05/09/2021

L'uomo della valle maledetta (1964 / Realizador: Siro Marcellini)


Muitas vezes por cá temos falado de westerns-spaghetti com sabor a western clássico. De todos os que assisti este foi provavelmente aquele que, não soubesse eu da sua origem, facilmente tomaria por uma produção gringa. Tal o ambiente! Há muitos factores que para isso contribuem, mas a razão principal atribuo-a à banda sonora, tirada a papel químico de um qualquer western B americano. Genuinamente americano é o protagonista da fita, o bonitão Ty Hardin. Actor que tal como Clint Eastwood, também voou para Itália depois de se dar a conhecer em terras do Tio Sam numa série de televisão de temática western. No caso de Hardin, a sua personagem Bronco Layne foi curiosamente transitando entre shows, primeiro em “Maverick”, “Cheyenne” e “Sugarfoot”, até firmar-se em solo no seu próprio título, em “Bronco”. 

Ty Hardin, o bom samaritano.

E por Itália ficaria durante muitos anos onde trabalhou sobretudo em, claro está, westerns. Infelizmente para ele nenhum deles de real nota, e por isso votados na esmagadora ao esquecimento.  A estreia deu-se precisamente com este “O Pistoleiro do Vale Maldito”. A trama do filme é tão simplória que dói. Consigo até imaginá-la numa versão encurtada como um episódio de uma série de TV, mas não funciona numa longa. Sobretudo com a erosão dos anos. 

Tudo começa numa tenda índia. Uma mulher branca está prestes a ser abusada por um trio de apaches (alguns mais branquelas que eu, é esse o nível da produção), nesse mesmo momento o marido irrompe por adentro do tipi e a porrada começa. A mulher dá à soleta durante a confusão, visivelmente abalada acaba por deslizar por uma ravina abaixo. Por sorte Johnny (Ty Hardin) está por perto e resgata-a. Mas no encalce seguirão ainda assim os apaches, esses desgraçados que a TV e cinema americano se encarregou de demonizar em anos e anos de produções westerns. Esta não é uma ameaça que o western-spaghetti nos habituou a incluir no menu, e quando o fizeram, os resultados foram quase sempre modestos.   

Os vilões mais insípidos que poderíamos ter. 

O desenvolvimento da acção lá segue com briguinhas entre índios e cowboys, num ritmo francamente sonolento, tendo ainda assim o mérito de abordar temas raciais num estilo muito “Romeu e Julieta”. De recordar que Gianni Puccini, deu também ele uma abordagem em modo western a esse clássico de Willian Shakespeare no espectacular “A fúria de Johnny Kidd”. Esse sim, um filmaço que aguentou bem ao longo dos anos. Já este aqui, remanesce como uma curiosidade para fãs mais completistas do género. 

Ty Hardin ficaria mais 8 anos por Itália, participando igualmente em 8 filmes do género. Em nenhum desses trabalhou com nenhum dos grandes realizadores que por lá gravitavam, e talvez por isso nunca tenha firmado um grande sucesso. Tendo estado porém ás ordens de Sergio Corbucci numa ocasião, mas aí numa produção euro-spy chamada “Bersaglio mobile” que em Portugal veio catalogado como “Homens Desesperados”.

Silêncio que se vai cantar o fado.

Uma curiosidade sobre essa fita, antes de vos deixar ir embora. Se viram o mais recente filme de Quentin Tarantino, “Era Uma Vez em... Hollywood”, provavelmente saberão que ele aborda a vida destes astros da TV americana que nos sessentas tiveram que fazer as malas e partir para Itália. Nesse filme, a personagem Rick Dalton - estrela da série de TV “Bounty Law”- recebe uma proposta de um tal de Sergio Corbucci, «o segundo melhor realizador italiano». 

Tarantino reconta-nos obviamente a história de Burt Reynolds que foi fazer “Navajo Joe” com Corbucci, mas poderia facilmente aplicar-se o mesmo a Clint Eastwood ou a este Ty Hardin. Tal é, que nas cenas seguintes foram inclusive inseridas frames do já citado, “Bersaglio mobile”, numa sequência de perseguição automóvel habilmente cortada e colada entre as novas filmagens com o Leonardo DiCaprio. 

Podem falar mal do tio Tarantino à vontade, mas uma coisa é certa, se não fosse ele, muitos destes filmes de género e pessoal que neles gravitou, estariam votados ao mais profundo esquecimento. Portanto, honra a quem as merece e esquece lá a aposentadoria.


Poster original italiano de “Bersaglio mobile”.



Poster falso para o filme fictício “Operazione Dyno-O-Mite!”.


2 comentários:

  1. Ty Hardin foi um ator americano que passou pelos pingos da chuva no que toca aos westerns-spaghetti. Nunca teve grande carisma nem grande fama. O westerns italianos em que participou também não ajudaram muito. Destaco a sua presença em dois filmes realizados por Mario Gariazzo, um cineasta que, para quem não está a par, fez trabalhos muito mais rascas do que os habituais sacos de pancada (Fidani; Boccia):
    "Acquasanta Joe" e "Il Giorno del Giudizio".

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  2. O Acquasanta Joe até é daqueles que quero rever, mas o outro... vai de retro!

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