4.25.2021

Vamos a matar Sartana (1971 / Realizador: Mario Pinzauti, George Martin)


Greg: «Eu sou filho do Demónio! Ele não se esquece do seu filho predileto!»
Nebraska: «Mas vais ser enforcado. E nem sequer o teu pai, o Demónio, te salvará!»

“Fiat lux. Et facta est lux.”

O western-spaghetti mais misterioso, mais escondido e mais difícil de encontrar viu, finalmente, a luz do dia! Não se sabe em que caixão, sarcófago ou tumba este filme esteve conservado mas ele aí está! Não queremos saber do cheirete a mofo e a naftalina; ei-lo perante nós! As dúvidas eram tantas que, durante alguns anos, até havia boatos na Internet que diziam que o filme nem sequer tinha sido concluído e, consequentemente, não existia. Mas, se não existia, então porque é que o trailer do filme sempre esteve (e continua a estar) disponível no YouTube? O trailer de um filme que não existe? Mas isso faz algum sentido? Olhe que não! Olhe que não!


A inconfundível focinheira de Gordon Mitchell.

Essas teorias eram, à partida, muito duvidosas. As fontes mais credíveis nunca mencionaram essas supostas teorias da conspiração que sustentavam que este filme não passava de um “filme-fantasma”. Nada disso! Aliás, Marco Giusti escreveu no seu “tijolo” (atenção: o plural de “tijolo” não é “tijóis”), sempre fundamentado em depoimentos e entrevistas de algumas pessoas que participaram no filme, que “Vamos a Matar Sartana” não era uma produção tão minúscula como à partida se pensava. Era uma produção bem organizada, profissional e, aparentemente, com folga orçamental. Mas a porra disto tudo foi quando o produtor Marco Claudio deixou de pagar os salários e o resto do pessoal ficou com as calças na mão! Consta que foi o ator George Martin, o protagonista do filme, que pagou o resto da empreitada do seu próprio bolso. O filme foi concluído e… misteriosamente desapareceu!

Meio século depois (sim, foram exatamente 50 anos!), o filme reergueu-se do mundo dos mortos! No dia 11 de abril de 2021, uma alma caridosa publicou no YouTube o filme completo (versão espanhola intitulada “Demasiados Muertos para Tex”). Trata-se de uma cópia com qualidade de imagem sofrível mas, após tantos anos sem nada, que ninguém se atreva a chiar! É para ver, rever e não bufar! Nebraska Tex (Nebraska Clay, na versão original) é um tipo com tendência para se meter em sarilhos. Na primeira vez, o juiz foi indulgente e mandou-o embora. Na segunda vez, Tex já não teve tanta sorte e foi parar ao xadrez porque matou uns rufiões (em legítima defesa). O xerife, apesar de ser o seu futuro cunhado, não o grama nem com molho de tomate.


Louco e Nebraska no hotel da barra cinzenta.

No cárcere, Nebraska Tex conhece um alucinado chamado Greg, o Louco (Gordon Mitchell). Dois cúmplices de Greg, Chet (Isarco Ravaioli) e a lindíssima Lena (Virginia Rodin) mandam uma mocada na pinha do xerife e libertam os prisioneiros. Um terceiro cúmplice, Pancho, o Gordo (Chris Huerta), aguarda por eles. Agora, o objetivo deste quinteto (Tex, Louco, Lena, Chet e Gordo) é muito simples: encontrar o tesouro escondido nas ruínas da igreja de Santa Virgínia. Perante tamanha humilhação, o xerife (Frank Braña) não se fica e vai-se a eles como gato a bofe!

O grupo tem uma longa viagem pela frente mas Tex conhece bem o caminho. A caça ao tesouro leva-os a atravessar montanhas, vales, florestas, rios, riachos e cascatas. Mas isto não é uma alegre excursão! Gordo leva um balázio nas banhas e morre. Louco cai (ou é empurrado?) de um penhasco, parte os cornos e morre. Chet e Tex andam à bordoada a ver qual deles é que aguenta levar mais papos-secos no focinho. Tex e Lena levam o caminho todo a “fazer olhinhos” um ao outro (ou como diriam umas pessoas que eu cá sei, “fazer pisquinhos” um ao outro). Terá o casal de pombinhos algum truque na manga?


Mas que grande cagaço que apanhei!

O desfecho desta aventura dar-se-á nos subterrâneos da igreja abandonada e nas mortais areias movediças de um pântano. Eu diverti-me imenso a ver este filme. É série B da cabeça aos pés e está claramente na linha dos míticos Tanio Boccia e Demofilo Fidani. “Vamos a Matar Sartana” representava o expoente máximo de western-spaghetti desaparecido, que ninguém sabia por onde andava, que estava praticamente esquecido, que nunca ia ver a luz do dia e que estava condenado a apodrecer num buraco qualquer. Ou seja, estava morto e enterrado.

Mas não! Afinal não estava morto. Ainda veio a tempo de estrebuchar, espernear, dar coices e gritar ao universo spaghetti a sua presença! Tudo isto faz lembrar a história do coveiro e do (suposto) morto. Após as cerimónias fúnebres, o coveiro começa a lançar umas pazadas de terra para a cova e eis que acontece isto:

Morto: «Alto lá, amigo! Então não vê que eu ainda estou vivo?»
Coveiro: «Vivo?! Tu estás é mal enterrado, homem!»


9 comentários:

  1. Uma curiosidade. Esta versão aparece assinada com F. Martin Celer, o poster espanhol que ilustra este artigo por sua vez, abrevia para Martin Celer. Na verdade todas estas versões, ajustes do nome de baprtismo do nosso amigo George Martin: Francisco Martínez Celeiro.

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  2. Quem quiser ver o filme completo (versão espanhola) no YouTube, eis o link:

    https://www.youtube.com/watch?v=r8PlvYNkTwY

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  3. Depois de ver este filme, notei que várias fontes (Dizionario del western all'italiana; SWDB; IMDB) escrevem algo que não está correto: todas elas dizem que o ator Isarco Ravaioli é o xerife mas não é verdade. O ator que interpreta o papel de xerife é Frank Braña.
    Também se escreveu que Lena era a namorada de Greg, o que é falso. Lena é a namorada de Chet.
    Consta que a versão espanhola é mais curta do que a versão original italiana.
    A música está assinada por José Espeita mas, ao longo de todo o filme, as músicas que ouvimos são claramente da autoria de Coriolano (Lallo) Gori, compositor de quase todos os westerns de Demofilo Fidani.

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    1. Na versão espanhola notam-se alguns cortes abruptos na música (que é obviamente do Lallo), isso pode justificar essa diferença na duração.

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  4. Ola navegante, tenho um blog e gostaria de fazer parceria com o blog por um punhado de euros.

    https://ahoradosfilmestrash.blogspot.com/?zx=ff36a992ae529dbd

    abraxx e continue com o belo trabalho.

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  5. Já que no fim de semana se falou no número de resenhas do blogue, aproveito para dizer que este filme corresponde à resenha número 240.

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  6. Fui hoje alertado pelo comparsa Sandro de que o filme já não está no Youtube. Quem viu, viu.

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  7. É pena mas não estou nada admirado. Estes ataques de parvoíce do YouTube são frequentes. Felizmente, o meu primeiro impulso foi copiar o filme para o computador. Hoje em dia, quem se fia na net e pensar que os conteúdos estarão sempre disponíveis está muito enganado!

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