Dois indivíduos estranhos, com nomes estranhos (Ordep e Leuname) e com gostos cinematográficos ainda mais estranhos (muitos dirão que não lembram nem ao diabo!) estão de regresso ao seu bem conhecido tabernáculo, o Epicnirp Laer, cujo cabecilha agora é o Ogait, para emborcar as benditas garrafas com sumo de cevada da famosa marca Sergas. A degustação do trotil é inicialmente acompanhada por algumas observações futebolísticas porque um fala do seu clube, o Acifneb, e o outro comenta a atualidade do seu Sesneneleb. Mas esse tema é sol de pouca dura. O assunto principal é o cinema. Vejamos como decorre a conversa:
- Eh pá, há poucos dias estive a rever um western do Sergio Garrone.
- Qual? Não me digas que foi o “Django, il Bastardo”?
- “Django il Bastardo” não! O nosso amigo António Rosa já nos ensinou que o filme em Portugal chama-se “O Sinal de Django”! Mas não, não foi esse.
- Qual foi, então?
- Foi aquele que, além do Anthony Steffen, tem também o William Berger. Ambos são caçadores de prémios.
- Ah, já sei! Estás a falar do “Una Lunga Fila di Croci”.
- Exatamente.
- Esse é um bom western. É um dos melhores do Garrone.
O potente canhão de William Berger.
- Sim, estou de acordo. É um belo western. Mas lembro-me da primeira vez que o vi, já lá vão uns anos, e naquela altura não achei nada de especial.
- O Garrone é um bom realizador. E esse filme tem dois bons protagonistas.
- Sim, o Garrone é um gajo catita! E este filme tem vindo a subir na minha consideração. Hoje acho-o um western-spaghetti bem bom!
- Essas situações acontecem. Às vezes aprendemos a gostar mais de certos filmes à medida que os revemos. Descobrimos sempre qualquer coisa nova em cada visualização.
- Diria que sim. E além do Steffen e do Berger ainda tem o Mario Brega, o Riccardo Garrone e a Nicoletta Machiavelli.
- E o Franco Villa como diretor de fotografia. E o Joe D’Amato como “cameraman”.
- Ou seja, tudo pessoal que sabia o que fazia.
- Pois com certeza!
Anthony Steffen também tem um igual.
- Andei a pesquisar no tomo do Marco Giusti e notei que há um pormenor curioso sobre o Anthony Steffen.
- Ai sim? O quê, exatamente?
- Os depoimentos das pessoas que trabalharam com o Steffen dizem todos o mesmo!
- O quê? O gajo era ruim? Era malandro?
- Não, nem por isso. Era um tipo pacífico mas tinha a mania que era vedeta.
- E por acaso até era!
- Pois, mas demorava muito a preparar-se para as cenas. Estava constantemente a olhar-se ao espelho, a arranjar-se…
- Deixa lá o homem sossegado! Ele fez muitos westerns e quando se retirou ainda foi a tempo de gozar a reforma no Brasil.
- É verdade. Faleceu em 2004 e a sua campa está no Rio de Janeiro.
- “Requiescant In Pace”, António de Teffé!
- Só para terminar: qual é o título deste filme em Portugal?
- Eu penso que é “Sem Espaço Para Morrer”. Mas não tenho a certeza absoluta.
- O quê? Não tens a certeza absoluta? Contacta imediatamente o António Rosa, que ele trata já do assunto!
O taciturno Steffen de perfil.
- Tu és chato, pá! O raio da bebida deve ter veneno!
- Vá lá, pá! Deixa-te de cantigas e contacta o homem! Eu sei que os Açores ficam longe do Alto Alentejo mas a tecnologia supera tudo.
- Pronto, está bem! Aqui vai: amigo António Rosa, por favor esclarece esta questão e já agora… bebe um copo à nossa saúde e à saúde dos nossos bem amados westerns-spaghetti! Um abraço!
Caso haja dúvidas sobre os estranhos nomes mencionados nesta resenha, para decifrá-los basta ler ao contrário, isto é, da direita para a esquerda.
ResponderEliminarExcelente spaghetti, não sei porque é pouco lembrado pelos fãs. O filme carrega todos os elementos que um western spaghetti tem ter. Um dos que eu mais gosto com o Anthony Stephen.
ResponderEliminarOlá, amigos! Antes de mais confirmo, sim senhores, o título em português é mesmo "Sem Espaço Para Morrer" e, acima de tudo, muito obrigado por me referirem na vossa resenha, é uma honra! Um grande abraço!
ResponderEliminarQuem sabe, sabe. E vou aproveitar para lançar aqui um desafio, será que o nosso amigo estaria disponível para escrever umas resenhas para o nosso espaço de quando a quando. Coisa sem compromisso sério que para isso já basta a vida do dia-a-dia, mas que muito nos honraria. É de pensar...
EliminarObrigado. Com muito gosto e com muito prazer. a honra é toda minha. Abraço!
EliminarExcelente. Depois falamos. Um abraço.
EliminarTotalmente de acordo! O contributo do nosso amigo António iria dar um novo fôlego a este blogue.
EliminarParece combinado, mas não foi. A resenha foi para o ar exactamente no meio de um derby entre o Belenenses e o Benfica, que digo eu devia a sorte ter sorrido aos primeiros. Adiante, gosto bastante deste western, gosto do enredo, da acção, da fotografia, do elenco. Enfim, filmaço para quem se quer alongar além dos Sergios do costume.
ResponderEliminarÉ realmente uma enorme coincidência!
ResponderEliminarEu acho que hoje em dia a generalidade dos fãs têm boa consideração pelo filme. Não está no topo das preferências mas mesmo assim é um belo registo de Sergio Garrone.
Embora o produto final seja bom isso não livrou Garrone de problemas durante as filmagens, nomeadamente problemas de dinheiro. Segundo o realizador, houve momentos em que já não havia orçamento para comprar película e que teve de pedir emprestado algumas bobines de fita para terminar o trabalho.
Provavelmente o irmão Ricardo teve de trabalhar à borla.
EliminarNaquela época, no cinema italiano, era costume inventar frases de lançamento sonantes sobre o filme para chamar a atenção do público. O slogan deste filme foi algo como: "Chamavam-lhes justiceiros de Deus... as mulheres benziam-se quando eles passavam... depois tudo acabou e... ficou uma longa fila de cruzes".
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