Ainda me lembro do primeiro contacto que tive com Uma Razão para Viver, Outra para Morrer, foi num daqueles trailers promocionais que a maioria dos videoclubes dos anos 80 faziam incluir nos minutos iniciais das suas cassetes de aluguer. Eram quase sempre selecções avulsas e pouco criteriosas, que por regra levaram com um convincente fast-forward da minha parte, mas dessa vez a manobra de marketing funcionou. Devo ter revisto o trailer meia dúzia de vezes. Era puto, e Bud Spencer era ainda uma referência nas minhas escolhas devido aos filmes da saga “Trinitá” e a comédias de acção como O Xerife Quebra-Ossos. Os poucos minutos em que se sequenciavam brutais cenas de acção, pejadas de tiroteios, explosões e apenas alguns resquícios de humor, pareceram-me extremamente cativantes e fora da habitual matriz cómica que estava habituado a ver em filmes protagonizados pelo gorducho. Conseguir deitar a mão a uma cópia do filme seria por isso o maior objectivo por esses tempos!
Realizado e co-escrito por Tonino Valerii (Gigantes em duelo), o filme não é muito mais do que uma transposição do sucesso Os doze Indomáveis Patifes para os tempos da guerra civil americana. Aqui, o Coronel Pembroke (James Coburn), um oficial do Exército da União acusado de traição, recruta seis condenados à forca e um sargento corrupto para uma missão suicida: Atacar o impenetrável Fort Holmam! Fortaleza outrora sob mãos da União e comandada pelo próprio Pembroke, que por entre linhas percebemos ter sido entregue aos confederados em condições pouco explícitas. A inexpugnabilidade da fortaleza desencoraja a recaptura por parte do exército, mas com uma perca de recursos mínima o Major Charles Ballard (José Suárez) concorda em fornecer a Pembroke a carne para canhão necessária. As razões que levam Pembroke a iniciar tão arriscada missão acabam entretanto por se revelar meramente pessoais, mas sobre isso mais não poderei contar sob pena de retirar o elemento surpresa do filme!
Com o seu recém formado mini-exército de pulhas, Pembroke terá de lidar com adversidades várias e as deslealdades sucedem-se obviamente a bom ritmo. Pembroke cria no entanto a ilusão da existência de um grande carregamento de ouro confederado no interior da fortaleza o que eventualmente bastará para unir o grupo num propósito único. A acção do filme decorre quase sempre a um ritmo lento, despoletando-se finalmente no explosivo assalto à fortaleza. E que bela sequência de acção essa, do melhor que o euro-western terá alguma vez alcançado. Nota-se claramente que "Uma Razão para Viver, Outra para Morrer" terá gozado de um generoso orçamento, e Valerii não o fez desperdiçar!O elenco aqui reunido inclui para além do “enorme” Bud Spencer (que até chega a fazer um hilariante sprint numa das cenas), um James Coburn acabadinho de protagonizar o zapata-western de Sergio Leone (Aguenta-te, canalha) e Telly Savalas (que curiosamente também fez parte do elenco de Os doze Indomáveis Patifes) no papel do maníaco Major confederado. Para além disso contam-se ainda meia dúzia de caras habituais nos filmes de Valerii/Leone. Destaque para o caricato Benito Stefanelli, que desempenha um dos delinquentes salvo da forca.
Tonino Valerii era um tipo com talento, os seus spaghettis foram quase todos grandes sucessos de bilheteira. Mas este filme é ainda hoje desprezado por muita gente, que o considera demasiado violento e sem grande desenvolvimento das personagens. Com estes concordarei apenas parcialmente, pois também eu creio que a figura do Major Frank Ward (Telly Savalas) é claramente metade do que devia ter sido. Mas se o filme peca em argumento ganha em acção, aqui mais explosiva do que em qualquer outro filme do realizador italiano. Pessoalmente continuo a crer que entre todas as abordagens que o tema “men on a mission” teve no spaghetti-western, este será o filme mais bem conseguido. O filme chegou mesmo a ser lançado em alguns países como “Massacre at Fort Holmam” o que faz justiça à brutal carnificina em que o filme capitula.
Este título não está infelizmente disponível em formato DVD no mercado Português, mas existem por aí bastantes edições. Por um golpe de sorte reencontrei-o há alguns anos atrás num dia de compras em Badajoz, ali do outro lado da fronteira. As especificações não são as melhores, resumindo-se à inclusão do filme em formato 4:3 num áudio mono e sem opções linguísticas para além da trilha em espanhol. Por isso recentemente resolvi fazer justiça à afeição que tenho pelo filme, adquirindo a edição americana da Wild East, que como habitual faz compilar às suas apresentações nos formatos originais, uma série de extras (galerias, trailer e outros vídeos promocionais). Recomendo!
Trailer
Estou com este filme aqui, mas ainda não assisti. Pelo visto, vou gostar bastante!
ResponderEliminarEstupendo spaghetti, brillantemente dirigido por Valerrii y con un enorme Coburn y un sorprendente Spencer. Muy recomendable
ResponderEliminarE já somos 2 a adorar este filme. Haverá mais?!
ResponderEliminar:)
Claro que há mais pessoas que gostam do filme! Eu sou um deles! É acção e aventura ao melhor nível com o muito elegante James Coburn e Bud Spencer, se calhar o grande trunfo deste filme! Concordo que Telly Savalas devia ter tido um papel muito mais demoníaco, louco, passado, porque é o actor ideal para isso! É um filme violento mas já vi coisas mais chocantes no cinema...
ResponderEliminarSim, sim. O Bud Spencer aparece aqui num registo bastante diferente do habitual gorducho engraçadinho. Li por aí que na Alemanha chegaram a montar uma dobragem que por meio de cortes e recortes fizeram do filme uma comédia (lançado como "Der Dicke und das Warzenschwein"). Uma vergonha!
ResponderEliminarEsta es mi deuda con Valerii. Siempre la veo en mi videoclub y nunca la alquilo. Pero con esta recomendación habrá que poner remedio.
ResponderEliminarY si hubiera una sola persona que lo haga, entonces el tiempo que tuve en escribir estas palabras tendrá su sentido! Gracias por considerar la opción Adrián! Saludos amigo!
ResponderEliminarYo la tengo, pero aún no la he visto...¡Eso sí es pecado! Siendo de Valerii...
ResponderEliminarHolla Belén!
ResponderEliminarY cuando lo hagas tendrás tu perdón!
Infelizmente, há sempre uns parvinhos que assassinam os filmes com montagens estúpidas e transformam os diálogos para algo (supostamente) mais cómico! Além deste filme, "Preparati la bara!", com Terence Hill, também sofreu essas alterações na Alemanha! Isso deve-se a uns quantos palhaços que entendem que Hill e Spencer só estão bem nos registos cómicos... mas eu discordo absolutamente!!
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