20/10/2015

Mannaja (1977 / Realizador: Sergio Martino)


Em 1977 os westerns italianos já tinham o seu funeral agendado com um sobretudo de madeira bem à medida. Os poucos westerns que viam a luz do dia tentavam revitalizar (sem sucesso) um género cada vez mais moribundo e saturado. Esta fase de descrédito, apelidada de “crepuscular”, foi o golpe de misericórdia neste tipo de produções. Por ironia do destino alguns cineastas como Enzo G. Castellari ou Michele Lupo deram uma nova vida (ainda que muito breve) a este tipo de filmes no final dos anos 70. Sergio Martino também deu um bom contributo com “Mannaja”. Apesar de ter deixado um legado importante noutros géneros cinematográficos, Sergio e o seu irmão Luciano (produtor) conseguiram fazer um western rude, melancólico e violento com muita chuva, muita lama, muita sujidade, muito frio e muito nevoeiro.

Maurizio Merli pronto a disparar

O empresário McGowan é o dono das minas de prata perto de Suttonville, cidade que também controla. McGowan aparenta ser um magnata poderoso mas na realidade é um gigante com pés de barro porque é Voller, o capataz, que mexe todos os cordelinhos. É neste contexto que surge Mannaja, um homem hábil no gatilho e principalmente no uso da machadinha, como o próprio nome indica. Mannaja é um indivíduo com um passado traumático, tal como sugerem os vários “flashbacks” ao longo do filme.

Mannaja também sabe usar os punhos

Os temas principais são a vingança, a traição, a exploração abusiva dos patrões sobre os empregados e o puritanismo radical / fanatismo religioso que culmina em atos violentos contra mulheres. Os irmãos Guido e Maurizio de Angelis dão o ambiente certo ao filme com uma partitura musical muito interessante. Infelizmente esta foi a única aventura do ator Maurizio Merli em westerns porque uma fatalidade não lhe permitiu uma vida longa. Este western-spaghetti crepuscular tem uma aura misteriosa cheia de sombras e escuridão mas também emana luz porque tem qualidade. Não é contraditório; é mesmo assim!



Trailer:

6 comentários:

  1. Para que conste, a fatalidade que matou Maurizio Merli foi um ataque cardíaco durante uma partida de ténis. Faleceu a 10 de março de 1989 aos 49 anos.

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  2. Uma pena. Sou grande fã do trabalho dele. Não tenho grandes dúvidas de que o policial italiano lhe deve uma grande parte da fama.

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  3. Eu acho que os policiais violentos de Maurizio Merli estão na mesma linha de outros policiais produzidos nos anos 70 e 80 na França protagonizados por Alain Delon e Jean-Paul Belmondo na pele de detetives duros e implacáveis.

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  4. Sem dúvida. Eu tento ver um poliziesco de quando a quando para desenjoar, mas tal como nos spaghettis, há tantos e tantos filmes abaixo da média. Tira um bocado as ganas. Mas não é o caso dos em que o Merli entra, esses são por regra bastante bons.

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  5. Se calhar, Maurizio Merli foi uma espécie de precursor de uma série policial italiana de grande sucesso (inclusive em Portugal) que se chamava "La Piovra - O Polvo" cujo protagonista era o comissário Corrado Cattani (Michele Placido).
    Ainda sobre os policiais franceses dessa época, o grande Ennio Morricone foi o autor de uma (mais uma) magnífica banda sonora do filme "Le Professionnel". Eis um pequeno exemplo neste link do YouTube:
    https://www.youtube.com/watch?v=EXFtSoKcf2M

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  6. O facto dos cenários deste filme se apresentarem muito degradados foi intencional. Naqueles anos o estúdio Elios Film já estava em muito mau estado (tinha sido praticamente abandonado) e por isso o realizador Sergio Martino decidiu deixá-los como estavam e, deste modo, dar ao filme um ambiente ainda mais crepuscular e ainda mais rude.

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