08/12/2020

Quelle sporche anime dannate (1971 / Realizador: Luigi Batzella)



I.
As armas e os bandidos assassinados
Numa península de capital romana,
Muitos e muitos animais foram cavalgados,
Os melhores eram de terra castelhana.
Entre mortos, feridos e estropiados,
Mais do que era aceitável na regra americana.
E entre países latinos edificaram
Novos filmes que ao mundo mostraram.

II.
Cessem do sábio Leone e de Corbucci
Os feitos universalmente conhecidos;
Cale-se de Tessari e de Questi
Assim como pseudo-westerns fingidos;
Eu canto Fidani, Boccia, Garrone e Vari
E outros mais cineastas erigidos.
Porque Batzella, que é Luigi, canta
Na série B trabalha e levanta.

III.
“As almas malditas de Rio Chico”,
Título ficou em terras gaulesas;
Ver westerns de Batzella é um perigo
Porque são plenos de falhas e impurezas;
Lá na bela Itália montou o circo
Com os seus duplos cheios de destrezas.
Há filmes maus que dão cabo da saúde,
Valha-nos o homem que arrasta o ataúde!

IV.
Tal como em épocas de opulência se fazia,
Assim o homem também tentou;
Mas o que ele de facto não sabia
É que dinheiro e talento faltou;
Lá em terras do Lácio acontecia
Que o filão outrora explorado acabou.
O entusiasmo por tudo isto foi-se esfumando,
Voltámos ao tempo do “eu quero, posso e mando.”

V.
Eis Jeff Cameron, Esmeralda Barros e Krista Nell
Mais Donald O’Brien a franzir a sua careta.
O primeiro, duro no seu papel,
Assim falou; e partiu a muitos a corneta!
Lá vai ele montado no seu corcel
Prestes a mandar tudo para o maneta.
Pois quem se mete nisto aguarda sarilhos,
Os gitanos não gostam de ver bons princípios nos filhos.

VI.
Os americanos comem feijões, bifes e toucinho;
Os italianos bebem uísque, tequila e café;
Krista Nell leva umas passas no focinho
De Jeff Cameron a soco, sopapo e pontapé.
Um abutre voa e esvoaça do seu ninho,
Algo que o vilão O’Brien, excelente em auxílio, é.
Tal como um ébrio, que anda para a frente e para trás,
Assim antigamente diziam em Roma: “In uino ueritas!”

VII.
Pistoleiros, gatunos e dissidentes,
Filmes esses há muito do nosso agrado;
Salas de cinema, película e cassetes
Já fazem parte do nosso passado;
Digital e qualidade estão hoje presentes,
O paraíso de todo e qualquer tarado.
E tal como o funeral e o fim da festa,
A aragem que daqui emana é deveras funesta.

VIII.
Levanta-te, ó italiano western ou spaghetti!
Todas estas coisas disseste na medida certa.
Parvos como nós gostamos de ti
Embora a obra fique sempre aberta.
Assim dizendo, estas coisas que escrevi
Numa blogosfera praticamente deserta.
E não desobedeceu; nós sonhamos com o selvagem Velho Oeste.
Com palavras apetrechadas de asas: “Ah, fartura! Tão tarde vieste!”

“Spaghettis per omnia saecula saeculorum! Sed… tacendi tempus est.”

Anno Domini uiginti et duo milia,
Veneris dies, ante diem tertium Kalendas Nouembres.

7 comentários:

  1. Esta resenha escrita em verso é inspirada em três grandes obras da literatura europeia:
    "Os Lusíadas", de Luís Vaz de Camões, em que as estrofes são oitavas (oito versos) em rima cruzada e emparelhada.
    As epopeias "Ilíada" e "Odisseia", de Homero, serviram para incluir algumas expressões muito particulares.
    As edições da "Ilíada" e da "Odisseia" que segui foram as publicações em verso (Livros Cotovia) traduzidas do original grego pelo grande Frederico Lourenço.
    A parte final em latim foi conseguida com recurso à "Nova Gramática do Latim" (Quetzal Editores, 2019), também da autoria de Frederico Lourenço.

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  2. Esta é a resenha número 234. À minha conta foram 127 filmes ao longo de onze anos e meio.

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  3. Pena ver-te enterrar as pistolas sócio, mas respeito a tua decisão. Grande abraço.

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  4. Muito interessante e diferente esta publicação!

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  5. Por desertos nunca antes cavalgados, as armas ajudaram os heróis a edificar a lei a Oeste de qualquer "Tapobrana"... Adorei, Emanuel. Obrigado

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  6. Muito obrigado pelas simpáticas palavras, amigo António.
    Acho que, ao longo destes anos, este blogue conseguiu "passar ainda além da Taprobana", como diria o zarolho.
    Um abraço!

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  7. Segundo a fonte mais credível de Portugal nesta matéria, António Furtado da Rosa, o título português deste filme é "O Vingador do Oeste".

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