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13/06/2021

Odio per odio (1967 / Realizador: Domenico Paolella)

 

Os fãs de coboiadas têm sido brindados pela Fox Movies Portugal com uma programação farta. O recente mês de Maio então, foi um non-stop de westerns, com a balança pender  largamente para a variante italiana. Por entre clássicos e outros títulos já batidos na programação, desta vez surgiram também algumas novidades de maior interesse. A mim despertou-me especial curiosidade este “Odio per Odio”. O filme não consta na cada vez mais longa lista de westerns-spaghetti com edição Blu-ray. Na verdade, à data que escrevo este texto existe apenas uma edição brasileira cortada e com proporções incorrectas e um DVD-R on demand da Warner Brothers Archive Collection. Nem mesmo no Videoclube do Sr. Joaquim se encontra o dito sem ter que escarafunchar. 

“Ódio por Ódio” é o primeiro western dirigido por Domenico Paolella, realizador já veterano por essa altura e que colecionava alguns sucessos, sobretudo em comédias e filmes peplum. Ora, em 1967 esse filão tinha os dias contados e naturalmente também ele transitou para os westerns. Aí chegado e rodeando-se de alguns dos suspeitos do costume – Mario Amendola, Bruno Corbucci, Fernando Di Leo – coescreveu este “Ódio por Ódio”, título comum em Portugal e Brasil. Tanta carola junta é normalmente sinal de que o argumento saiu a ferros, mas o resultado, não sendo fantástico, consegue ser suficientemente interessante para manter o espectador desperto na totalidade da sua duração. 

Miguel prepara a emboscada.

Cooper, interpretação do Canadiano John Ireland, é um velho assaltante de bancos procurado pela lei. Certo dia ele e um compincha de ocasião esvaziam mais um banco. O plano era entrar e sair com o dinheiro sem desferir qualquer tiro, mas o seu parceiro que é mau como as cobras resolve eliminar todos os funcionários à facada. Só porque sim. Entretanto, Miguel (Antonio Sabàto), um maltrapilho mexicano fica barrado à porta. O desgraçado só queria fazer o levantamento das suas poupanças e seguir caminho, mas escolheu o momento errado. Ao aperceber-se do que estava a acontecer, resolve seguir os bandidos interceptando a carroça já em pleno deserto. Na sua rectidão, Miguel apenas exige restituição do que lhe é devido, mas por azar alguém à distância observa a transação, denunciando ambos às autoridades. 

Os dois são rapidamente presos e julgados, mas as suas sortes serão muito diferentes. Cooper vai parar a um campo de trabalhos forçados onde acaba por contrair malária. Já Miguel, consegue uma benesse e acaba por ser libertado depois de um tipo chamado Coyote subornar o Juiz. Ficando por isso em dívida para com ele. Enquanto isso, Cooper apodrece na carcere, mas jamais revela o paradeiro de dinheiro roubado e o seu antigo sócio não está com meias medidas raptando-lhe a filha. Certa noite ele e os seus capangas infiltram-se nas instalações por forma a resolver a coisa de uma vez por todas! Mas o velho matreiro consegue escapar miraculosamente, qual Mandrake. Já cá fora, com a ajuda de Miguel, confronta os bandidos. E mais não conto.

Este é Cooper, um bom malandro.

Este era o único western-spaghetti protagonizado por Antonio Sabàto que ainda me faltava riscar da lista, e que bela surpresa foi! O seu personagem, é um tipo pacato estigmatizado pelos gringos e pares, uns por motivos raciais e outros pela sua ambição. Ele só quer largar a vida de prospector de ouro e rumar a Nova Iorque e dedicar-se ás artes. Poderia ser apenas uma sugestão de construção de personagem, mas certo dia quando os capangas lhe atacam a casa, ele faz uso dessas valências montando um complexo esquema de articulações que lhe permite embutir chumbo em todas as direcções, iludindo os patifes, que julgavam estar a duelar-se com um largo número de oponentes. É um dos momentos mais divertidos do filme! John Ireland entrega também uma credível prestação, um grande ator que não gozou de enorme popularidade, mas que muito honrou o género com a sua presença. A ligação entre os dois personagens ainda que não envolta de grande sofisticação funciona perfeitamente. 

O que me parece que funcionou menos bem foi o desenlace final. Tem contornos de revolução à moda dos zapata-westerns, mas que julgo deveria ter sido um pouco mais dramatizada. Em vez disso, Paolella optou pelo confronto entre facções com uma verdadeira chuva de fogo, na minha opinião demasiado extensa e não coincidente com o ritmo do filme. Paolella faria logo de seguida um outro western, As Duas Pistolas de Bill, um filme menos convencional, mas que também recomendo aos fanáticos das coboiadas italianas. Recordar que Antonio Sabàto faleceu já este ano vítima de Covid-19. Ele foi um actor que deixou pegada no género, com uma porção considerável de títulos dos quais se destaca o popular “À Margem da Lei”, onde contracenou com Lee Van Cleef e o então barbeado Bud Spencer. O seu primeiro papel de relevo foi no clássico de corridas de John Frankenheimer “Grande Prémio” em 1966. 

  Tomaram este mexicano por parvo. Agora levam o bucho cheio de chumbo!

Nas décadas seguintes foi astro em dezenas de filmes série-B, desde giallo, policiais, pós-apocalípticos, guerra, etc. Deixou ainda neste mundo o Antonio Sabàto Jr. que também seguiu as pisadas do pai, estabelecendo-se nos Estados Unidos como actor e modelo. Daria um tiro no pé ao apoiar publicamente a eleição de Donald Trump nas presidenciais de 2016, um dos primeiros actores ilustres a fazê-lo, o que lhe valeu um cartão vermelho das elites de Hollywood. 

30/12/2020

Per qualche dollaro in meno (1966 / Realizador: Mario Mattoli)


Bill, vice-caixa do banco de Silver City descobre um déficit de 100 dólares ao contabilizar os movimentos do dia. Aterrorizado pela fama do chefe do banco, enceta uma tramóia para recuperar a diferença. Para consegui-lo terá a ajuda do primo Frank, que se propõe a torná-lo num fora-da-lei e consequentemente ser ele a capturá-lo e colectar a recompensa. Mas a falta de astucia de ambos, trará resultados desastrosos. O título é esclarecedor. Estamos na presença de uma paródia ao segundo filme da trilogia dos dólares, “Por mais alguns dólares”


Este bandido de meia-tijela está em apuros.

O elenco é composto pelo trio, Lando Buzzanca (o vice-caixa / Clint Eastwood), Raimondo Vianello (o primo / Lee Van Cleef), e Elio Pandolfi (o mexicano / Gian Maria Volonté). A realização é de Mario Mattoli, senhor de uma larga carreira por altura da feitura deste “Per qualche dollaro in meno” e um velho especialista no mundo da comédia italiana. Com um currículo que inclui entre outros, várias incursões na bem conhecida franquia «Totò». 

Por esta altura Buzzanca também vestiu as peles do James Tont, paródias 007 realizadas pelo mano Bruno Corbucci.

O roteiro é da mão dos irmãos Corbucci (em parceria com Mario Guerra e Vittoriano Vighi), o que adiciona um interesse extra ao filme. Recorde-se que só nesse ano, Sergio Corbucci assinou três westerns: “Ringo e a sua pistola de oiro” (1), “Navajo Joe” e o sublime “Django”. Onde raio encontrou ele tempo para escrever ainda outro western? E porque se haveria ele de meter num negócio destes? Nunca saberemos.


Personagens exageradas, marca do cinema cómico italiano.

Numa breve conversa com um velho conhecido dos fóruns do Spaghetti Western Database, Simon Gelten, dizia-me ele que tentou ver o filme uma certa vez, mas rapidamente abandonou a tarefa. É compreensível. Como é característico na comédia italiana, as personagens são extremamente teatrais, barulhentas e genericamente difíceis de suportar. Do trio, o vice-caixa é de longe o que mais se enquadra neste estereotipo. O culpado é esse tal de Lando Buzzanca, um tipo de Pallermo que ascendeu ao estrelato justamente por fazer papéis de palerma!


Poster italiano de "James Tont operazione U.N.O.", obviamente uma paródia aos filmes do 007.

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1. “Ringo e a sua pistola de oiro” terá sido rodado em 1965 mas apenas finalizado e lançado no ano seguinte. 

25/10/2011

Dai nemici mi guardo io! (1968 / Realizador: Mario Amendola)

No pós guerra civil, Alan Burton (Charles Southwood) vagueia pelo deserto com uma sela ás costas. Ao longe avista uma diligência que aborda e a troco da sua sela consegue autorização para subir e seguir viagem. Eis que pouco depois, um grupo de homens a cavalo ataca a diligência. O objectivo dos agressores é sequestrar um dos passageiros, um militar do derrotado exército sulista. Escamoteando-se habilmente, o nosso herói acidental consegue abater os delinquentes a tiro de Winchester.

No meio da troca de balas também o Major acaba por ser baleado, mas antes de morrer transmite um rico segredo a Burton. Um valioso tesouro confederado fora refundido e para determinar o seu paradeiro será necessário possuir três moedas de dólar muito especiais. Nestas estão estampados os códigos que determinam a localização exacta do lote. Burton lança-se então na busca das outras duas moedas.


As reminiscências a “Il buono, il brutto, il cattivo” são óbvias. Temos um tesouro escondido e imaginem só, três tipos atrás dele (um gringo, um mexicano de intenções dúbias e um mauzão que por breves momentos até une esforços com os bonzinhos da fita). E como se não bastasse temos também um Charles Southwood que aqui e ali replica o modus operandi usado por Clint Eastwood na trilogia do «Homem sem nome». A versão dobrada em Inglês que tive a oportunidade de assistir comprova-o. Mas desenganem-se, este “Dai nemici mi guardo io!” fica a léguas da qualidade do terceiro western de Sergio Leone.

“Dai nemici mi guardo io!” (também conhecido como “Three Silver Dollars”) foi até ver o único filme realizado por Mario Amendola que assisti. Todavia mesmo que não lhe possa exigir créditos na cadeira de realizador confesso que esperava muito mais de uma pessoa envolvida nos argumentos de alguns westerns-spaghetti que bastante aprecio – “Il grande silenzio” ou “Winchester, uno entre mil” – mas que afinal aqui se limitou a recontar mais uma caça ao tesouro no oeste selvagem. Espalhando-se ao comprido na abordagem sobre a ganância humana.


No campo das interpretações a coisa não corre muito melhor, especialmente ao nível dos chamados «extras», que diga-se são mesmo muito pouco convincentes. Para nosso contentamento, ao menos a estrela do cartaz – Charles Southwood – garante os requisitos mínimos do pistoleiro sedento por ouro. Esta foi apenas a sua segunda aparição no cinema, na primeira fora curiosamente dirigido pelo amado/odiado Demofilo Fidani. Na verdade Southwood não faria grande carreira no cinema, mas apesar do curto portfolio haveria de ganhar alguma fama graças ás bizarras personagens que interpretou nos westerns de Giuliano Carnimeo (“C'è Sartana... vendi la pistola e comprati la bara” e “Testa t'ammazzo, croce... sei morto... Mi chiamano Alleluja”).

Actualmente “Dai nemici mi guardo io!” apenas está editado no mercado germânico, o DVD segundo consta é de fraca qualidade pelo que esperemos que uma cópia decente surja num futuro breve. Enquanto isso não acontece resta-nos aproveitar as maravilhas do mundo digital, que vai disponibilizando algumas versões ripadas das velhinhas cassetes de VHS.



Eis mais algumas imagens do filme, porque vale a pena contemplar Alida Chelli, filha do maestro Carlo Rustichelli:



04/11/2009

Django (1966 / Realizador: Sergio Corbucci)

Quando se aborda o tema westerns-spaghetti, o primeiro nome que vem à memória da esmagadora maioria é “Sergio Leone”. É com inteira justiça que isso acontece, já que foi o grande mestre do género e realizou obras marcantes. Contudo, Sergio Corbucci segue de muito perto o seu compatriota, se tivermos em conta as suas duas obras-primas: “O grande silêncio” e Django. Concentremo-nos neste último. O ano é 1966 e várias dezenas de westerns-spaghetti surgiram no grande ecrã até à data. Alguns desses filmes são maus, uns são medianos, outros são agradáveis, outros muito interessantes mas quase todos ainda bebem inspiração da abundante fonte clássica americana. Eis então que surge “Django”, uma obra genial que consegue em alguns aspectos ir ainda mais longe que “Por um punhado de dólares”.


O que há dentro do caixão?

“Django” define perfeitamente o que é o western-spaghetti: violência, crueldade, sadismo, vingança, ambição, abundância de símbolos religiosos (caixão, cruzes, cemitérios) e, naturalmente, muitos tiroteios e respectivos cadáveres. As paisagens lúgubres, a cidade de aspecto desolador, enlameado e fantasmagórico, as cores escuras falam mais alto e são o ponto de partida para um marco da história do cinema. O sucesso foi de tal forma gigantesco que deu origem a dezenas de outros filmes com o nome do protagonista mas nenhum deles chegou sequer aos seus calcanhares (o nome tem a ver com um músico de jazz europeu chamado Django Reinhardt).


Este ouro é meu!

O enredo é simples: Django chega a uma localidade praticamente deserta a arrastar um caixão e envolve-se no meio de um conflito entre mexicanos revolucionários liderados pelo General Hugo e os fanáticos sulistas da Ku Klux Klan do Major Jackson. O objectivo é enriquecer às custas dos mexicanos e vingar-se de Jackson, o culpado pela morte da sua mulher. Após muita violência e um elevado número de mortos, Django defronta o seu inimigo mortal no cemitério.


Django ficou com o focinho todo amassado!

Dito desta forma até parece um filme perfeitamente banal mas a maneira como este projecto foi concebido (cenários, armas e figurinos são da responsabilidade de Carlo Simi) foi magnífica. A fotografia de Enzo Barboni e a arrepiante música do argentino Luís Enriquez Bacalov são excelentes. O leque de actores, liderados por Franco Nero, que passou de desconhecido a super vedeta, é composto por Loredana Nusciak, José Bodalo, Eduardo Fajardo e Angel Alvarez.


Hoje temos orelha de porco para o jantar!

O sucesso desta obra-prima foi proporcional à polémica. A censura inglesa, por exemplo, baniu o filme até início dos anos 90 devido à excessiva violência (cortar uma orelha, esmagar mãos, chicotear mulheres) mas contra todos esses atritos “Django” resistiu e é hoje um filme de culto e obrigatório a todos os fãs do género. Hoje em dia é muito fácil comprar edições DVD deste filme em qualquer loja on-line excepto em Portugal, que é uma pobreza franciscana. Eu optei pela edição espanhola que tem boa qualidade de som e imagem (1.85:1). Não existem filmes perfeitos mas, na minha opinião, “Django” roça a perfeição.