POR UM PUNHADO DE EUROS

11/11/2025

Spara Joe... e così sia!!! (Italy · Spain 1971 / Emilio P. Miraglia) | SpagvemberFest 2025

 

A segunda semana para maratonar westerns europeus começou. Para não correr riscos desnecessários tentei escolher um filme do qual tinha já algum feedback positivo e que precisava ver para dar como encerrada a vistoria da filmografia western do gringo Richard Harrison.

Durante muitos anos só se encontravam versões dobradas em francês de "Joe Dakota", título genérico adoptado em vários países (em Portugal não terá estreado em sala). Mas mais recentemente algum benemérito gravou a exibição na televisão espanhola e disponibilizou-a no YouTube. 

Tudo começa com um inusitado assalto a um banco. O artifício montado é grande mas o acto corre mal e o bando é encurralado pelos cidadãos. Como diria o Nicolau Breyner:
“Tá tudo preso, seus cabrões!”. 

Todos, excepto o chefe do bando, que se escapa com o dinheiro e segue marcha até ao bordel mais próximo (sim, este filme explora alguns nus). Mas o bando consegue escapulir-se sem grande dificuldade e começa imediatamente a caça ao pantomineiro, que acaba ferido e num último suspiro dá um mapa a um forasteiro que o auxilia nos seus momentos finais.

Até aqui, tudo bem. Mas depois disto o interesse do filme escapule-se. Ficando a descoberto a enorme falta de orçamento com que esta equipa terá trabalhado. Também não me conectei com a personagem interpretada pelo Richard Harrison. Ele que em 1971 protagonizava mais outros quatro westerns. As contas não se pagam sozinhas, não é?! 

Este foi o único western de Emilio Miragla. Reconheço que não conheço absolutamente mais nada do trabalho dele mas pelo que vi no IMDB pareceu-me mais talhado para o terror. Fiquei bem mais interessado nesse material, admito. 

Visto via YouTube, aqui.

RIP Tatsuya Nakadai


Faleceu aos 92 anos, Tatsuya Nakadai. Lenda do cinema japonês e por uma vez, estrela de um western-spaghetti. RIP.

10/11/2025

La muerte busca un hombre (1970 / Director: José Luis Merino) | SpagvemberFest 2025


Depois da overdose Zabalza, voltei às revisões. E ontem calhou rever este "O Caçador de Prémios", western realizado pelo madrileno José Luís Merino, que recordo, deu-nos uma bomboca chamada "A Justiça de Gringo". Não via este filme há mais de dez anos. Na época vi-o através de um DVD da editora espanhola Divisa, que comprei numa passagem por Badajoz. Coisa que me deve ter custado uns 5 paus. A imagem dessas edições nunca é espetacular mas na época havia muita carência de opções e o catálogo da editora permitiu-me alargar os horizontes no género sem ficar na penúria.

Desta vez não precisei sequer de levantar o rabo do sofá, foi só vasculhar as gravações da box e lá estava ele a chamar por mim. A imagem com que começa a introdução assustou-me mas depois a coisa muda para melhor. E nesta versão exibida na TV cabo nacional a dobragem é a italiana que difere num aspecto essencial: o nome do personagem interpretado por Carlos Quiney. Na versão espanhola era um genérico George Forsythe mas na italiana ele apelida-se Sartana. Ora, como seria de esperar, ele não tem nada a ver com o mítico Sartana da saga protagonizada pelo grande Gianni Garko.


Sartana, chamemos-lhe assim, tem junto da sua companheira um esquema prolífero. Nos saloons de mal fama deixam “escapar” a informação de que estão bem abotoados, o que incentiva os amigos do alheio a atacá-los quando se fazem à estrada. Não sabendo na armadilha em que se metem, são os meliantes que acabam chumbados por Sartana, que assim arrecada os prémios afixados sob as cabeças destes bandidos de má sorte.

Numa espécie de segunda parte do filme a acção fica mais centrada no enigmático personagem interpretado por Peter Lee Lawrence e num bando de drogados que escravizam uma tribo índia. Os problemas começam aqui. As índias mais sexys que o género já viu tem os pares masculinos menos verosímeis do western europeu (e daí talvez não, mas certamente uns dos piores).

Sem dúvida que Merino estava sem dinheiro para elevar a produção e as ideias estavam escassas. O vilão deste arco é por isso uma versão sem brilho do “el índio” (Por Mais Alguns Dólares). Curiosamente na ponta final do filme esse janado enverga um poncho de pele de jaguar, provavelmente o mesmo que Lang Jeffries usou um par de anos antes no tal "A Justiça de Gringo". 

Gostei da ponte entre os dois filmes e até admito que no geral ele conseguiu entreter-me. Não tivesse tantos bloopers descarados, até entraria noutro campeonato. Assim, fica-se pela Liga 3.

Visto via Star Movies.


09/11/2025

20,000 dólares por un cadáver (1970 / Director: José María Zabalza) | SpagvemberFest 2025


Há muitos anos, apanhei a estreia em televisão do filme “Até Amanhã, Camaradas”, que adaptava a obra homónima de Manuel Tiago, pseudónimo de Álvaro Cunhal. O filme retratava o Portugal dos anos quarenta, oprimido por uma ditadura retrógrada. E era um filme estava há muito no boca-a-boca os lagóias por ter sido filmado parcialmente na cidade de Portalegre.

Numa das cenas com cenário mais reconhecível, a guarda nacional carregava a cavalo sobre um grupo de desgraçados. Isto dava-se no largo da igreja dos mortos (Igreja de São Tiago) e continuava pela rua do Carmo. Ao descerem, encontram-se já sobre as margens do rio. Ora, como é sabido não temos rio a banhar a cidade. Fiquei para sempre com estas imagens como exemplo máximo de como o cinema pode ser mágico. Fui-me lembrar disto porque neste “20.000 dólares por un cadaver” temos o mesmo tipo de cena, mas com um resultado nos antípodas. 

Este é o terceiro filme da saga rodada em sete semanas por José María Zabalza. E apesar de estar uns furos acima do filme anterior, não escapa à mediocridade. Vi-o no YouTube onde já conta com 82000 visualizações, números fortes para uma produção deste tipo. Dei-me ao trabalho de ler o que dizem os incautos que tomaram a mesma decisão que eu. E sem surpresa vejo que estamos todos em sintonia sobre a qualidade do filme. Alguém escrevia sagazmente: Para mim, um guião estúpido, dos piores que já vi!

A somar a estas 82000 criaturas, temos os números oficiais de bilhetes vendidos na época de lançamento, 563719.  Voltamos então à magia do cinema. Conseguem imaginar um veículo que consiga “enganar” tão eficazmente tanta gente?!

O facto é que Zabalza já se gabarolava na famosa entrevista ao Fotogramas, de 19 de Setembro de 1969 que antes sequer de terminar os filmes, eles já estavam vendidos para o mercado Grego, Belga, Africano e Sul-Americano. O negócio corria-lhe bem e o seu objectivo de fazer filmes b despretensiosos realizava-se. Ainda bem para ti Zequinha!

A história deste filme volta a ter os caminhos de ferro como mote e mais uma vez teremos as mesmíssimas localizações. Até a cena do rancho em chamas é aqui reutilizada. E desta vez o protagonismo vai para Miguel de la Riva que interpreta um simples rancheiro que se vê obrigado a mudar de vida depois de uma inesperada visita de um estranho que quer sabotar a nova ferrovia. Até aqui tudo bem, mas 10 minutos depois as coisas desandam de tal forma que fica difícil explicar o que raio se passa ali. Piorando e piorando até ao ápice. 

Obviamente que não vos recomendo a experiência. Nem deste, nem dos anteriores. Já eu depois de recalcar estes últimos dias, conto conferir o último western de Zabalza, “Al oeste de Río Grande”, que lançou já na década de oitenta. 

Visto via YouTube, aqui.


08/11/2025

Los rebeldes de Arizona (1970 / José María Zabalza) | SpagvemberFest 2025

 

Ontem estive quase a meter dia de folga na maratona SpagvemberFest. Mas acabei por ver o segundo filme dos três filmados simultaneamente por Zabalda. Em retrospectiva mais valia ter levado uma paulada na cabeça. Irra, que filme foleiro. Nem o Demofilo Fidani consegui fazer pior. 

Como esperava, o elenco de “Plomo sobre Dallas” repete presença ainda que em papeis diferentes. Excepção de Guillermo Méndez que faz reprise no papel de xerife. Os paralelos entre esses dois filmes são enormes e até nomes de personagens e locais se reciclam. O que acho simplesmente inexplicável. 

E se no filme anterior estava claro que os figurantes eram um problema, neste a coisa alastra ao elenco secundário. Até um actor respeitado como Luis Induni faz figura de palhaço no meio desta embrulhada. 

Um jovem casal, Allan (Charles Quiney) e Peggy (Claudia Gravy), entram na cidade em busca de um juiz para que os case. No saloon da cidade conhecem o xerife local, que concorda em realizar o matrimónio. A festa dura pouco já que uns arruaceiros andam a dar toque de lume a todos os que fazem frente ás intenções do ferrovia. 

Acção que os impulsionará a enredar numa série de assaltos em que invariavelmente têm sucesso apenas para na cena seguinte perderem os lucros. Possivelmente Zabalda terá visto o “Bonnie e Clyde” do Artur Penn e achou boa ideia fazer uma variante western.

Na entrevista que consegui ler no blog Mon nom est Personne, Zabalda descreve resumidamente o enredo do filme que na versão final pouco se encaixa no que descrevo acima. Acredito que o caminho do filme tenha sido trilhado dia-a-dia e para azar de todos nós, temos como resultado um filme péssimo. Cheio de infantilidades, erros de continuidade e cortes feitos a machado. 

Isto em Itália foi lançado como “Adios Cjamango”, o que seria uma continuação do filme de Edoardo Mullargia, que não sendo brilhante, dá um bigode neste “Los rebeldes de Arizona”

A razão diz-me que deveria dar uma trégua, e deixar o terceiro filme desta produção maldita para outro dia, mas algo me diz que vou mesmo arriscar em vê-lo ainda hoje. Amanhã vos direi.

Visto via YouTube, aqui.