Com o seu primeiro western, Sergio Leone deu início a uma nova fase do cinema italiano mas agora sentia na pele as desvantagens de ter assinado de forma precipitada um contrato pouco vantajoso com a Jolly Films. O contrato dizia que Leone era forçado a fazer outro filme e sucediam-se os conflitos com os produtores Arrigo Colombo e Giorgio Papi. O cineasta sentia-se injustiçado na divisão dos lucros e antes de cortar o mal pela raiz e rescindir unilateralmente disse aos produtores da Jolly Films: “Vou processá-los em tribunal! Eu nem sabia se queria fazer outro western mas agora vou mesmo fazer, só para vos chatear! E o título vai ser… Por Mais Alguns Dólares!” O advogado que se ocupou do processo foi um tal Alberto Grimaldi.
Grimaldi também tinha ambições no cinema, já tinha produzido três westerns de Joaquin Romero Marchent, mas aguardava por uma grande oportunidade. Viu em Sergio Leone o homem certo para apostar e fez-lhe uma proposta irrecusável: Para o novo filme, a produção garantia as despesas, os salários e 50% do lucro das bilheteiras ia diretamente para o bolso do realizador! Mas a guerra de bastidores continuava e, numa jogada cínica, Colombo e Papi contactaram Clint Eastwood e tentaram convencê-lo para protagonizar uma sequela produzida pela Jolly Films, desviando-o do caminho de Leone. Contudo, Eastwood não aceitou e pouco tempo depois Leone viajou de propósito aos Estados Unidos para resgatar o ator para uma segunda aventura juntos.
Mas “Por Mais Alguns Dólares” não podia ter apenas um protagonista. Henry Fonda, Charles Bronson, Lee Marvin e Robert Ryan recusaram categoricamente. Em Los Angeles, um dos assistentes de Leone facultou-lhe um documento com uma fotografia de um ator de segunda linha e que agora tinha desaparecido misteriosamente após um grave acidente de viação. Ao ver a foto, Leone decidiu instantaneamente: Lee Van Cleef era o homem certo e nada mais interessava! Com uma mala cheia de dinheiro, Leone apresentou o contrato ao ator e 10 000 dólares. Foi mais do que suficiente…
O filme gira em torno de dois caçadores de prémios que perseguem o psicopata / assassino / ladrão / drogado / violador El Índio. Enquanto um quer o dinheiro da recompensa o outro parece ter outras razões. Alguns momentos do filme ficam para sempre na memória dos cinéfilos, nomeadamente o duelo final dentro de uma área circular, a “arena da vida”, como Sergio Leone lhe chamava, “o momento da verdade na hora da morte”, tudo isto acompanhado pela genial partitura musical do mestre Ennio Morricone.
O filme estreou no outono de 1965 e foi um sucesso gigantesco, tornando-se no filme mais rentável em Itália durante vários anos. Lee Van Cleef ascendeu ao estatuto de estrela, Clint Eastwood confirmou as suas credenciais de super vedeta e Sergio Leone matou dois coelhos com uma cajadada só: conseguiu mais um extraordinário marco da História do Cinema e vergou definitivamente as intenções malévolas dos seus inimigos de estimação.
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Article - Star-Ciné Aventures 211- May 1969
Há 2 minutos
Este é o grande culpado pelo meu amor por spaghettis! Que filme, que filme!!!
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ResponderEliminarFilme que é a quintessência do género, na minha opinião, que de um parto difícil, veja-se o artigo do amigo Emanuel, nasceu uma criança bela e orgulhosa de um pai talentoso, Leone, mãe incógnita, como é apanágio do género, e dois irmãos cujas estrelas brilharam no mais alto firmamento do género, e não só, e possivelmente o melhor vilão do género, o enormíssimo Gian Maria Volontè. Para quê mais palavras? Quem já o vi, reveja-o, quem não o viu, não sabe o que está a perder…
ResponderEliminarAdorei o filme, a dança entre Clint Eastwood e Lee Van Cleef dá uma cor e um ritmo ao filme que o torna especialissimo!!!
ResponderEliminarQuem não viu, convido a ver! quem já viu com certeza que não esqueceu!
Grande,grande,grande. Já perdi as contas de quantas vezes assisti a esse monumento de filme. Grandiloquente, barroco e genial. Gian Maria Volonté é o grande ator dessa ópera western.Nesse filme ocorreu o encontro de vários gênios:o diretor Sergio Leone, o fotógrafo Massimo Dallamano (injustiçado porque só se recordam de Tonino Delli Colli que veio depois), e o compositor Ennio Morricone, sem contar os técnicos de grande competência. Eu gostaria de assistir a edição restaurada onde parece ter sido recuperadas algumas cenas cortadas à época da distribuição em 1965.
ResponderEliminarTonino Valerii defende que Massimo Dallamano foi o grande inventor e responsável pelo uso frequente de grandes planos das caras e olhos dos atores. Neste filme houve também um encontro de excelentes vilões, nomeadamente Klaus Kinski, Luigi Pistilli, Mario Brega, Benito Stefanelli, Aldo Sambrell e Roberto Camardiel.
ResponderEliminarFelizmente o filme quase que não teve cortes naquela época, ao contrário dos filmes seguintes de Leone. A sua duração total é de 130 minutos. Pelo menos na Europa os DVD disponíveis em muitos países estão quase todos com a versão completa.
E alguém reparou no novo anuncio do Lancia Ypsilon? Mais um a usar a fabulosa musica deste filme. Grande Morricone!
ResponderEliminarFica aqui um link da versão italiana, em tudo idêntica à que passa nos intervalos das televisões portuguesas:
http://www.youtube.com/watch?v=XN24O-jhDPA
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Pedro Pereira
http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
http://auto-cadaver.posterous.com
Basta dizer que é um Leone. Faz parte da trilogia dos dólares, o que, em seu conjunto, representa o melhor do faroeste em todos os tempos.
ResponderEliminarPode assistir que não enjoa. Cinema de verdade.
Olá. Já há algum tempo que vou lendo este blog que mostra grande dedicação pelo western spaghetti, género pelo qual sou "fanático". Escrevi sobre Sergio Leone e Por um Punhado de Dólares, no meu blog http://davidlfurtado.wordpress.com/.
ResponderEliminarParabéns e continuem.
David Furtado
Sim, Pedro Pereira, o anúncio do Lancia, com a "caixa de música", os fãs reparam. ;)
ResponderEliminarDavid
La esencia del spaghetti. Para mí la mejor de la trilogía del dólar.
ResponderEliminarNão há dúvida que este é realmente um dos exemplos em que a essência do subgénero está bem presente!
ResponderEliminarQuem não gosta deste filme de certeza que não gosta de westerns-spaghetti.
De todas as versões em DVD deste filme que já vi, a melhor, de longe, é a edição da PARAMOUNT alemão, imagem cristalina, som magnífico e mais alguns minutos, que se resumem a umas breves palavras que Índio dirige aos seus homens quando Manco e Mortimer fogem de pois da surra que apanham, nada de grande importância. Aliás, a mesma companhia lançou também na mesma altura POR UM PUNHADO DE DÓLARES, também, na minha opinião,a melhor versão DVD deste filme.
ResponderEliminarOlá a todos. Não sei dizer qual dos três é o meu favorito, já que se complementam. Deixo aqui o link para a continuação do texto sobre a trilogia:
ResponderEliminarhttp://davidlfurtado.wordpress.com/2012/02/10/por-mais-alguns-dolares-a-hora-certa-em-almeria/
Concluirei com um texto sobre o Bom, o Mau e o Vilão.
Obrigado ao Pedro pelo comentário ao anterior texto. ;)
Abraços e continuação de bom trabalho.
David
Boas,
ResponderEliminarHaveria muito para dizer sobre esta obra-prima, mas só vou referir o facto de ester ser o unico da triologia e dos western do mestre com o Klaus Kinski, que é um secundário espectacular neste filme.
Abraços
Vitor Louçã
Um excelente filme de Leone, a dupla Estawood/Cleef é ecxelente, além de Gian Maria Volonté, Luigi Pistilli, Mario Brega e o sencasional Klaus kinski, sobre cenas deletadas , em um desses Card tem o Kinski atirando de cima de um telhado, mas não me lemboro dessa cena no filme, infelizente se essas cenas deletadas aparecem no Youtube, em pouco tempo ela é removida, agora quem mandou a MGM mutilara Il Buono, Il Brutto, Il Cativo ?
ResponderEliminarEm qualquer filme há sempre muitas cenas que foram filmadas mas nunca foram incluídas na versão final por opção do realizador. Essa de Klaus Kinski a disparar em cima do telhado deve ser uma de dezenas...
ResponderEliminarUm spaguetti arrebatador, música arrebatadora, o ator Gian Maria Volonté roubou a cena, com suas gargalhadas hitéricas e soberbas, e com seus comportamentos sinístros.
ResponderEliminarEmanuel a edição do VHS que foi lançado aqui no Brasil na década de 90 pela MGM/UA Home Vídeo continha exatos 127 min. Se você diz que a versão completa aí na Europa é de 130 min, então estou louco para saber o que eu perdi nos 3 min cortados no VHS, mesmo que não acrescente nada em termos de estória e ação, pois com certeza terá um daqueles closes coloridos e arrebatadores de Dallamano.
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