16/08/2022

Quei disperati che puzzano di sudore e di morte (1969 / Realizador: Julio Buchs)


Noticias do eminente parto de Rosa, fazem com que o soldado confederado John Warner deserte da sua unidade. Uma fuga que rapidamente termina, por azar ele bate de caras com outra unidade confederada em patrulha no deserto. Devolvido à procedência, decidem as patentes de serviço que em vez de o submeterem a tribunal militar, seja designado à desmoralizante tarefa do enterro de soldados inimigos em valas comuns.

As coisas não correm de feição ao soldado Warner e só tendem a piorar. Na vala encontra um soldado nordista moribundo, o pedido de auxílio que lança é rejeitado e recebe antes ordem para apertar o fagote ao desgraçado. Dá-se uma disputa com oficial ordenante e Warner acaba por matá-lo acidentalmente. Está tudo f*dido! Em pânico, ele e os companheiros designados às valas comuns chegam à conclusão de que não têm outra alternativa senão meter-se ao fresco, certos de que a hierarquia militar não lhes daria o benefício da dúvida.

Warner recusa matar um soldado moribundo.

Ao chegarem a Los Sadros a tragédia adensa-se. A cidade está assolada pela cólera e Rosa morreu no parto. O irrascível Don Pedro Sandoval, pai de Rosa, não está com mais nem boas e mete o recém-nascido nas mãos de Warner, dando-lhe guia de marcha. Mesmo sabendo que este não terá a menor condição para criar a criança. Barra pesada, estimado leitor. Isto não é filme para rapaziada sensível a dramas familiares e muito menos para espectadores dos filmes com final feliz da Fox Life. Pois então, Warner e companheiros partem de Los Sadros com a criança em braços. O estigma da cólera faz com que sejam escorraçados de qualquer sítio onde passem e sem surpresas o recém-nascido sucumbe. Um acto que destruiria qualquer pai. Warner fica destroçado e promete vingança a todos os que lhe negaram a ajuda num momento tão crucial.  

Ora como se percebe, este é um filme de estilo e motivações diferente do típico western-spaghetti. Inegavelmente é também o oposto daquilo que se conhece do restante reportório western de Julio Buchs. Recordando, em “O Homem que Matou Billy the Kid” Buchs enredou pelo uso de um personagem estabelecido no imaginário do típico consumidor de cinema western. E em “Mestizo” abordou típicas escaramuças entre índios e a Polícia Montada Canadiana. Tudo muito clássico e não particularmente interessante. 

Nenhum pai deveria ter que enterrar seu filho

Na verdade, a produção do filme nem sequer era para ser um western e isso pode ajudar a perceber o que fez parir um filme tão fatídico. Aponta Marco Giusti no seu “Dizionario del western all'italiana” que originalmente o filme deveria ser sobre “Los Siete Niños de Écija” 1, um grupo de bandoleros espanhois que nas invasões napoleónicas imprimiram actos de guerrilha sobre o invasor. Os distribuidores gringos não terão ficado entusiasmados e foi preciso repensar o filme como um western-spaghetti.

Apesar do título internacional – A Bullet for Sandoval – dar destaque à personagem de Ernest Borgnine, um actor oscarizado que interpretava qualquer papel com as pernas às costas, parece-me que é justo destacar aqui o trabalho do uruguaio George Hilton. Ele interpreta Warner, o soldado confederado que pelas trágicas circunstâncias da vida se vê transformado num bandolero sem escrúpulos. Um papel que fica a léguas dos habituais pistoleiros sorridentes que somou na sua carreira western e que não se limitaram aos filmes das franquias Aleluia e Tresette. 


Os cabeças de cartaz desta corrida de touros.

Que não hajam dúvidas, este é um espécime que o entusiasta do western-spaghetti não pode perder. Mas não é um filme isento de problemas, o maior será porventura a ténue ponte que é feita entre a primeira parte do filme, carregada de melodrama e a ponta final, uma vendetta tresloucada em que nenhum dos protagonistas parece ter razão que lhes justifique os actos. Mas tudo culmina com grande efeito, num embate numa praça de touros mexicana. Possivelmente uma ideia que Buchs terá sacado do “Pistoleiro Profissional”, filme de Sergio Corbucci lançara no ano anterior. E não, não é um plágio.

4 comentários:

  1. O auge deste filme é, sem dúvida, a cena final na praça de touros e o respetivo final pessimista com a morte dos protagonistas. Se isto fosse um western à Hollywood, os heróis safavam-se todos no último momento e ainda tinham tempo para casar com as suas namoradas!

    ResponderEliminar
  2. A excepção seriam só os westerns do Sam Peckinpah, que eram de outra safra. "A Quadrilha Selvagem" é um bom exemplo. O Ernest Borgnine participa em ambos e curiosamente ambos foram lançados em 69.

    ResponderEliminar
  3. Eis a frase de lançamento deste filme: "Esta é a verdadeira história de John Warner, o abutre que deambulou no Texas espalhando sangue e terror".

    ResponderEliminar