Chegou a hora de encarar os westerns-spaghetti de Franco Lattanzi, realizador de quem não reza a história. Comecei a tarefa por este “Il giustiziere di Dio”, que julgo não ter tido exibição por cá sequer. A premissa do filme até parecia simpática, afinal de contas toda a gente gosta da ideia de ter um padre com passado obscuro a desancar a patifaria. Ainda há dias assisti ao novo filme do Jess V. Johnson, “The Mercenary”, também ele uma produção de baixo orçamento que segue esse tipo de narrativa com resultados satisfatórios, mas não é o caso deste "Il giustiziere di Dio". O elenco principal é bastante decente (Willian Berger, Donald O'Brien, George Wang) mas a narrativa demasiado complexa misturada com diálogos/interpretações dignas de miúdos da quarta-classe arruínam completamente o resultado, tornando-o quanto muito, numa comédia involuntária.

Todo o bandido tem um anjo da guarda?
O gangue dos «três ases» cavalgam adentro da cidade de Abilene onde interrompem a execução de um dos seus compinchas, no entanto um cidadão de bem mais zeloso resolve espetar-lhe uma bala no bucho. Enquanto definha o quase-finado ainda sussurra a localização de um esconderijo repleto de lingotes de ouro. O ouro está escondido numa missão que o gangue manda pelos ares, a fim de deitar-lhe a mão. Promete acção mas na realidade é tudo filmado de longe ou sugerido, acção e emoção, nem vê-la.

O gangue mais ridículo que possam imaginar.
O gangue é no mínimo pitoresco, com três líderes mascarados com lenços amarelos pintados com símbolos do baralho de cartas. O método parece refinado, só fazem assaltos em cidades que não aquelas em que residem e usam os lenços com o propósito de manter a sua identidade incógnita, porque afinal são cidadãos respeitáveis. Tudo muito certo, não fossem os restantes acólitos completamente descaracterizados para a balburdia e no final também eles sigam o mesmo caminho de casa que os seus líderes.

Ei-lo: O justiceiro de Deus! Além de ex-pistoleiro exímio, também ele um mestre do disfarce.
Não faltam incongruências no filme, mas o que mais se destaca pela negativa são as péssimas actuações, que afectam toda a gente envolvida. Também a paupérrima utilização de cenários, lesa gravemente o filme. Sendo obviamente uma produção modesta, vemos a acção rodopiar de cidade em cidade mas na verdade sempre o mesmo vilarejo. Os ângulos não ajudam e a forma usada para disfarçar esta falência foi a colocação de placas de identificação aos magotes. Sempre focadas em zoom ao ponto de percebermos quão fresca está a pintura.

Não consta que o senhor seja um metaleiro, portanto há cornudo(a) na área.
A realização é genericamente má, ponto final. Um trabalho medíocre de Franco Lattanzi, que aqui escreveu, editou e realizou. Claramente demasiado peso em cima de um homem só. Não bastasse isso, em 1973 ele ainda assinou mais outro filme, também um western-spaghetti: “Sei bounty killers per una strage”. Donald O'Brien confessou em entrevista que os filmes foram rodados em sequência, com partilha de actores e cenários. Tudo à revelia da equipa de produção, delicioso! Estamos nos 1970, o género definha por todo o lado e o publico alvo de Lattanzi seriam os cinemas de periferia, menos exigentes nas artes cénicas e mais na inclusão de maminhas, que efectivamente inclui com a mestria dos realizadores de filmes exploitation.

Esta senhora é muito encalorada.
O filme está agora disponível nas plataformas de VOD (Amazon Prime, etc) e nos videoclubes do povo, claro. A imagem é cristalina, no entanto iniciantes do género devem evitá-lo a todo o custo. Os veteranos irão provavelmente soltar umas gargalhadas aqui e ali.