12.08.2009

Arrivano Django e Sartana... è la fine (1970 / Realizador: Demofilo Fidani)

Em 1970, o imenso balão de oxigénio da indústria cinematográfica italiana proporcionado pelos westerns estava a começar o seu ponto de declínio. Os grandes realizadores do género já tinham lançado as suas obras-primas, as fórmulas estavam mais do que gastas, os orçamentos já não eram tão generosos como anteriormente e, deste modo, o inesgotável filão era afinal esgotável! Surgiu uma nova fórmula apadrinhada por Enzo Barboni, Terence Hill e Bud Spencer, dando origem ao western cómico. Após o enorme sucesso dos filmes da dupla “Trinitá e Bambino” choveram várias cópias mal amanhadas para também encaixar mais dinheiro.

Sartana à espreita!

No entanto, Demofilo Fidani seguiu um caminho distinto. Este realizador tornou-se especialista em westerns de orçamento muito baixo, quase ridículo e inexistente! Assinava as suas obras sob diversos pseudónimos (neste filme foi Dick Spitfire), recorria essencialmente a duplos mas mesmo assim ainda cativou nomes como Klaus Kinski, Gordon Mitchell ou Ettore Manni.

Django e as suas muchachas.

Este Chegam Django e Sartana… e é o fim! é claramente uma produção inferior em termos técnicos. Eu próprio tive uma reacção negativa, quando o vi pela primeira vez em formato VHS há mais de 10 anos, porque estava habituado a produções mais cuidadas. Fidani tentou jogar com a junção de duas personagens carismáticas (e em declínio) do western italiano (Django e Sartana) e talvez isso tenha feito com que os seus filmes não tenham caído no esquecimento total. A história do filme não tem nada de novo: A filha de um rico rancheiro é raptada pelos larápios de Burt Keller (Gordon Mitchell), usando-a como refém para conseguir escapar para o México. Uma grande recompensa é oferecida pela captura dos malfeitores e os caçadores de prémios Django (Hunt Powers) e Sartana (Chet Davis) fazem o que lhes compete, vulgo despachar a vilanagem!

Gordon Mitchell quer papar a bela Simone Blondell.

Na minha opinião, as obras de Demofilo Fidani (Giù la testa... hombre, Era Sam Wallash... lo chiamavano 'Così Sia', Per una bara piena di dollari, etc.) nunca podem ser vistas como material topo de gama mas a intenção nunca foi rivalizar com Leone ou Corbucci. Se o fizesse seria inevitavelmente derrotado. Mas, apesar de tudo, consigo ver alguma magia e humildade neste filme. Eu defendo que os westerns-spaghetti não se resumem única e exclusivamente às obras mais carismáticas e aos orçamentos gordos. Aliás, um fã deve sempre procurar mais informação além da que facilmente lhe é oferecida!

O brasileiro Celso Faria armado em mexicano!

O elenco deste filme é composto por Hunt Powers, Chet Davis, Gordon Mitchell, Ettore Manni, Krista Nell, Simone Blondell e Dennis Colt. A música e a fotografia merecem ser destacados pela positiva. Há edições DVD à venda na Alemanha e na Espanha. Perdi o amor ao dinheiro e comprei a versão espanhola que é simples, agradável e contém o filme no formato 1.85:1. Este western é apenas para pessoal menos exigente ou para quem gosta de produções de série B, como eu. Dir-se-ia que foi uma de muitas tentativas que se fez naquela altura de reacender o entusiasmo pelo sub-género mas, naturalmente, falhou! Quem ficou a ganhar fomos nós porque a obra persiste, independentemente de ser série B, A ou Z.

20 comentários:

  1. Pois é sócio, o meu primeiro contacto com os filmes do Fidani também foi negativo. Aliás pelo que conheço da obra dele, será porventura o responsável por alguns dos piores momentos que o género conheceu. Ainda assim pela quantidade de material que realizou em tão curto espaço de tempo, e pela aversão que teve à facção cómica, louvo-lhe algum mérito!

    Quanto a este titulo, comprei essa mesma edição DVD espanhola de que falas numa recente passagem por Badajoz (curioso que o poster que nossos hermanos utilizaram no DVD nem corresponde a este filme, mas ao menos a imagem é de qualidade). Aproveitei estes dias de mini-férias para vê-lo, mas continuo a não entender o grosseiro modo como Fidania filma. Tenho visto muitos spaghettis de baixo orçamento, mas quase nenhum sem tantas pontas soltas (argumento medíocre, actuações quase todas abaixo da média, montagem descuidada). No meio deste caos todo safa-se o Gordon Mitchell, com uma interpretação lunática de grande valor!

    Terei de ver mais filmes do homem para entender o que lhe ia na cabeça...

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  2. Bah, estou por fora do Demofilo Fidani. Não vi nada dele ainda. Aliás, tenho assistido a pouquíssimos spaghettis... mas vi um muito bom outro dia, Kill and Prey, do Lizzani e achei bem legal.

    Abraços!

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  3. Hey, amigo. I put this review in an online translator as you did mine. Good to see you´re soemwhat positive about this film. Fidani is magic, haha.

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  4. Yeah! With a open mind and some beers in the process even Fidani look a good director. Thanks for your visit!

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    Recomendo a leitura da interessante resenha feita por este nosso amigo holandês, visitando este link (em inglês):

    http://www.spaghetti-western.net/index.php/Arrivano_Django_e_Sartana..._%C3%A8_la_fine/Review

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  5. Respondendo também ao amigo Perrone:
    Não sei se este será um caminho que queiras percorrer companheiro. Esse "Kill and pray" se comparado com estes filme do Fidani entrará no lote dos excelentes. Para entrar na obra do Fidani é preciso ter de antemão uma mente muito aberta, e não levar nada demasiado a sério...

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  6. eu não vi esse filme, mas també tem a participação do ator Celso Faria, ator brasileiro, Simone Blondell é filha do Fidani, este diretor sempre trabalhava com os mesmos atores em suas produções, do Fidani só vi Por um Caixão Cheio de Dólares, filmaço com o Jeff Cameron, Klaus Kinski, e por coincidência: Hunt Powers, Dennis Colt, Simone Blondell, e Gordon Mitchell em um dos raros papeis de bonzinho, quase a mesma trupe deste filme, abraços !

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  7. Para ver este tipo de filme tem de se ir sem expectativas e ter mente "vamos lá ver o sai daqui"!!! Se assim for conseguimos reparar e achar uma certa piada aos poucos planos bem captados pela câmara se prolongam eternamente;que é ridículo um homem sair da cama com a cara coberta ou ainda haver 2 bandidos um com o rosto coberto e outro não...e pensar: até onde pode chegar isto?!

    No soy una esperta pero...se não virmos um pouco de tudo não podemos criticar ou avaliar! Assim desafio quem não viu a aventurar-se pelos desertos mais secos dos spag's!!!

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  8. Menina Eushinha,
    o Zé Ferreira voltará por estes dias do Texas com as minhas encomendas da Wild East, incluindo a double feature do senhor Fidani "Dead Men Don't Make Shadows" / "Django Meets Sartana". Desafio-te a uma sessão dupla. A ver se aguentamos a seca...

    Interessante também os dados que o amigo Artur acrescenta, tive oportunidade de confirmar essa falta de rotação de actores, já que vi também recentemente esse "Caixão cheio de dólares". A história também ela não varia muito, mas esse filme está sem dúvida melhor filmado o que o torna menos doloroso de assistir. Até ver é o meu favorito do Fidani. Hei-de vê-los todos!

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  9. Neste comentário avisei que o filme nunca poderá estar ao nível dos melhores! Quando não há dinheiro não há grandes vícios! Contudo, hoje em dia no cinema assistimos a super produções com orçamentos astronómicos e o aglomerado de fantochadas e cenas de acção ridículas também estão lá! Nestes casos parece-me mais grave...

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  10. As informações do amigo Artur vieram enriquecer os meus míseros conhecimentos sobre os filmes do Fidani, nomeadamente saber que Celso Faria é brasileiro e que a lindíssima Simone Blondell é filha do realizador. Estamos sempre a aprender!Muito obrigado!

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  11. Concordo com o Pedro quando afirma que "Una bara piena di dollari" é um filme mais cuidado que este "Django e Sartana". Tive oportunidade de ver o filme e nota-se uma ligeira melhoria, mas muito ligeira...

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  12. Mais uma curiosidade que descobri hoje por mero acaso: A trilha sonora do filme foi a mesma utilizada em "Execution". Um spaghetti mediano que saíu um par de anos antes deste "Chegam Django e Sartana… e é o fim!".

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  13. Fiquei muito feliz em saber da verdadeira situação de George Hilton conforme depoimento dele próprio em seu vídeo no Youtube.
    Aos poucos vamos ficando sem os nossos ídolos que após tantos duelos com bandidos no Oeste, infelizmente só o tempo poderá ser mais rápido no gatilho e vence-los.
    EDELZIO SANCHES
    de.sanches@hotmail.com

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  14. DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA (1970)

    Quel Maledetto Giorno d'inverno... Django e
    Sartana all'ultimo Sangue (1970, Itália)
    Direção: Demofilo Fidani
    Elenco: Jack Betts, Fabio Testi, Benito Pacifico,
    Dino Strano, Luciano Conti, Simonetta Vitelli,
    Attilio Dottesio e Celso Faria.

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    Em minha resenha sobre "Django Desafia Sartana", apresentei aos nobres leitores do FILMES PARA DOIDOS o diretor italiano Demofilo Fidani (1914-1994), um profissional tão picareta que faz com que outros notórios picaretas do mundo do cinema, como Al Adamson, Bruno Mattei e Godfrey Ho, pareçam cineastas de verdade. Mas se "Django Desafia Sartana" era uma produção mais normalzinha do homem, agora chegou a hora de pegar pesado e falar/escrever sobre DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA, uma obra que pode tanto provocar ataques histéricos de riso quanto incontroláveis rompantes de fúria em cinéfilos mais "sérios".

    Por isso, o filme é uma ótima maneira de conhecer o cinema Fidaniano, visto que está repleto do "melhor" e do pior do homem. Sua gênese é, por si só, uma piada pronta: reza a lenda que Fidani estava dirigindo outro western ("Homens Mortos não Fazem Sombra"), quando percebeu que acabaria o serviço e ainda sobrariam algumas diárias com o elenco principal (Jack Betts, Franco Borelli e Gordon Mitchell). Por isso, resolveu rodar um segundo filme, às pressas e de qualquer jeito, sem dinheiro e (praticamente) sem roteiro, reaproveitando o elenco ocioso do outro projeto e também os figurinos, cenários e cavalos!



    Devido a questões burocráticas (um único profissional não podia dirigir dois filmes ao mesmo tempo, ou coisa que o valha), Fidani fez com que seu gerente de produção Diego Spataro assinasse como diretor, utilizando o impagável pseudônimo "Dick Spitfire" (que cairia como uma luva para um astro de filmes pornográficos). Mas todos os pesquisadores do gênero concordam que Spataro só colocou seu nomezinho ali: quem dirigiu toda a bagaça foi Fidani, conforme é perceptível pela falta de qualidade geral do negócio.

    Àquela altura, o diretor já tinha lançado um "crossover" anterior entre os dois famosões do western spaghetti, Django e Sartana, que foi o já comentado "Django Desafia Sartana", filmado em 1969 e lançado nos cinemas italianos em 1970.



    Não há informações sobre a recepção de "Django Desafia Sartana" na época, mas os espectadores devem ter saído putos do cinema ao constatar que "Sartana" na verdade era um outro personagem chamado "Jack Ronson", que somente aos 45 do segundo tempo se identifica uma única vez como Sartana! (Não duvide que esse diálogo foi adicionado de última hora num roteiro SEM Sartana para subitamente transformá-lo num filme COM Sartana...)

    Enfim, com DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA Fidani resolveu corrigir este lamentável equívoco e realmente fazer uma aventura estrelada por Django e Sartana, conforme anuncia o título. Ou pelo menos tentou. Bem, vamos aos fatos e vocês entenderão melhor o que eu quero dizer - e também saberão porque o diretor recebeu a alcunha de "Ed Wood do Western Spaghetti".

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  15. O "roteiro" escrito por Fidani e por sua esposa Mila Vitelli Valenza começa no covil da quadrilha liderada pelo bandidão Burt Kelly (Gordon Mitchell). Eles acabaram de roubar o ouro do pagamento das tropas de Fort Bellamy, e Burt quer garantir uma travessia tranquila para o México com a fortuna. E como ninguém sugere alguma ideia melhor, ele manda seus homens sequestrarem a bela Jessica Brewster (Simonetta Vitelli), filha de um rico fazendeiro da região, para mantê-la como refém e garantir o salvo-conduto até cruzar a fronteira.

    Só que o tiro sai pela culatra: a população da cidade resolve contratar dois famosos caçadores de recompensas para caçar Burt e seus homens. E é claro que estamos falando de Django (interpretado pelo norte-americano Jack Betts, com o nome artístico "Hunt Powers") e de Sartana (Franco Borelli, assinando com o pseudônimo "Chet Davis"). Ao saber da chegada da dupla à cidade, Burt manda seus capangas para resolver a situação, e aí começam as pancadarias e tiroteios de praxe.




    E é só isso! O filme se resume a este argumento de meia dúzia de páginas, que deve ter sido rabiscado em poucas horas, e que basicamente funciona como mera desculpa para que incontáveis figurantes tentem matar Django ou Sartana antes de acabar comendo capim pela raiz! Não duvido que os diálogos tenham sido improvisados no momento da filmagem, e tudo relacionado à parte técnica da produção é simplesmente sofrível.

    Mas quer saber? Por isso mesmo, DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA é simplesmente divertidíssimo! Claro, se você assistir sozinho em casa, num sábado à noite, esperando por algo mais elaborado, provavelmente vai cuspir fogo de raiva e quebrar o DVD em vinte pedaços. Porém experimente reunir uma turma de amigos na sala e colocar o filme para rodar: em menos de 10 minutos, todos estarão rolando de rir com as incontáveis bobagens do filme!




    Fidani realmente se superou aqui, e a picaretagem começa já pelos créditos iniciais, que "reaproveitam" a trilha sonora composta por Coriolano Gori para o filme "Execução" (1968), de Domenico Paolella. A seguir, percebe-se desde as primeiras cenas que o roteiro desconjuntado é uma simples desculpa para uma sequência de cenas de ação, e que tentar seguir a "trama", por mais mixuruca que ela seja, é pura perda de tempo.

    A produção é tão furreca que a história toda se desenrola em apenas dois ou três cenários, e sempre nas mesmas externas, onde, lá pelas tantas, podemos ver o que parece ser um grande cactus falso (imagem abaixo) para simular uma paisagem do Velho Oeste. Quer dizer, talvez até seja uma planta verdadeira mais feia que a média, mas, conhecendo Fidani, eu não duvidaria nada da probabilidade do cactus falso...

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  16. Visivelmente sem dinheiro e filmando "no improviso", Fidani nunca mostra o tal roubo ao ouro de Fort Bellamy cometido por Burt Kelly e seus homens (o crime é apenas comentado entre os bandidos), nem tenta criar reviravoltas ou situações que façam a "história" andar. Quando digo que DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA se resume a uma sequência de tiroteios envolvendo Django, Sartana e vários figurantes que interpretam os bandidos da quadrilha de Burt, acreditem, não estou sendo injusto nem exagerado.

    A coisa funciona mais ou menos assim: vemos Django entrando num saloon e sendo ameaçado por homens de Burt Kelly. Ele toma uns sopapos, dá outros de volta, e termina matando todo mundo. Corta para Sartana em qualquer outro lugar sendo igualmente ameaçado por outros homens de Burt Kelly. Ele toma uns sopapos, dá outros de volta, até finalmente terminar matando todo mundo. E assim sucessivamente até cansar...



    O mais hilário é que Django e Sartana nunca se encontram NO MESMO TAKE antes da cena final. Em duas situações diferentes ao longo do filme, um salva o outro das garras dos pistoleiros de Burt. Mas estas cenas são filmadas da seguinte forma: vemos um dos heróis na mira do revólver inimigo, corta para um take dos bandidos caindo fuzilados, corta para um take do herói em perigo olhando para cima ou para o lado, corta para um take do outro herói acenando, tipo "Salvei tua pele!", e então ele vai embora cavalgando, e aí corta de volta para o herói resgatado dando um sorrisinho tipo "Ah, esse Django (ou Sartana), que cara legal!".

    A mesma sequência de takes acontece duas vezes: primeiro, Sartana salva Django; depois, Django salva Sartana. Mas os dois personagens só aparecem JUNTOS, dividindo finalmente um mesmo take, no minuto final, quando começam a negociar quais vilões mortos levarão para trocar pelo dinheiro da recompensa. Enfim, é algo inacreditável de tão tosco!






    Outros momentos de rolar de rir em DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA envolvem cenas aleatórias adicionadas na montagem apenas para o filme ficar com a duração de um longa-metragem. Isso envolve INCONTÁVEIS takes com os personages cavalgando, filmados para dar a ideia de que a história está andando e algo está acontecendo (não está, nos dois casos). Se um editor decente limasse todas estas cenas de cavalgadas, a duração do filme cairia tranquilamente para uns 45 minutos!

    Mantendo o "padrão de qualidade" de outras produções de Fidani, esta também não tem um mínimo de cuidado nem com a mais básica continuidade: o sobrenome do vilão, por exemplo, é "Kelly". Mas em dois momentos, aparece com grafias diferentes: "Kelly" no bilhete escrito após o sequestro da filha do fazendeiro, e "Keller" num cartaz de recompensa!

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  17. á as cenas de apresentação dos dois personagens principais são tão gratuitas, e tão visivelmente filmadas apenas para enrolar, que muitos espectadores provavelmente desistirão do filme ainda nos primeiros 15 minutos.

    Django, por exemplo, aparece visitando uma cidade-fantasma. Ele desce do cavalo, pega um alforje e um cantil, e começa a caminhar pelas ruas centrais da vila abandonada, como se estivesse procurando alguém ou alguma coisa. Encontra um sujeito vestindo farrapos e tenta conversar com ele: "Ninguém mais vive aqui?". Não recebe nenhuma resposta, e decide ir embora. A cena não tem qualquer nexo: nunca sabemos o que Django procurava na cidade-fantasma, quem esperava encontrar, ou que diabos de cidade era aquela; mas a "visita" rendeu a Fidani cinco minutos no tempo de duração do filme!





    O mesmo acontece na cena de apresentação de Sartana. Contrariando totalmente as características do personagem imortalizado por Gianni Garko na série oficial (iniciada em 1968, e com quatro filmes), Fidani apresenta Sartana como o grande herói e defensor de um vilarejo de mineradores. Por quê? Boa pergunta, que Fidani não se preocupa em responder - a situação toda é apenas uma desculpa para ganhar mais cinco minutos de tempo corrido na narrativa! Ele até inventou um brilhante diálogo entre dois personagens secundários, que de certa forma sintetiza a inexistência de tudo no filme (principalmente motivações para os personagens):

    - Quem é aquele?
    - Aquele é Sartana. Nós devemos tudo a ele. Durante anos, a vila era pobre e o nosso povo passava fome. Ele nos mostrou como trabalhar nesta mina abandonada. Nós devemos tudo a Sartana.
    - Mas por quê?
    - Por quê? Porque ele é Sartana!





    E a cereja do bolo é a inacreditável performance de Gordon Mitchell como o psicótico vilão Burt Kelly. Eu não duvidaria se alguém me dissesse que Mitchell filmou todas as suas cenas sob efeito de álcool, ou mesmo drogas pesadas. Num autêntico "one-man show" digno dos melhores momentos de Klaus Kinski, o ator grita, recita frases sem sentido, brinca colocando copos sobre os olhos para simular um binóculo DURANTE UM DIÁLOGO SÉRIO com seus homens, e ri exageradamente como se estivesse numa comédia da série "Austin Powers".

    Por tudo isso, o vilão é a melhor coisa do filme e rouba a cena dos apagados heróis toda vez que aparece. Digamos apenas que Burt Kelly é tão doido que joga pôquer e conversa com SEU PRÓPRIO REFLEXO NO ESPELHO - e ainda o acusa de estar trapaceando! É como se o personagem tivesse fugido de uma comédia de Mel Brooks, caindo bem no meio do set de filmagem de um western de quinta categoria!





    Se Sartana não tem absolutamente nada em comum com o personagem da série oficial, o Django de Jack Betts sofre do mesmo problema, mais uma vez sendo representado como um caçador de recompensas (a exemplo do anterior "Django Desafia Sartana"). Mas pelo menos ele veste roupas parecidas com as do Django de Franco Nero, enquanto o Sartana de Franco Borelli passa longe disso e parece um pistoleiro genérico qualquer. E tudo bem que o Django de Sergio Corbucci não era exatamente um cavalheiro em relação às mulheres, mas o personagem de Betts exagera no tratamento do sexo oposto, e lá pelas tantas joga uma bacia de água suja no rosto de uma prostituta que está lhe "incomodando"!

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  18. Além do elenco reaproveitado de "Homens Mortos Não Fazem Sombra", vários outros atores habituais do cinema Fidaniano dão as caras na narrativa episódica de DJANGO E A SARTANA NO DIA DA VINGANÇA, entre eles o brasileiro Celso Faria, que na época era figurinha carimbada nos westerns de baixo orçamento feitos na Itália. Também é possível rever a linda Simonetta, filha de Fidani na vida real, e mais uma vez creditada como "Simone Blondell".




    Na parte técnica, vale destacar a direção de fotografia do notório (e ainda desconhecido à época) Aristide Massaccesi. Alguns anos depois, já usando o pseudônimo "Joe D'Amato", ele se tornaria um dos grandes nomes do exploitation italiano, dirigindo produções polêmicas como "Emanuelle na América", "Buio Omega" e "Anthropophagus", além de uma cacetada de filmes pornográficos.

    Este aqui foi um dos seus primeiros trabalhos como diretor de fotografia, e ele repetiria a dose em outros filmes posteriores de Fidani, como "Por um Caixão Cheio de Dólares" e o próprio "Homens Mortos Não Fazem Sombra". O início de carreira ao lado do "Ed Wood do Western Spaghetti" certamente deve ter sido uma grande escola para Massaccesi/D'Amato, que depois dirigiria ele mesmo diversas produções rápidas e baratas no estilo de Fidani!



    Muito mais poderia ser dito/escrito sobre a ruindade de DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA, mas esse é o tipo de clássico trash que deve ser visto, e não discutido (ou pelo menos não discutido longe de uma mesa de bar e diante de várias garrafas de cerveja). Tenho certeza que o público médio fã de westerns não encontrou um único defeito entre os inúmeros existentes na produção, até porque a contagem de cadáveres é mantida nas alturas, com tiroteios a cada 10 ou 15 minutos.

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  19. Mas, para cinéfilos mais experientes e/ou fãs de podreiras, é impossível não gargalhar com a trama episódica que não leva a lugar nenhum, com as interpretações afetadas, com a péssima direção e com as tentativas desesperadas de Fidani de esticar o tempo de duração, incluindo um interminável jogo de pôquer que dura uns 10 minutos, e que é um convite ao uso do botão Fast Foward - até porque termina com Django passando fogo nos colegas trapaceiros de mesa e pegando para si todo o dinheiro das apostas!







    Este é o segundo de três "crossovers" envolvendo a famosa dupla de personagens. Dois anos depois, em 1972, o cada vez mais picareta Fidani lançou um filme chamado "Uma Balada para Django", que não passa dos "melhores momentos" (cof, cof, cof!) de "Django Desafia Sartana" e DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA colados numa outra trama com apenas 20 minutos de cenas novas. Como se vê, não havia limites para a cara-de-pau para o diretor...

    É claro que DJANGO E SARTANA NO DIA DA VINGANÇA não pode ser visto como um bom filme, sequer como um bom western spaghetti. Fidani e sua trupe não estão tentando criar nada de novo ou de original, regurgitando velhos clichês e até velhos personagens já conhecidos do público, e sem esconder que o fazem unicamente em busca de dinheiro fácil - sem nada de artístico ou relevante, digamos.




    Por isso mesmo, a obra é pura diversão para quem gosta de cinema ruim, com tantos erros, defeitos e problemas por minuto que é impossível não se pegar rindo, ou pelo menos com muita vergonha alheia de todos os envolvidos nessa bagaça. É o "Sotto-Django" perfeito para assistir embalado por boas doses de álcool e/ou rodeado pelos amigos fãs de trash - além de uma bela introdução para o cinema sem-noção e absurdamente ruim do "mestre" Demofilo Fidani.

    PS 1: Como havia acontecido com o filme anterior de Fidani, que no Brasil ganhou o título "Django Desafia Sartana" mesmo que não exista nenhum desafio ou duelo entre os personagens, este aqui também recebeu títulos enganosos nos EUA, como "Final Conflict... Django Against Sartana" e "Django and Sartana's Showdown in the West", levando o espectador a acreditar que verá um grande duelo entre Django e Sartana, quando na verdade eles são "amigos" na história.

    PS 2: O IMDB trocou as bolas e creditou Jack Betts como Sartana e Franco Borelli como Django, quando na verdade é o contrário.

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  20. Arrivano Django e Sartana... È la Fine
    (1970, Itália)
    Direção: Demofilo Fidani
    Elenco: Jack Betts, Franco Borelli, Gordon Mitchell,
    Simonetta Vitelli, Attilio Dottesio, Benito Pacifico,
    Krista Nell, Ettore Manni e Celso Faria.

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    fonte:
    texto do Felipe Guerra
    http://filmesparadoidos.blogspot.com.br/2013/01/django-e-sartana-no-dia-da-vinganca-1970.html

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