apoiar publicamente a eleição de Donald Trump nas presidenciais de 2016, um dos primeiros actores ilustres a fazê-lo, o que lhe valeu um cartão vermelho das elites de Hollywood. 

01/06/2021

Die Hölle von Manitoba (1965 / Realizador: Sheldon Reynolds)

Como aludido num artigo relativamente recente, ando com ganas de descobrir um pouco melhor o western alemão que é para mim um terreno ainda muito pantanoso e que sempre olhei com desdém. O filmezinho escolhido para essa mais recente sessão foi este “Die Hölle von Manitoba”, mas que foi lançado em Portugal como “Um Lugar Chamado Pólvora, titulo que para variar faz maior justiça que a maioria das alternativas usadas por esse mundo fora. 

O elenco do filme conta com dois nomes bem conhecidos dessa facção de produções teutónicas: O norte-americano Lex Barker e o francês Pierre Brice. A dupla que ficou famosa em terras germânicas (e não só) pela participação na longuíssima saga Winnetou. Em comum com esses filmes apenas o passo lento. Já as habituais escaramuças entre índios e cowboys, nada! Também aquela fotografia lindíssima desses filmes, kaput! 


Lex Barker, sempre impecavelmente apresentado. Consta que não gostava de usar chapéu!

Na verdade, ao contrário da generalidade dos westerns alemães, as filmagens deste “Um Lugar Chamado Pólvora” foram realizadas nos estúdios Balcazar (Barcelona, Espanha) que geralmente conferem menos possibilidades aos cinematógrafos. E neste caso as filmagens em exteriores contam-se mesmo pelos dedos, o que é uma perfeita desilusão e dá um certo toque low budget ao filme. 

Além dos dois mencionados pesos-pesados, o filme conta ainda com uma boa porção de carantonhas do costume, muitas delas reconhecidas do grande público graças ao conhecidíssimo “Por Um Punhado de Dólares” de Sergio Leone, lançado apenas um ano antes. E não são só os feiosos que daí derivam, o paralelo estende-se mesmo até à estrela feminina, Marianne Koch. A Marisol do supramencionado, para referência dos mais esquecidos.


Estes malandros vieram ao restaurante, mas só já estão a servir chumbo quente.

Clint Brenner (Lex Barker) e Reese (Pierre Brice), dois pistoleiros de aspecto simpático e sempre impecavelmente penteados e barbeados, cruzam caminhos nos arredores de Powder City, onde acabam por passar tempo suficiente para cimentar uma breve amizade. Nessa cidade, para não variar, existe uma rixa em curso entre um sacana ultra ganancioso e um dos rancheiros locais. Os dois pistoleiros acabam por dar uma mãozinha a este último e nem precisam de fazer muito esforço dada a fraca astucia dos capangas. Aliás, o desenvolvimento da vilanagem é francamente fraco em todo o filme. O que faz grande mossa nas contas finais. 

Depois de resolvida a situação entre os meliantes e os nossos heróis de ocasião, os dois pistoleiros lá seguem para novo destino, Glory City. Aí os manda-chuvas locais organizaram um duelo com hora marcada, para alegrar as hostes nas festas locais. Uma espécie de equivalência com as largadas de touros aqui nas Festas do Barrete Verde da minha terra adoptiva. Estranhamente os dois homens são justamente as estrelas alinhadas para esse duelo, algo que só descobrem nesse derradeiro momento. 

A grande cena de acção está prestes a começar.

Ora, esta parte final da acção cria uma espécie de anti-climax, demasiado mau para ser verdade! Tornando, na opinião deste escriba, um filme que até aí era simpático, numa profunda perca de tempo. Lá fora o filme é geralmente conhecido como “Um lugar chamado Glory” ou “Desafio em Glory City”, mas o título em Portugal é o mais feliz, pois para mim a coisa resolvia-se logo pós embate na tal Powder City (lá está, a cidade chamada Pólvora), onde se passa a maior parte da acção, e mandava os últimos 15 minutos para as urtigas!

Vamos mas é dar uma vista de olhos neste belos posters italianos para alguns dos filmes com Lex Barker no papel de Tarzan. Estes filmes passavam frequentemente ao fim-de-semana de manhã na RTP2 e por serem tão pequenos grava-os no excedente de fita das VHS!

Tarzan e a Fonte Mágica (1949)

Tarzan, Fúria Selvagem (1952)

Tarzan e a Mulher Diabo (1953)


09/05/2021

El más fabuloso golpe del Far-West (1971 / Realizador: José Antonio de la Loma)



O banco de Sun Valley, enterrado entre as montanhas do Nevada, tem a reputação de ser inexpugnável. Tal fama levou a que o cofre merecesse a especial confiança da indústria mineira que lhe deposita elevadas somas de ouro, mas um bando de trafulhas liderados por um fulano apelidado de Michigan engendra um plano para dar sumiço ao lote. O plano é tremendamente intricado e como exalta várias vezes o cabecilha aos seus acólitos: deve ser executado ao segundo. E de facto, mesmo com alguns percalços, realizam o golpe com sucesso. O pior vai ser movimentar a carga pesadíssima por entre as montanhas nevadas.


Frank Braña trata de escavar o túnel.

Depois do golpe, os membros do bando seguem diferentes trilhos, o ponto de encontro entre todos está acertado, mas o relógio suíço do aprumadíssimo Michigan começa a atrasar quando os comparsas que ficaram com o encargo de levar a carroça com o ouro roubado tardam a aparecer no esconderijo da vilanagem. Os dois homens serão mais tarde encontrados cadáveres, a carroça feita num oito e o ouro, nem vê-lo. Os sinais parecem claros, os dois foram assassinados por alguém com conhecimento do plano, ou seja, alguém do grupo ficou ganancioso. Estão lançadas as bases para a desconfiança e paranoia entre o grupo. 


Spaghetti nevado, filme abençoado!

José Antonio de la Loma, um dos argumentistas mais activos do western europeu (Pistoleros de Arizona, Tierra de fuego, Clint el solitário, Professionisti per un massacro, etc), desta vez assume também a realização, outorgando um filme inesperadamente vistoso e com um tom bastante distinto da generalidade das produções do género desta fase pós-Trinitá. A produção é compartida entre espanhóis, franceses e italianos, mas nota-se uma preponderância castelhana no elenco e estilo do filme. Esse elenco, diga-se, é de austeridade, não tendo havido provavelmente verba para um nome sonante para a liderança. Sobe então à tona o talento do omnipresente Fernando Sancho.


Não vales um chavo meu javardo!

Apesar de não ombrear com outros westerns-spaghettis-nevados de maior reputação (Il grande silenzio, Condenados a vivir), é seguramente um filme que mereceria maior culto. Desgraçadamente, o filme andava meio perdido e até bem recentemente só se conseguia assistir através de transferências manhosas de velhinhas cassetes VHS. Para sorte dos garimpeiros do género, circula agora por aí uma versão ripada da televisão espanhola com qualidade de imagem irrepreensível. Então, quem sabe não seja esta a hora da sua redenção! Essa dita versão encontra-se em sítios mal frequentados e à falta de edições físicas nas lojas desse mundo fora, ninguém vos poderá chamar de piratas se lá o forem buscar. Arg, arg, arg!

25/04/2021

Vamos a matar Sartana (1971 / Realizador: Mario Pinzauti, George Martin)


Greg: «Eu sou filho do Demónio! Ele não se esquece do seu filho predileto!»
Nebraska: «Mas vais ser enforcado. E nem sequer o teu pai, o Demónio, te salvará!»

“Fiat lux. Et facta est lux.”

O western-spaghetti mais misterioso, mais escondido e mais difícil de encontrar viu, finalmente, a luz do dia! Não se sabe em que caixão, sarcófago ou tumba este filme esteve conservado mas ele aí está! Não queremos saber do cheirete a mofo e a naftalina; ei-lo perante nós! As dúvidas eram tantas que, durante alguns anos, até havia boatos na Internet que diziam que o filme nem sequer tinha sido concluído e, consequentemente, não existia. Mas, se não existia, então porque é que o trailer do filme sempre esteve (e continua a estar) disponível no YouTube? O trailer de um filme que não existe? Mas isso faz algum sentido? Olhe que não! Olhe que não!


A inconfundível focinheira de Gordon Mitchell.

Essas teorias eram, à partida, muito duvidosas. As fontes mais credíveis nunca mencionaram essas supostas teorias da conspiração que sustentavam que este filme não passava de um “filme-fantasma”. Nada disso! Aliás, Marco Giusti escreveu no seu “tijolo” (atenção: o plural de “tijolo” não é “tijóis”), sempre fundamentado em depoimentos e entrevistas de algumas pessoas que participaram no filme, que “Vamos a Matar Sartana” não era uma produção tão minúscula como à partida se pensava. Era uma produção bem organizada, profissional e, aparentemente, com folga orçamental. Mas a porra disto tudo foi quando o produtor Marco Claudio deixou de pagar os salários e o resto do pessoal ficou com as calças na mão! Consta que foi o ator George Martin, o protagonista do filme, que pagou o resto da empreitada do seu próprio bolso. O filme foi concluído e… misteriosamente desapareceu!

Meio século depois (sim, foram exatamente 50 anos!), o filme reergueu-se do mundo dos mortos! No dia 11 de abril de 2021, uma alma caridosa publicou no YouTube o filme completo (versão espanhola intitulada “Demasiados Muertos para Tex”). Trata-se de uma cópia com qualidade de imagem sofrível mas, após tantos anos sem nada, que ninguém se atreva a chiar! É para ver, rever e não bufar! Nebraska Tex (Nebraska Clay, na versão original) é um tipo com tendência para se meter em sarilhos. Na primeira vez, o juiz foi indulgente e mandou-o embora. Na segunda vez, Tex já não teve tanta sorte e foi parar ao xadrez porque matou uns rufiões (em legítima defesa). O xerife, apesar de ser o seu futuro cunhado, não o grama nem com molho de tomate.


Louco e Nebraska no hotel da barra cinzenta.

No cárcere, Nebraska Tex conhece um alucinado chamado Greg, o Louco (Gordon Mitchell). Dois cúmplices de Greg, Chet (Isarco Ravaioli) e a lindíssima Lena (Virginia Rodin) mandam uma mocada na pinha do xerife e libertam os prisioneiros. Um terceiro cúmplice, Pancho, o Gordo (Chris Huerta), aguarda por eles. Agora, o objetivo deste quinteto (Tex, Louco, Lena, Chet e Gordo) é muito simples: encontrar o tesouro escondido nas ruínas da igreja de Santa Virgínia. Perante tamanha humilhação, o xerife (Frank Braña) não se fica e vai-se a eles como gato a bofe!

O grupo tem uma longa viagem pela frente mas Tex conhece bem o caminho. A caça ao tesouro leva-os a atravessar montanhas, vales, florestas, rios, riachos e cascatas. Mas isto não é uma alegre excursão! Gordo leva um balázio nas banhas e morre. Louco cai (ou é empurrado?) de um penhasco, parte os cornos e morre. Chet e Tex andam à bordoada a ver qual deles é que aguenta levar mais papos-secos no focinho. Tex e Lena levam o caminho todo a “fazer olhinhos” um ao outro (ou como diriam umas pessoas que eu cá sei, “fazer pisquinhos” um ao outro). Terá o casal de pombinhos algum truque na manga?


Mas que grande cagaço que apanhei!

O desfecho desta aventura dar-se-á nos subterrâneos da igreja abandonada e nas mortais areias movediças de um pântano. Eu diverti-me imenso a ver este filme. É série B da cabeça aos pés e está claramente na linha dos míticos Tanio Boccia e Demofilo Fidani. “Vamos a Matar Sartana” representava o expoente máximo de western-spaghetti desaparecido, que ninguém sabia por onde andava, que estava praticamente esquecido, que nunca ia ver a luz do dia e que estava condenado a apodrecer num buraco qualquer. Ou seja, estava morto e enterrado.

Mas não! Afinal não estava morto. Ainda veio a tempo de estrebuchar, espernear, dar coices e gritar ao universo spaghetti a sua presença! Tudo isto faz lembrar a história do coveiro e do (suposto) morto. Após as cerimónias fúnebres, o coveiro começa a lançar umas pazadas de terra para a cova e eis que acontece isto:

Morto: «Alto lá, amigo! Então não vê que eu ainda estou vivo?»
Coveiro: «Vivo?! Tu estás é mal enterrado, homem!»


10/04/2021

O' Cangaceiro (1969 / Realizador: Giovanni Fago)


Nosso querido spaghetti westerns sempre soube experimentar novos horizontes. Seja na ‘politização’ dos chamados zapata westerns, que também transferia o tempo espaço, da região fronteiriça entre Texas e México, em meados da segunda metade do século XIX, para o coração da revolução Mexicana na virada para o século XX, vide filmes como “Quién Sabe?” ou “Tepepa”. Seja no humor cartunesco da dupla Terence Hill e Bud Spencer. O fato é que o faroeste italiano sempre procurou renovar, e “O’ Cangaceiro”, se não criou escola, pelo menos é um dos exemplares mais curiosos. Filmado no Brasil, trocando o western norte-americano pelo nordeste brasileiro, pistoleiros por cangaceiros. 

Cangaço, para quem não está familiarizado, foi um fenômeno social que ocorreu nas regiões áridas do nordeste brasileiro, entre o século XVIII e meados do século XX. Os cangaceiros eram bandos de bandidos nômades, que atravessam a região, saqueando cidades e enfrentando autoridades. Há quem veja nos cangaceiros uma espécie de resposta da miséria dos camponeses ao descaso do Estado. O cangaceiro mais famoso de todos foi Virgulino Ferreira, o Lampião.



Filmado na região da Bahia e Pernambuco, “O’ Cangaceiro” (essa apóstrofe no “O” colocado pelos italianos, é algo completamente alienígena a língua portuguesa, mas deixamos assim não pode ser confundido como “O Cangaceiro” (desta vez com grafia correta), clássico do cinema brasileiro de 1953, dirigido por Lima Barreto, uma obra grandiosa, com influências dos westerns de Ford e Hawks, até o cinema de Serguei Eisenstein, e que inaugurou um filão de filmes de cangaço, que no Brasil ficou conhecido como ‘nordestern’, filmes que são inseridos também nos chamados “feijoadas western”, faroestes filmados no Brasil. Mas voltamos ao spaghetti de 1969. 

Esta co-produção entre Itália e Espanha abre com a música “Mulher Rendeira”, clássica do cancioneiro nordestino, cuja autoria da letra é atribuída a Lampião. O filme começa com soldados indo matar cangaceiros, infringindo um massacre indiscriminado na região, incluindo homens inocentes, mulheres e a vaca do pobre camponês Espedito (nosso querido careteiro Tomas Milian), que sobrevive a matança e cai nas mãos de um velho eremita, com ares de Antônio Conselheiro (o mais famoso lunático religioso do sertão), reparem na jovem moça que anda com o velho, pequena participação da Baby Consuelo, que mais tarde se tornaria uma famosa cantora no Brasil. 


Depois Espedito passa também a sair por aí pregando, como um místico louco pelo deserto brasileiro, aliás, uma figura marcante no imaginário latino-americano, que nos remete ao São Sebastião de “Deus e o Diabo na terra do Sol” de Glauber Rocha (personagem que inspirou o de Klaus Kinski no supracitado “Quién Sabe?”), seja no “Simão do deserto” de Buñuel, ou nas figuras errantes de Jodorowski em “El Topo” e “Holy Mountain”O fato que a fase de ‘pregador’ de Espedito não dura muito, o pobre coitado é preso durante um festejo do exército a uma figura do clero. Na cadeia libera uma rebelião e assim acaba se tornando ele próprio um cangaceiro. 

Entra em cena o holandês Vincenzo Helfen (Ugo Pagliai), que trava conhecimento de expedito numa cena bem curiosa. Na verdade o holandês trabalha para uma companhia de petróleo, e junto com o Governador do Estado (o meu vilão favorito dos spaghetti westerns, Eduardo Fajardo), monta um plano mirabolante para limpar a fictícia região de Águas Brancas, que é tão infestada de petróleo quanto de cangaceiros, eles aliciam Espedito a acabar com grupos rivais, em troca lhe dão anistia pelos crimes e uma bela fazenda. Para selar o acordo segue uma interessante cena de um jantar na casa do governador, onde se contrasta a ‘civilidade’ dos brancos ricos presentes, com a selvageria dos brutos cangaceiros. 


Segue com Espedito matando impiedosamente seus rivais, mas no fim acaba sendo atraiçoado pelo Governador (esperado, afinal, não se pode confiar em Eduardo Fajardo!), que manda gangstêrs ítalo-americanos, munidos com suas machine guns, para darem cabo nos cangaceiros (o surrealismo aqui não tem limites). Porém, o embate final será entre Espedito e o Governador. 

“O’ Cangaceiro”, que no Brasil foi rebatizado como “Rebelião dos brutos’, e nos EUA como “Viva Cangaceiro”, é um filme curioso, não só pelo fator geográfico, único no cinema feito no país da bota, mas por certos elementos, como a relação ambígua entre Espedito e o Holandês, que me remeteu a fórmula dos Zapata western, onde um nativo, ingênuo e bruto, cai nas lorotas do europeu educado (vide “Quien Sabe?”, “Il Mercenario”, “Vamos a Matar, Compañeros”, “Giu là Testa”, e por aí vai).


Giovanni Fago, em seu terceiro filme como diretor, e primeiro como roteirista, conduz o filme com segurança, a trilha de Riz Ortolani é carregada de influências da música brasileira, isto quando não desbanca para um samba puro ou resgata canções locais, como o caso de “Mulher Rendeira”, a fotografia de Alejandro Ulloa explora bem os cenários desolados da caatinga brasileira.

Embora eu more no outro lado do país, fiquei sabendo, há pouco tempo, que o falecido pai de um conhecido meu, que andou pelo nordeste no final dos anos 60, chegou a fazer figuração neste filme. Pena que descobri isto tarde demais. No fim das contas, “O’ Cangaceiro” transcende o mero fator de curiosidade e é um bom spaghetti western, ainda que atípico. 

Resenha pela pena do Paulo Blob, só um brasileiro poderia escrever com propriedade sobre o tema do cangaço. O Paulo é um companheiro de longa data, é adepto do mais variado cardápio cinéfilo, incluindo o nosso western-spaghetti.