16/01/2012

Quella sporca storia nel west (1968 / Realizador: Enzo G. Castellari)


Quem diz que os westerns-spaghetti são produções sem sentido levadas a cabo por gente inculta não tem consciência das baboseiras que está a dizer! Tanto pior quando isso é dito por palhaços que deliram com os filmes de meninas que passam a vida no centro comercial e no cabeleireiro! Mas atenção: Eu também dou a mão à palmatória e já vi westerns-spaghetti tão maus que até metem ranço! Mas neste caso isso não se aplica. Quem diria que o dramaturgo William Shakespeare, vários séculos após a sua vida e obra, ia ser o principal responsável por um western? Para algumas cabeças de burro pode custar a acreditar mas é verdade. A tragédia “Hamlet” transformou-se num western de qualidade!


Beber ou não beber... eis a questão!.

Senão vejamos: O veterano de guerra Johnny acorda numa praia acompanhado por um grupo de saltimbancos / atores que ensaiam uma peça de Shakespeare. Enquanto dormia teve um sonho macabro em que o seu pai era agora um fantasma porque terá sido cobardemente assassinado. Ao chegar a casa o choque é total: o seu pai morreu e está sepultado num cemitério lúgubre dentro de uma gruta, a sua mãe casou com o seu tio e ambos vivem à grande e à francesa, a sua namorada perdeu o fulgor da paixão e o único que se mantém fiel é o seu velho amigo Horácio. Perante tal confusão, Johnny tem agora como principal objetivo descobrir o assassino do seu pai e, consequentemente, “acabar-lhe com as tosses”.


Uma cruel crucificação!

Os personagens mais importantes estão bem presentes: o tio Cláudio, a mãe Gertrudes, o amigo Horácio, a namorada Ofélia e, claro está, o protagonista Johnny (Hamlet). A ideia para este filme partiu de Sergio Corbucci mas inexplicavelmente decidiu abandonar o projeto e cedeu o seu lugar. Os produtores entraram em contacto com outros realizadores e a escolha caiu sobre o jovem Enzo G. Castellari. Destaco o ótimo trabalho musical de Francesco de Masi, que abre com uma bonita canção interpretada por Maurizio Graf, e em alguns momentos a música acentua ainda mais o elemento fantasmagórico alusivo ao espetro do pai de Hamlet.


Horácio pronto a disparar.

Descobri este filme há relativamente pouco tempo e após várias visualizações fiquei rendido. Apenas aponto um defeito que faz toda a diferença: o termo “tragédia” implica sempre a morte do protagonista no final mas esta versão de “Hamlet” tem um final diferente. Acho que foi um erro mas consigo perceber o porquê dessa decisão. Naquela época não era habitual haver filmes com um “final triste”. Os poucos que tentaram isso estavam quase sempre condenados a críticas severas e à mercê da tesoura da censura e dos cortes dos grandes estúdios, que exigiam finais alternativos.


Gilbert Roland e o seu bigode à escovinha!

É realmente uma pena haver tão poucas edições DVD. É urgente que as editoras europeias acordem e coloquem à disposição do público novas e melhores versões. Se William Shakespeare ainda fosse vivo teria tudo para ser um ávido fã de westerns-spaghetti. Mas como ele já não está entre nós há alguns séculos acredito que o seu espetro deve estar orgulhoso deste trabalho de Enzo G. Castellari.

14 comentários:

  1. um western spaghetti 5 estrelas e excelente artigo,amigo Emanuel, percebo a tua opinião sobre o final, mas compreendo-a, o mesmo acontece no "Romeu e Julieta", o também excelente "a fúria de Johnny Kidd", não era fácil "matar" os protagonistas. Quanto a edições DVD, pode haver poucas deste filme, mas o DVD da Koch Media é exccelente, muito difícil de ser igualado.

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  2. Parabéns Emanuel Neto pelo grande artigo.Realmente sempre nos deparamos com gente que diz que o western spaghetti não tem conteúdo, só tem violência, etc. etc. São cegos, mudos, surdos e com sérios aleijões no intelecto. Já me bati com entendedores de cinema, que só entendem o cinema se for americano, feito em holywood. Acham que os diretores do spaghetti eram pessoas incultas,de países pobres material e culturalmente. Ledo engano,tamanha ignorância desses pobres coitados.Esse gênero foi inventado por pessoas de um continente que foi berço do maior movimento artístico e cultural que o mundo já teve: o Renascimento. Eu pergunto: por que tantos diretores tentam imitar o spaghetti?Porque tantos atores foram para a Europa e até mesmo diretores? A grande verdade é que o mundo ficou perplexo, boquiaberto com tamanha criatividade.O que tem muito por trás dessas pretensas opiniões de "entendidos" é dor de cotovelo.

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  3. Os ignorantes que defendem que só Hollywood sabe fazer cinema nem sonham que muitos realizadores americanos aprenderam na escola as técnicas usadas por Leone, Corbucci, Tessari, Margheriti ou Castellari.
    Mas como é óbvio, esse pessoal que adora ver e comentar os vestidos das atrizes nas passadeiras vermelhas de Hollywood nem sequer sabem o que foi o Renascimento!

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  4. Un excepcional spaghetti, de lo mejorcito rodado por Castellari. Técnicamente impecable (las escenas en la cueva son magistrales) y con una mayor profundidad que la mayoría de los westerns hechos en Europa. Estoy de acuerdo contigo en que es urgente una edición acorde con la calidad de la película.

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  5. Realmente é um filme de topo. Mais um que deixa o meu sócio Emanuel profundamente indignado!

    A questão da falta de edições do filme também me choca. O DVD italiano parece não ser nada de especial e o alemão da Koch Media que o António Rosa refere não está a ser vendido a preço de amigo para os dias de austeridade que vamos vivendo.

    Era bom que saísse uma nova fornada dessa edição, com certeza o preço baixaria.

    --
    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://auto-cadaver.posterous.com

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  6. @ Pedro, na época, quando foi lançado, comprei o DVD da Koch a um preço muito razoável, agora, pelo que vejo, rareia e está muito caro, todavia, garanto-te que é uma das melhores edições de um western spaghetti em DVD.
    Um abraço

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  7. O DVD italiano não apresenta o filme no seu formato correto (que é em 2.35:1). A editora Koch, nos últimos meses, parece que anda a perder algum gás nas edições westerns-spaghetti.
    Será que o amigo António Rosa sabe o título deste filme em Portugal?

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  8. É pena que eles estejam a reduzir na dose. A série "arco-íris" parece que foi barrada e das edições avulsas vai-se vendo pouco. Seja como for ainda me faltam alguns títulos da dita série colorida por isso vou continuar a investir neles.

    --
    Pedro Pereira

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  9. @ Emanuel, o título português é JOHNNY HAMLET e sim, a edição da Koch apresenta o filme no seu formato original, 2.35.1;

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  10. Boa noite pessoal da troika

    Ainda não vi este Django, mas reconheço que o Lobby alemão é forte.

    Fora de brincadeiras, mais um na minha lista de espera, tudo porque não sou grande fã do Shakespeare, sou mais Cervantes mesmo.

    Abraço

    Vitor Louçã

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  11. :)

    Valha-nos o humor em tempo de crise e concertações "sociais".

    --
    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://auto-cadaver.posterous.com

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  12. Já que se fala de Shakespeare, Cervantes ou Homero, qualquer dia aparece alguém suficientemente passado para transformar OS LUSÍADAS num western!!

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  13. Os grandes realizadores John Ford e Raoul Walsh já morreram, só eles o poderiam fazer, ambos usavam pala no olho como Camões...

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  14. Não sei se dava para fazer dos Lusíadas um spaghetti, mas certamente daria um filme de aventuras e pirataria de respeito!

    --
    Pedro Pereira

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