29/03/2024

Là dove non batte il sole (1974 / Realizador: Antonio Margheriti)


Em 1974 já o western-spaghetti estava nas ruas da amargura. A produção excessiva fatigara as audiências, a qualidade caíra a pique e as estrelas abandonavam a Itália ou migravam para outros géneros emergentes. As produtoras que insistiam em continuar a financiar westerns, optavam maioritariamente por aproveitar a boleia de Enzo Barboni, que entretanto havia atingido finalmente o sucesso comercial com os seus filmes da saga «Trinitá». 

Outras preferiram apostar em novas fórmulas, misturando histórias no velho oeste com outros géneros. Daí surgiriam filmes de crossover Oriente/Ocidente, que incluíam aspectos da cultura oriental nas suas tramas, apresentando personagens como samurais, lutadores de kung-fu ou de karaté.

Uma dupla improvável.

Antonio Margheriti, reconhecido pelos conhecedores do cinema de género italiano sobretudo pelos seus primeiros trabalhos no horror gótico (“Danza macabra”, “I lunghi capelli della morte”), foi um dos realizadores que apostou fichas neste novo filão. O seu crossover entre o cinema de acção de Hong Kong versus oeste selvagem, resultou com algum efeito, ainda que furos abaixo dos seus dois westerns anteriores (“E Dio disse a Caino” e “Joko invoca Dio... e muori”). 

Para a frente das câmaras Margheriti recuperou um dos actores mais reconhecidos do western europeu, Lee Van Cleef, por esta altura já bastante envelhecido e que aqui interpreta o assaltante azarado, Dakota. A ele junta-se uma das maiores estrelas do cinema de kung-fu, Lo Lieh, actor que na altura já era uma super-estrela na Ásia e que começava a ganhar tracção internacional com as ondas de choque provocadas pelo super-clássico da Shaw Bros: “Five Fingers of Death”

Lee Van Cleef tenta saber o segredo do punho de ferro.

Dakota mete-se num plano arriscado para apoderar-se da fortuna de um chinês chamado Wang. A sua tentativa de roubar o cofre de um banco com dinamite, fracassa quando Wang aparece inesperadamente e morre com o impacto da explosão. Para surpresa de Dakota, o cofre não contém dinheiro, mas sim quatro fotos das amantes de Wang. Dakota é então condenado à morte pelo assassinato, mas o seu destino sofre uma reviravolta inesperada quando o sobrinho do falecido Wang, que é enviado da China por ordem do imperador para recuperar a fortuna da família, intervém para o salvar da forca. 

Juntos, embarcam numa busca desvairada pelas quatro mulheres, cada uma com uma mensagem oculta no seu traseiro! Os dois, enfrentarão a perseguição de um sádico reverendo que se faz apresentar com uma igreja móvel puxada a cavalos, um lutador indígena e um gangue de bandidos mexicanos. 

Longe de ser a última Coca Cola do deserto, este “Onde o Sol Nunca Brilha” ainda consegue entreter com o seu bom humor e com as muitas boas cenas de acção. Mas Antonio Margheriti, não voltaria a tentar esta fórmula e no ano seguinte voltaria com uma nova ideia de um crossover, desta vez misturando o western-spaghetti com o blaxploitation: “Take a Hard Ride”. Aí o resultado roçou o medíocre e esse seria mesmo o último western que assinaria. 

O realizador prosseguiria depois a sua carreira com maior foco no cinema de acção de baixo orçamento, assinando alguns filmes que são ainda hoje clássicos dos tempos dos videoclubes: “Indio”, “The Last Hunter” ou “Tiger Joe”. No terror, aventurou-se num rip-off manhoso do clássico “Piranha”, que transformou no infame “Killer Fish”, mas mais aconselhável será a sua incursão no género zombie, com o filmaço “Cannibal Apocalypse”. Um autor com rendimento inconstante, mas que merece a pena descobrir. 

Sem comentários:

Enviar um comentário