10.01.2013

Maus como as cobras


Aqui, no blogue “Por Um Punhado de Euros”, andamos há mais de 4 anos a divulgar o western-spaghetti. Os que nos acompanham conhecem Django, Ringo, Sabata, Sartana, Silêncio ou Harmónica. Contudo, para esses personagens terem alcançado o estatuto de heróis foi necessário ter acontecido algo. Foi necessário terem enfrentado inimigos de alto calibre que acagaçavam qualquer um! Na maior parte das vezes, os vilões dos filmes são negligenciados em detrimento dos heróis que defendem a honra, os valores morais e os bons costumes. Mas neste âmbito as coisas nem sempre são assim. Neste subgénero, heróis e vilões confundem-se. Até mesmo no aspeto físico. O vilão já não é o gajo com cara de mau e chapéu preto e o bom já não é o galã bem vestido e com a marrafinha toda janota. 

Por razões óbvias, é impossível mencionar todos os “maus da fita”. Este texto serve essencialmente para falar sobre vilões carismáticos, violentos, sádicos, assassinos, drogados, uns são elegantes, outros vestem-se como maltrapilhos, todos eles frios como um bloco de gelo e mais brutos do que uma carrada de porcos! Uns manejam as armas como verdadeiros especialistas, outros usam outras geringonças e tudo o que se possa imaginar. Em suma, estamos perante indivíduos “maus como as cobras”! Começamos com Ramon Rojo e El Índio (Gian Maria Volonté). O primeiro usa uma winchester e o outro dedica-se a fumar material que faz rir. Ambos nem pestanejam quando limpam o sarampo a todos aqueles que andam a chatear. 

Frank (Henry Fonda) é um assassino elegante que varre tudo pela mesma medida enquanto contempla as suas vítimas com o seu gélido olhar azul. Na mesma linha de elegância estão David Barry (Horst Frank) ou Gauche (Alain Delon). Stengel (Franco Ressel) mantém o nível e as roupas todas pipis que o homem veste tornam-no ainda mais odiável. Não admira que Sabata lhe tenha tratado da saúde! Na fação com menos elegância temos ótimos vilões como Aldo Sambrell, Fernando Sancho, Roberto Camardiel, Eduardo Fajardo ou Mario Brega. Estes iam diretos ao assunto e funcionavam à base de chicotadas, murros, pontapés, torturas e chapadas. Ou seja, tudo pessoas de bem! 

Mas esta rubrica nunca poderia ficar completa sem mencionar um ator que tinha tanto de genial como de polémico e que encarnou inúmeros papéis de vilão em inúmeros westerns europeus. Senhoras e senhores, damas e cavalheiros, “Ecce Homo”, Eis o Homem: Klaus Kinski! Olhar alucinado, cabelos loiros desgrenhados, cara de maluco, é um autêntico perigo à solta e cair nas suas mãos é pior do que cair num ninho de cascavéis! Entre muitas atuações de grande valor alcançou o auge quando interpretou “Tigrero”, o implacável caçador de recompensas tão frio quanto a neve. Esse personagem tem um valioso trunfo que todos os outros já mencionados não possuem: Tigrero foi o único que venceu o seu arqui-inimigo, aplicando-lhe uns balázios disparados à traição. Por isto e por muito mais merece a imortalidade! Por isto e por muito mais merece liderar a galeria de vilões dos westerns-spaghetti, embora todos eles sejam “maus como as cobras”!

5 comentários:

  1. Sem dúvida que os heróis devem a sua existência aos vilões e o western spaghetti é rico em vilões de todos os géneros e feitios. Contudo, Emanuel, permite-me lançar mais dois à liça. Dois vilões tresloucados, Claudio Camaso (irmão de Gian Maria Volonté) e Nino Castelnuovo como Júnior em "Tempo di Massacro". Há muitos outros, mas quando se fala de vilões no género, lembro-me sempre de Fernando Sancho, por vezes violento, por vezes anedótico, mas sempre uma presença digna no ecrã. Parabéns pelo artigo.

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  2. Pois é, amigo António, eu por acaso ainda pensei em incluir Claudio Camaso principalmente pela sua prestação louca em JOKO INVOCA DIO... E MUORI mas acabei por não o incluir. Veio à minha mente outro ator que é sempre um bom vilão: Telly Savalas.
    No entanto, o mérito deste texto vai para a minha amiga Elsa Reia porque ela é que teve esta brilhante ideia de que nós devíamos escrever algo sobre os vilões dos westerns.

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    1. Sem um bom vilão não há herói que sobressaia. Outras estirpe interessante é o anti-herói.

      --
      Pedro Pereira

      http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
      http://destilo-odio.tumblr.com/

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  3. Não tens de agradecer, surgiu no meio de uma das inúmeras conversas sobre o género e debate sobre o blog. Mas a realidade é que é mérito do vilão o brilho do herói!

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  4. De facto, as nossas reuniões de debate sobre o blogue são quase uma espécie de filão inesgotável porque estão sempre a surgir ideias novas... deve ser das minis...

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