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05/12/2021

SpagvemberFest 2021: Diário de bordo



Tal como aconteceu no ano passado, voltei a dedicar o meu mês de Novembro à grande maratona do western europeu, o Spagvemberfest! Foram trinta dias a conferir um filme deste género ao dia, percorrendo algumas das suas variantes e fases. Como habitualmente tive como objectivo maior reduzir a minha watchlist, mas este ano ficou desde logo estabelecido à partida que se iriam rever alguns spaghettis clássicos para não danar o bem-estar matrimonial! Para a jornada deste ano antecipei-me um pouco e fui desde logo separando aquilo que tencionava ver. 

Tal como em 2020, quis dar chance a alguns DVD/BR que há muito comprara e que nunca tinham tido uso. Preparei também uma pen drive artilhada com tesourinhos que foram aparecendo na pirataria ao longo do ano (TVrips, VHSrips, etc). Outra forma que tencionei desde logo usar foram os serviços de streaming nacionais e neste campo tive a maior das desilusões, não podendo em boa consciência deixar de os criticar. 

No HBO não há absolutamente nada disponível, aliás o serviço parece não lidar muito bem com material mais antigo. Já no Amazon Prime existe um maior catálogo old school e mesmo alguns westerns-spaghetti, mas poucos comparativamente à oferta que o serviço tem noutras regiões do globo. Netflix não tenho, mas suponho que o panorama seja idêntico. Uma tristeza e por isso, sem surpresas tenho de concluir que o fã destes géneros menos populares vai continuar a ser o grande apoiante dos formatos físicos.

No fórum do SWDB o número de aderentes pareceu-me francamente superior ao do ano anterior e como esperado as escolhas individuais e o debate que dessas decorre, acaba sempre por condicionar o resto do bando, algo que muito apreço. Fiquei também agradado por ver surgir no Letterboxd algumas listas feitas por outros confrades que abraçaram o desafio. Desses, lanço um shout-out para o único tuga que lá detectei, o grande Pedro Nora, que também encarou a tarefa não evitando sequer alguns dos títulos do género mais difíceis de digerir! 

E então vamos lá ao meu diário de bordo, avisando desde já o freguês que o post é longo. Se não lhe abona o tempo e a vontade, recomendo a versão simplificada via minha listinha do dito Letterboxd, disponível aqui



1. Così Sia (1972 / Alfio Caltabiano)


Dia de feriado, mas com relativa agitação cá por casa e muita azia provocada por mais uma derrota forasteira d'Os Belenenses a meio da tarde. Opto então por iniciar as hostes com um filme que consiga ver às mijinhas e que não necessite de prestar demasiada atenção. O YouTube está cheio deles e acabo por optar por este Amen. Uma comédia muito ao estilo dos filmes da saga Trinitá mas que infelizmente tem pouquíssima piada. O que tem muito, é patada nas trombas, um oferecimento do grande Luc Merenda, estrela do cinema policial italiano. A acção do filme desenrola-se sob um assalto a um banco por parte de um grupo inusitado, formado por um pistoleiro, um padre, um miúdo carteirista e um velho xexé. Eu até simpatizo com alguns dos filmes do Alfio Caltabiano, mas este é mau demais!


2. Gli eroi di Fort Worth (1964 / Alberto de Martino)


Segundo dia e opto novamente por um filme de quem ninguém fala, logo potencialmente mau, premonição que se confirmaria cena após cena. Curiosamente até tenho o DVD espanhol da Divisa na prateleira há bem mais de 10 anos, mas nunca me deu real gana em vê-lo. Tirado o pó do dito e lida a sinopse até julguei que me ia deparar com alguma originalidade. Senão vejamos: Durante os dias finais da Guerra da Independência, um grupo de soldados confederados formam uma aliança com os índios apaches com o objetivo de confrontar os soldados do Norte estacionados no Fort Worth e assim escapar para o México. Pensei que a fita pudesse ter algum paralelo com o belíssimo “Os Cruéis” de Sergio Corbucci mas estava redondamente enganado. A qualidade do filme é miserável e ainda ele ia a meio e eu só queria que ele acabasse para deixar de ouvir aquela maldita trompete da cavalaria. Em suma, um filme banal, com actuações sofríveis coadjuvada com os piores figurantes que o género conheceu. 


3. El juez de la soga (1972 / Alberto Mariscal)


No fórum do SWDB alguém questionava se os westerns mexicanos estavam em "jogo" nesta maratona. Estando listados na base de dados não poderá haver outra resposta que não fosse afirmativa. Este filão é algo que desconheço, decidi por isso seguir-lhe as pisadas e repesco também eu no YouTube o mesmo filme de que falava: "El juez de la soga". Estéticamente não há como negar os paralelos com os westerns europeus, consigo por isso entender o comentário do sapiente Tom Betts, que frequentemente defende que a chama do género deveria ter seguido com os nossos amigos comedores de tortilhas. Este filme em articular recicla o filme do pistoleiro fantasma, um tipo que aparece e desaparece em momentos chave, eliminando a patifaria com recurso à forca. Achei a montagem do filme péssima, mas valeu pela experiência. Hei-de voltar ao sub-género.


4. Land Raiders (1969 / Nathan Juran)


Ao quarto dia uma opção mais segura, o escolhido foi "O vilão do Arizona" que já andava na minha watchlist há muito tempo. O filme nada deve ao estilo do western-spaghetti mas foi rodado em solo europeu (Espanha e Hungria) e por isso cabe no saco dos euro-westerns. O vilão do título nacional é obviamente o filho da puta do Telly Savalas e a história centra-se nas desavenças entre dois irmãos de ascendência mexicana. Um deles tornou-se num verdadeiro gringo e a sede de poder só lhe é superada pela vontade de aniquilar a raça Apache da região. É um filme produzido por americanos, para público americano. Não diria que é mau mas tem demasiado paleio para o meu gosto.


5. Deadlock (1970 / Roland Klick)


Quinto dia de maratona. A escolha anterior estava insonsa, portanto pedia-se algo mais extravagante para animar a festa. "Deadlock" é uma produção alemã, rodada nos desertos de Israel e conta com o magnífico Mario Adorf no papel principal. Esclareço já que não se trata de um verdadeiro western-spaghetti, na verdade trata-se antes de uma história de gangsters ambientada numa localidade desolada em pleno deserto. Em comum com a ementa spaghetti, o típico trio de trapaceiros e uma soma avultada de dinheiro em jogo. Não é um filme para todos, mas pareceu-me uma boa reinvenção do estilo e uma bonita homenagem aos grandes mestres.


6. Il mio corpo per un poker (1968 / Lina Wertmüller)


Robert Woods não guarda grande espaço no coração para este "A pistoleira de Virginia". O papel dele é anormalmente pequeno e relegado a cenas de flashbacks, que segundo consta terão sido reduzidas por desavenças durante a produção do filme. O filme segue a história de Belle Starr, uma fora-da-lei muito hábil no manejo do Colt e do baralho de cartas. O filme perde-se no vai e vem de flashbacks e está longe de ser espectacular mas tem a particularidade de ser protagonizado por uma mulher (Elsa Martinelli) e realizado também por uma (Lina Wertmüller), creio ter sido a única realizadora a operar no género. O filme vi-o através do serviço tuga da Amazon Prime, que infelizmente tem pouquíssimos westerns disponíveis. Não posso falar pelos outros filmes do catálogo, mas este tem uma legendagem hedionda que talvez passe despercebida com um espectador menos habituado ao italiano. A mim condicionou-me a apreciação.


7. Une corde, un colt (1969 / Robert Hossein)


Depois de ver o marido ser enforcado à porta de casa, Maria pede auxílio a Manuel para vingá-lo seu nome. Este foi a primeira revisão que fiz na maratona deste ano, uma imposição da minha cara-metade, quisesse eu tê-la como companhia na jornada. Algo que fiz com muito agrado! O filme é soberbo e felizmente é também sobejamente conhecido pelos fãs do género. Uma homenagem de francês Robert Hossein ao seu amigo Sergio Leone, que até filma uma cena. É uma homenagem, mas não cai na esparrela da cópia fácil. Pelo contrário, é um dos filmes mais distintos e indispensáveis do género. Já há muito que tenho o blu-ray da Arrow na colecção mas só desta lhe dei uso. Um belo resgate em alta-definição que só melhora a experiência! 


8. Ocaso de un pistolero (1965 / Rafael Romero Marchent)


Primeiro de dois westerns do Rafael Romero Marchent que pretendia ver durante a maratona 2021. Este é precisamente o seu primeiro filme e já várias vezes o tinha tentado ver, mas a cena inicial em que um bebé é fatalmente alvejado fez-me sempre clicar no stop e desistir da investida. Sem surpresas, confirmo ao oitavo dia do meu SpagvemberFest que o filme está pejado de cenas de grande carga dramática, algo que dispensava perfeitamente para um filme visto em início de semana, mas enfim. Quem também se estreia por aqui é Craig Hill, que aqui veste as peles de um pistoleiro aposentado que se vê forçado a pegar de novo nas armas para combater uma injustiça. Um lugar-comum, é certo, mas se não vos faz brotoeja assistir a um spaghetti com pistoleiros impecavelmente barbeados e com escolhas de chapéus duvidosas, então é filme a considerar. Pessoalmente continuo a ter "Garringo" como o melhor dos filmes do amigo Rafael.

9. Fuera de la ley (1964 / León Klimovsky)

Por estes dias já estava claro nas conversas dos usuários do fórum SWDb que estava em curso um movimento não organizado de homenagem ao recém finado George Martin. Alinhei também eu na ideia de colocar um filme dele no cardápio. Como já não tenho muita coisa pendente deste astro espanhol e sendo o objectivo primordial diminuir a watchlist, a escolha recaiu neste "Fuera de la ley". Tal qual a escolha da noite passada temos aqui um western pré-febre leónica e como tal, com um estilo absolutamente clássico. A trama segue a habitual quezília entre gentes honradas e um oligarca abusador, algo que Billy (Martin) terá de resolver. Aqui não temos esquema de co-producão e por isso não é de estranhar que quer elenco, quer equipe técnica seja totalmente espanhola. Mas até para o menos rotinado dos consumidores do género, reconhecerá a maioria do cast. Destaco a fronha do Aldo Sambrell, aqui no invulgar papel de xerife da cidade. Realização rotineira do argentino León Klimovsky.


10. Comin' At Ya! (1981 / Ferdinando Baldi)


Detesto cinema 3D. Razão exclusiva pela qual há muito evito encarar este último western do Tony Anthony. Fi-lo desta vez, mas no formato standard, claro está. O filme começa à “Kill Bill”, um casal está prestes a contrair matrimónio quando dois meliantes rompem portas adentro da igreja. O cavalheiro é baleado e a dama raptada. O que daí advém é o cliché do pistoleiro ao resgate. O filme está claramente montado para empolar a experiência tridimensional e perde real interesse na maior parte do tempo, como já esperava. Mas em defesa do Tony, admitir que o homem não teve nunca medo de arriscar na sua curta carreira. Foi bom voltar a ver a praia de Mónsul, em que me tive a sorte de me banhar há anos atrás e que a generalidade do cinéfilo reconhecerá do clássico “Indiana Jones e a Grande Cruzada”.


11. Uccidete Johnny Ringo (1966 / Gianfranco Baldanello)


Reza a história que nas filmagens deste filme, um actor menos experiente deu tal traulitada na mona do Brett Halsey que o deixou tão maltratado, que o desgraçado não teve outra hipótese que passar o resto das filmagens de chapéu bem assente. Halsey é aqu um ranger do Texas em missão numa pequena cidade onde há diversos indícios de existência de um esquema de notas falsas. No decorrer da sua investigação não faltarão meliantes zarolhos a tentar matá-lo. É um dos primeiros registos de Gianfranco Baldanello, realizador que nos deu o notável "Black Jack". A qualidade de um e outro é incomparável. 


12. Il figlio di Zorro (1973 / Gianfranco Baldanello)


Segunda noite seguida com um filme de Gianfranco Baldanello. Agora num registo bastante diferente, um Zorro-spaghetti, uma das ramificações que o westerns-spaghetti viu crescer e que a maioria dos usuários do SWDB adora odiar! Não faltam filmes destes na minha watchlist e no ano passado até tinha sido surpreendido com um bem decente, a saber: "El Zorro". O justiceiro mascarado é aqui vivido pelo cara de bebé, Alberto Dell'Acqua, um actor fraquíssimo que em nada honra o famoso personagem. A contrabalançar temos uma série de nomes mais sonantes nos papéis secundários: Fernando Sancho, William Berger, George Wang. Sinceramente acho que teria encontrado mais acção na troca de galhardetes entre o Rui Rio e o Paulo Rangel.


13. Faccia a faccia (1967 / Sergio Sollima)


Segunda revisão e novamente de um filmaço! Já lá vão uns aninhos valentes desde que o vi pela última vez. Desde então surgiram versões DVD e até blu-ray, todas incrivelmente superiores ao meu velhinho DVD espanhol. Há anos atrás fiz o upgrade para a edição da Explosive Media, e a revisão foi feita com esse mesmo. A versão que vi desta volta foi a inglesa, que permite perceber a quantidade enorme de cortes que a versão internacional levou, não diferente da tal versão espanhola, também ela super-retalhada. Não diria que a existência destes minutos extra mudam drasticamente o filme, mas que lhe dá um novo ímpeto, dá. O filme é incrível, a evolução dos dois personagens principais é extraordinária. É um filme que merecia mais amor, muito mais amor.


14. Hannie Caulder (1971 / Burt Kennedy)



Primeiro e único western inglês a entrar na minha maratona deste ano. Além da beldade Raquel Welch, temos aqui um elenco clássico, com Jack Elam, Ernest Borgnine e Christopher Lee. A história segue obviamente as aventuras de Hannie Caulder, uma mulher abusada num certo dia por um bando de maltrapilhos com pouco jeito para a vida do crime. Ajudada por um caçador de recompensas, Hannie aprende a manejar o colt e dá caça aos violadores. Meu Deus! Como é possível que o poster internacional do filme seja tão enganador. Não senhor, o filme não é uma comédia, na verdade até é bastante gráfico nas muitas cenas de tiroteio. Tem sim algumas diferenças de tom que são totalmente despropositadas e prejudicam o resultado final. Seja como for, saiu melhor que a encomenda!


15. Di Tresette ce n'è uno, tutti gli altri son nessuno (1974 / Giuliano Carnimeo)


Metade da jornada feita e sinto-me novamente com fôlego para enfrentar uma paródia à italiana. Comprei o DVD deste filme em Itália há uma vida atrás, mas não tive coragem de o ver durante este tempo todo. Et voila. A maratona serve também para enfrentarmos os nossos maiores medos e que puta loucura temos nós aqui! Contra todas as minhas melhores expectativas, cedo em diversas situações aos gags fáceis e nem precisei de ajuda de um calicezinho de moscatel. É um filme de malucos, sobre maluquices, mas foi realizado por um não-maluco e isso nota-se no bom trabalho de câmara e montagem. Colocando-se facilmente a milhas das muitas cópias rascas fagiolli-western's à moda de Trinità, que na verdade até imita sem rodeios. Filme com melhor uso de um penico num westerns-spaghetti!


16. Take A Hard Ride (1975 / Antonio Margheriti)


Mais uma volta e mais um DVD a sair da prateleira para o leitor pela primeira vez. O escolhido foi o "Cavalgada Fantástica". Pois é, depois de um crossover entre western e artes marciais, Margheriti aventurou-se numa nova mescla, desta com o blaxploitation. As estrelas da companhia são naturalmente as negras, com três grandes nomes do género: Jim Brown, Fred Williamson e Jim Kelly. A estes junta-se outro grande nome, Lee Van Cleef, este já no seu derradeiro declínio enquanto actor e num papel penoso para quem nos habituámos a ver interpretar os pistoleiros implacáveis. O filme foi rodado maioritariamente nas Canárias, o que lhe dá um panorama bastante diferente do westerns-spaghetti mais habitual. De especial nota, as cenas de acção a cavalo mais arriscadas que vi no género. Algo a um nível não inferior ao “Cavalgada dos Destemidos” de Kirk Douglas e que hoje em dia seriam certamente feitas por CGI. É de facto um filme cheio de acção mas que no fim de contas parece tudo menos um spaghetti. Fosse eu o Antonio Margheriti, teria dado mais cenas de pancadaria ao Jim Kelly!


17. Dos pistolas gemelas (1966 / Rafael Romero Marchent)


Segunda entrada para o senhor Rafael Romero Marchent no meu Spagvemberfest. E se a minha primeira escolha - Ocaso de un pistolero - pautava pela carga dramática, este prometia estar nos antípodas. Num estilo não muito diferente do infame “Rita no Oeste”, temos aqui as irmãs gémeas Pili e Mili a tomar as rédeas da acção. Elas cantam, dançam e claro, manejam o colt com incrível astúcia. mais uma produção rodada nos estúdios Mini Hollywood (Almeria), cenário que se tem repetido nos filmes que fui assistindo nesta maratona. Maior repetição que essa só mesmo a presença do actor Luis Induni! Consigo suportar westerns mais tradicionais, mas custa-me lidar com estas trapalhadas, sem dúvida um dos mais difíceis de suportar da jornada.


18. Johnny Yuma (1966 / Romolo Girolami)


Com mais de 350 filmes do género já logados, não acreditava que viesse a encontrar ouro esta fase do campeonato. Sorte a minha ainda ter esbarrado com alguns filmes decentes e ao décimo oitavo dia da maratona acertei mesmo com um bastante bom: “Johnny Yuma, o Vingador”. O título nacional entrega o motif de bandeja: Vingança! O lugar é comum no género mas uns fazem-no melhor que outros e este Romolo Guerrieri fê-lo muito bem, entregando um filme bem balanceado entre a boa disposição e o drama, não poupando sequer o assassinato de uma criança. Curiosamente este era mais um que tinha na prateleira há alguns anos mas como não vou muito à bola com o Mark Damon, ficou a apanhar pó juntamente com os outros patinhos feios. Continuo a achar que Damon teria sido um péssimo Django, mas neste papel de vingador bem-humorado está muito bem!


19. Django il bastardo (1969 / Sergio Garrone)


Temi não ver nenhum filme neste décimo-nono dia, desde cedo que me incomodava uma grande uma grande carraspana, que só piorou ao longo do dia. Felizmente o filme programado para a sessão noturna era bom. E este foi uma escolha pessoal da minha companheira que adora esta representação mais fantasmagórica do pistoleiro vingador soturno. Tenho de admitir que frequentemente temo ao revisitar estes filmes que guardo naquele cantinho especial do coração, folguei por isso em constatar que este envelheceu muitíssimo bem e a existência de novas versões HD só melhoram a experiência. Um filme obrigatório para os fregueses que já viram a filmografia western dos três Sergios de cabo a rabo e procuram agora algo mais refrescante. Melhor filme do Anthony Steffen!


20. Cabalgando hacia la muerte (El Zorro) (1962 / Joaquín Luis Romero Marchent)


Com os níveis repostos nas noites anteriores, sentia-me já capaz de regressar a terrenos mais pantanosos. E porque não arriscar mais um Zorro? Este é bem antigo, data de 1962 e é realizado pelo veterano Joaquín Luis Romero Marchent, que dedicou uma boa parte da carreira a adaptar este personagem (ou outras fotocopiadas) para o cinema. Qualitativamente, e para minha sorte este filme está a léguas do outro Zorro que assisti no início da jornada. Marchent era claramente um homem sabedor das suas artes e mesmo para um filme tão madrugador, safou-se razoavelmente. Como manda a lei neste sub-género, o filme entrega muita acrobacia e muito truque a cavalo. Tendo provavelmente uma dose deficitária de cenas de espadachim, algo que a mim não me beliscou. Sem surpresas para um filme de 1962, o elenco é praticamente todo ele castelhano, apesar de ter um gringo no papel do justiceiro mascarado. A versão que assisti é uma manta de retalhos montada por um fã mais habilidoso. Visualmente a versão é manhosa mas as cenas extra dão mais qualidade ao produto. O meu agradecimento ao artista.


21. Bianco Apache (1986 / Claudio Fragasso & Bruno Mattei)


A dupla Fragasso/Mattei é responsável por um sem número de clássicos do cinema exploitation. Vi muitos desses e alguns admito que alguns são divertidos (Rats - Notte di terrore), mas a maioria são apenas cópias mal feitas de sucessos de bilheteira americanos. Como o filme data de 1986, uma época em que já não se rodavam westerns em Almeria, estava temeroso de que fosse mais uma extravagância da dupla, mas para meu espanto o filme é bastante conservador. A história é a de um miúdo branco que se vê criado entre apaches depois de a sua família ser massacrada por um bando de patifes cartonescos. Anos depois, no seguimento de um caso amoroso, há um desentendimento com irmão apache e o rapaz lá terá que abandonar a tribo e encarar a sociedade do homem branco que nunca conheceu. Não gostei dos filtros usados no filme mas gostei da generalidade da proposta. A abordagem racial é bastante aceitável e até ver este é o filme mais mainstream de tudo o que vi destas duas alminhas. Seria até um western normal não existissem tantas cenas de ultra brutalidade. 


22. Scalps, venganza india (1986 / Bruno Mattei & Claudio Fragasso)


A rapaziada do Facebook influenciou largamente a decisão de ter continuado a maratona com mais um filme com marca Mattei/Fragasso. O filme tem muitos paralelos com o da noite anterior e por isso não estranho que sejam considerados filmes gémeos. Ora se no primeiro filme tínhamos um índio como protagonista ostracizado, neste temos uma mudança de sexo na personagem principal. O clã Harrison continuou envolvido no projecto, desta vez com a participação do papá Richard no roteiro. Pelo que li por aí, era suposto que ele tivesse uma responsabilidade maior no projecto, mas os problemas financeiros definiram os limites da participação. Mais uma vez fiquei agradado com a proposta, adorei a dose extra de violência e até fiquei aqui a pensar que esta dupla poderia muito bem ter feito mais alguns filmes do género. É que apesar de o filme ter uma ou outra cena deliberadamente roubada (neste temos a cena da tortura de Vassili Karis, sacada do “O Homem a Quem Chamaram Cavalo”) até conseguem ser mais originais que as maluquices que eles fariam anos depois. Esses clássicos ripoff que toda a gente conhece: “O Regresso do Exterminador” “Robowar - A Máquina da Morte”.


23. Degueyo (1965 / Giuseppe Vari)

Danger City é atacada pelos bandidos do seboso Ramon que procuram uma soma avultada. Incapazes de encontrar o dinheiro, os bandidos matam ou tomam como reféns todos os homens, deixando apenas mulheres e crianças na cidade. Um grupo de forasteiros vai ajudar a restabelecer a ordem. Giuseppe Vari é na minha opinião um dos bons realizadores do grupo dos autores menos consagrados do western italiano, os filmes dele são invariavelmente produções modestas, mas destacam-se no meio das centenas de filmes dessa safra. Este “Degueyo” é um dos dois dele que não conhecia e até ver o único que me desapontou, a mim pareceu-me uma espécie de novela mexicana. A versão que assisti foi um TVrip da Rai em que algum bom samaritano colocou um áudio espanhol das américas. Talvez essa dobragem me tenha adormecido ou então foi mesmo o cansaço natural de quem anda há 23 dias praticamente só a ver westerns-spaghetti. Vou dar-lhe uma revisada lá mais para a frente se, entretanto, surgir alguma versão com áudio diferente.


24. Captain Apache (1971 / Alexander Singer)

Não tinha planeado mas acabei por voltar a ver um filme com o Lee Van Cleef ao vigésimo-quarto dia de maratona. Este “Capitão Apache” já o tinha começado a ver algures no passado, mas não consegui lidar com o péssimo genérico inicial, que conta com uma cantoria do nosso estimado LVC. Desta vez enfrentei o monstro com a ajuda de meia garrafa de moscatel. Não estava muito enganado nas expectativas, o filme ainda que tenha a presença de uma série de actores europeus habitués do género e de ser rodado em Almeria, não deve absolutamente nada ao estilo que todos reconhecem ao western-spaghetti. Música errada, bla-bla-bla sem fim e enredo demasiado intrincado para o seu próprio bem. Resumindo, focado num mistério que demora demasiado tempo a ser explicado. Para a história fica apenas a magnifica peruca de Lee Van Cleef!


25. Anche nel west c'era una volta Dio (1968 / Marino Girolami)


Ao vigésimo quinto-dia apetecia-me tudo menos ver um western-spaghetti. Chatices no trabalho, duas escolhas menos felizes nas noites anteriores e a fadiga naturalmente provocada pela overdose de consumo de um só género cinematográfico. Qual macumba, os primeiros dois filmes da pen drive que piquei, deram ambos erro de leitura. Ao terceiro lá funcionou e o filme foi este “Anche nel west c'era una volta Dio”, que é curiosamente uma adaptação para o velho oeste do clássico da literatura “A Ilha do Tesouro”. Os italianos tinham estas ideias malucas e a coisa correu moderadamente bem mesmo sem barcos, ilhas ou piratas pernas de pau! A realização foi do veterano Marino Girolami, papá do favorito dos amantes de cinema de acção europeu, Enzo Castellari. Bom elenco com destaque para o impecável Gilbert Roland e Roberto Camardiel no seu typecast. Nódoa no pano do Richard Harrison, completamente inexpressivo.


26. Valdez, il mezzosangue (1973 / John Sturges)

Chino Valdez, um criador de cavalos mestiço, contrata um rapazola que fugiu de casa para ser seu ajudante. Quase simultaneamente, ele concorda em vender um cavalo e ensinar a montar a esbelta irmã do maior rancheiro da região (Jill Ireland, companheira de longa data de Bronson). Daqui nasce um enredo amoroso que terá consequências dramáticas para todos os envolvidos. Apesar de rodado em Espanha e ter alguma gente europeia envolvida no elenco e equipa técnica não encontrei aqui qualquer relação de estilo com o típico western-spaghetti. Fiquei sobretudo desapontado com a ponta final do filme, que não resolve a situação de forma satisfatória. Não é o filme que esperava do John Sturges (Os Sete Magníficos).


27. La Resa dei conti (1966 / Sergio Sollima)


Ao vigésimo sétimo dia de Novembro chegou o momento de rever este filmaço de Sergio Sollima, um dos spaghettis que facilmente se bate com a trilogia de Leone. E eu já não o via há mais de uma década, se não estou enganado terá sido lá nos primórdios de vida deste blogue. Na época não era um filme fácil de encontrar e a edição cristalina ainda estava por ser descoberta. Felizmente, em 2021 existem diversas versões HD no mercado e por alinhamento dos astros até passou por estes dias uma versão bonitona na grelha do FOX Movies Portugal. A trama envolve John Corbett (Lee Van Cleef), um caçador de recompensas que é levado a caçar Cuchillo Sanchez, um camponês mexicano acusado de violar e matar uma menina de 12 anos. Um enredo simples, mas clássico, dirigido de forma magistral por Sergio Sollima. Um dos melhores duelos que alguma vez assistirão, está aqui mesmo!


28. La ciudad maldita (1978 / Juan Bosch)


Chegou a ser um dos westerns-spaghetti perdidos para o mundo. A páginas tantas lá apareceu uma versão que apenas poucos tiveram acesso. E em 2021, sem qualquer explicação, está à distância de um click num desses sítios mal-afamados. Sobre o filme dizer-vos que segue a linha de um qualquer filme da saga Sartana mas sem o magnetismo do estupendo Gianni Garko, que boatos dizem até ter sido a primeira escolha para o papel. Mas faltou graveto e quem protagonizou foi um tal de Chet Bakon, um actor que depois deste filme (o seu primeiro) desapareceu sem deixar rasto! 


29. Lucky Luke (1991 / Terence Hill)


Há muito que andava para rever este filme realizado e protagonizado por Terence Hill, numa época em que o western-spaghetti já era apenas uma memória distante. O filme é obviamente uma adaptação para cinema da personagem da banda desenhada, Lucky Luke, mais especificamente uma adaptação do livro “Daisy Town”. E a ideia era servir de piloto a uma série de televisão direcionada para um publico mais infantil. Eu recordo-me de a ter visto quer na TV nacional quer na espanhola em meados de noventas, mas além do genérico pouco ou nada recordo. Casualmente acabei por sacar o dito “Daisy Town” da prateleira e lê-lo antes de começar a ver o filme. Talvez por isso fiquei bem desagradado com a adaptação, que nem é fiel á trama apresentada no livro nem ao seu humor. Se bem me recordo, o filme de 2009 com Jean Dujardin no papel do cowboy solitário dá quinze a zero a este. Mais valia ter revisto esse. 


30. Winnetou I (1963 / Harald Reinl)



Último dia de overdose spagvemberfest! Para fim de maratona, tal como no ano passado, resolvi alinhar mais um capítulo da saga Winnetou. Não estou bem informado sobre estes filmes, mas desde logo estranhei que as personagens do filme que vi no ano passado (O Tesouro do Lago da Prata) se tratem aqui como desconhecidos. Não apreciei essa falta de continuidade, mas porventura haverá uma explicação. O elenco é recheado de nomes sonantes, além de Pierre Brice (Winnetou), Lex Barker (Old Shatterhand), ainda temos Mario Adorf e Walter Barnes. A acção envolve obviamente brigas entre índios e cowboys, desta vez motivadas pela construção de uma linha férrea, há ainda um sub-plot relacionado com brigas inter-tribos. Achei-o muito inferior ao capitulo que tinha visto no ano passado mas novamente de realçar os cenários espectaculares, muito bem captados na fotografia. E foi isto meus amigos, para o ano há mais!

01/12/2020

Spagvemberfest 2020: Trinta dias com dieta spaghetti!

O mês de Novembro é de alguns anos para cá o mês de festividade no fórum do Spaghetti Western Database, a página que há muito carrega a bandeira do western europeu. Durante este período alguns utilizadores mais destemidos iniciam verdadeiras maratonas em que a única regra é embrenhar-se em western-spaghetti durante a totalidade do mês. Motivado pelo estado pandémico decidi participar na edição 2020, o pior ano de sempre da minha existência.

Como é apanágio, cada utilizador define o seu cardápio, sendo comum que existam regras muito variadas entre a trupe. Os mais fortes atiram-se, qual prova de resistência, aos filmes de Franco Lattanzi ou Demofilo Fidani. Outros encetam o desafio de assistir a filmografias de este ou aquele astro e outros deixam-se simplesmente ir ao sabor do vento ou deixar-se influenciar pelas escolhas que os confrades vão partilhando no fórum. 

Também defini para mim algumas regras. Como Novembro é simultaneamente o mês em que mais chatices tenho no trabalho, alvitrei logo que apenas conseguiria estar em jogo se os filmes estivessem à mão de semear e que os pudesse ver em qualquer dispositivo que não apenas a televisão com leitor de DVD/BR. Assim, o mais lógico que me ocorreu foi suportar-me também de canais de YouTube que tivessem bons arquivos do género. Longe vão os tempos de escassez, em pleno ano de 2020 parece que despejaram centos de westerns-spaghettis na plataforma e há um canal que já esmagou a concorrência: Grjngo 

Já lá tinha andado a esgravatar e pela análise estava convicto que entre esse e mais um ou outro canal, encontraria facilmente material que ainda não tinha visto antes. Outra ideia que me ocorreu, é que facilmente perderia o ânimo se me focasse nos mesmos protagonistas, por isso impus-me que a cada dia procurasse um filme que fosse protagonizado por um actor diferente (repetições no elenco secundário e antagonistas descartei, que seria uma tarefa impossível). Em adição aos comentários breves que fui deixando no fórum, achei que não era má ideia partilhar o cardápio com os forasteiros que passam pelo blogue. Aos que dispensem leituras também posso partilhar a listinha via Letterboxd, aqui. Então aqui vai alho!

Dia 1: I senza Dio (1972 / Roberto Bianchi Montero)



A primeira escolha recaiu sobre “Os Sem Deus”, uma realização de Roberto Bianchi Montero, o homem responsável por um dos meus westerns-spaghettis low-budget favoritos: “Le due facce del dollaro”. Este ainda que não esteja ao mesmo nível também não é nada mau, nada mau mesmo. Um caçador de recompensas e um bandido perigoso unem-se para caçar um bandido mexicano. Nada de novo, mas a realização competente de Montero garante-nos hora e meia de acção non-stop.

Dia 2: Il magnifico texano (1967 / Luigi Capuano)


Para o segundo dia da festividade, repesquei esta espécie de filme Zorro. Uma aventura típica de um vingador mascarado, aqui protagonizada por Glenn Saxon (mais conhecido pelo sotto-Django: Django Atira Primeiro). A realização é de Luigi Capuano, homem que tinha claramente um apreço por este tipo de cinema de aventura, tendo realizado uma série de Zorros e Sandokans. Diversão assegurada, apesar dos tiques mais clássicos. 

Dia 3: Testa o croce (1969 / Piero Pierotti)


Este já andava na calha há bastante tempo, mas por alguma razão acabava sempre preterido em relação à concorrência. Sem surpresas, os comentários favoráveis que fui lendo no fórum do SWDB revelaram-se acertados. Shanda é acusada do assassinato de um banqueiro e numa cidade cheia de beatas histéricas e tem como mais certo ser linchada, para evitá-lo o xerife a manda-a para outra cidade. Mas os dois deputados a quem ela é confiada estão feitos com a vilanagem, violam-na e largam-na no deserto. Por sorte o fora-da-lei Black Talisman cuida dela e decide vingá-la e limpar seu nome.

Dia 4: Ramon il Messicano (1966 / Maurizio Pradeaux)


No quarto dia calhou este na rifa. Outro que também já queria ver há muito, mas que só nesta investida risquei da watchlist. Não bastasse o vilão chamar-se Ramon, também há uma família de Baxters, um paralelo para com o supremo “Por Um Punhado de Dólares”, que dificilmente terá sido inocente. O enleio é feito em volta destas famílias, mas aqui com o factor vingança parte a parte adicionado à equação. Curiosamente esta fita acabou por ser uma das mais vistos pelos utilizadores do fórum. Tendo sido genericamente apreciado, diga-se.

Dia 5: Buckaroo (Il winchester che non perdona) (1967 / Adelchi Bianchi)

O primeiro tiro ao lado chegou no quinto dia. Os culpados: Adelchi Bianchi e Dean Reed! A história começa quando o patife Lash mata o sócio com a ajuda de um bando de mexicanos, com os lucros do feito funda uma cidade em que se torna rei e senhor. Um punhado de anos depois um pistoleiro chega à cidade com objectivo de repor a ordem. Filme do mais básico que o género tem para dar e sem chama que mantenha o espectador minimamente focado no rectângulo da tela. E para ajudar à festa ainda há tempo para uma musiquinha cantada pelo «Red Elvis». Uma seca!

Dia 6: Tres dólares de plomo (1964 / Pino Mercanti)


Este apareceu-me no feed do YouTube e acabei por vê-lo de fio a pavio, mas mais valia não ter feito. Após alguns anos fora, Rudy Wallace regressa ao rancho do pai, que encontra devastado. Descobre então que toda a região está sob a ameaça de um homem chamado Morrison, e que ele matou o seu pai. Não é um bom western, mas também não é horrivelmente mau. É antes, aquele tipo de filme que poderia encabeçar uma lista de de filmes que esquecerás no dia depois de o veres. 

Dia 7: La Lunga cavalcata della vendetta (1972 / Tanio Boccia)


A escolha seguinte recaiu sobre “O Cavaleiro da Vingança”, um dos dois westerns do Tanio Boccia que ainda me faltava ver. Para meu azar a qualidade do filme é coerente com a média daquilo que foi saindo nos anos setenta e, portanto, bastante longe da qualidade dos seus primeiros westerns. Creio que teria sido melhor não tivesse sido contado com flashbacks, mas enfim, já todos sabemos que a fasquia baixou nesta década e este não é excepção. Era um dos poucos westerns protagonizados por Richard Harrison que ainda me faltava ver.

Dia 8: L'uomo dalla pistola d'oro (1965 / Alfonso Balcázar)


Um bom balão de oxigénio era quilo que precisava para continuar a jornada. Doc, jogador de poker e ex-cirurgião vê-se injustamente acusado de um assassinato. Na sua senda está Slade, um caçador de recompensas. Ao encontrar um cadáver, Doc decide tomar a sua identidade mas trama-se rapidamente, porque o cadáver era afinal um pistoleiro pago pela população da cidade com objectivo de defendê-los do bando de Reyes. Elenco lowcost, mas eficaz com Carl Möhner, Luis Dávila e o habitué Fernando Sancho. Bom filme!

Dia 9: Kid il monello del west (1973 / Tonino Ricci)


Nono dia. Fala-se sempre daquele chavão de que não há uma segunda oportunidade para dar uma boa primeira impressão. Pois bem, a minha primeira conexão com este Tonino Ricci foi com o bélico “Il dito nella piaga”, um bom filme de guerra com um elenco de se lhe tirar o chapéu (Klaus Kinski, George Hilton), além de conter todas os predicados que o género exige. Já os westerns dele, benza-o Deus. Este é uma paródia com miúdos a fazer de graúdos. Ri duas, ou três vezes, mais do que esperaria. Mas não recomendo o castigo. 

Dia 10: El Zorro (1968 / Guido Zurli)



Certo que iria ter mais sucesso com filmes do período de ouro, mas ainda convicto que evitaria revisões, lá escolhi este Zorro para o décimo dia. Há quem não considere estes filmes sequer como westerns-spaghettis, mas o pessoal que neles trabalhou era geralmente o mesmo e por isso faz-me sentido considerá-los para o grande saco. Este aqui não é tão intricado como o “Zorro” do signore Duccio Tessari e o George Ardisson não é nenhum Alain Delon, mas lavados os cestos, fiquei bem satisfeito com a escolha. Tenho urgentemente de ver mais filmes deste filão.

Dia 11: Johnny Oro (1966 / Sergio Corbucci)



Décimo-primeiro dia com western-spaghetti na ementa. Mais uma vez fico-me pela década de sessenta e desta risquei de vez “Ringo e a Sua Pistola de Oiro” da minha watchlist. A estrela é Mark Damon, um indivíduo que nunca me inspirou confiança nestes papeis de durão. E não foi desta que mudei de ideias, mas fiquei surpreendido por o filme não ser nada mau. Também não o achei equiparado aos melhores standards do amigo Sergio Corbucci, mas em defesa dele, não é nada aborrecido. O final é literalmente, explosivo!

Dia 12: Lola Colt (1967 / Siro Marcellini)



Dia cansativo, com adição de uns centos de quilómetros nas lombares, mas mantive-me em jogo. Ora aqui está mais um caso raro de western com uma personagem principal feminina. As minhas experiências anteriores têm tido resultados variáveis, o “Rita no Oeste” foi péssimo, mas já o “Giarrettiera Colt” foi bastante decente. Achava eu que este podia ser pelo menos do nível desse último, mas estava enganado. Não há nada aqui de interesse que não sejam os dotes físicos da Lola Falana, uma verdadeira dançarina da Broadway. Agora é só recalcar a experiência!

Dia 13: Anche per Django le carogne hanno un prezzo (1971 / Luigi Batzella)



Sexta-feira, o cansaço aperta ainda mais e sinceramente não estava com grandes forças para ver um western-spaghetti pela noite dentro. Mas depois de ouvir (e ver) os parceiros do podcast Once Upon a Time in Spaghetti Westerns, falar do underdog, Jeff Cameron, durante quase uma hora, decidi arriscar-me num dos poucos filmes dele que ainda tinha na watchlist: “Até para Django os Cadáveres Têm Preço”. Um dos centos de pseudo-Djangos que cresceram que nem ervas daninhas durante estes anos dos westerns à italiana. Cinema de baixo orçamento, enredo descomplexado e máxima diversão. Mesmo aquilo que precisava.

Dia 14: Uno sceriffo tutto d'oro (1966 / Osvaldo Civirani)



De volta às escolhas perfeitamente aleatórias. Tal como na escolha da noite anterior, faltam por aqui nomes sonantes, mas o filme sobrevive perfeitamente. Neste caso, não pelos socos certeiros do personagem principal, mas sobretudo pela qualidade do enredo, que envolve uma estranha aliança entre um bandido e um xerife com o objectivo de juntos darem sumiço a um carregamento de ouro. De longe o melhor western do Olvaldo Civirani.

Dia 15: Gli uomini dal passo pesante (1965 / Albert Band, Mario Sequi)



O filme gémeo de “Os Cruéis” (Sergio Corbucci), repesca a trama e até parte do elenco, mas não chega nem aos calcanhares da competência do filme de Corbucci. Curiosamente o filme foi lançado em Portugal como “Os Implacáveis”, que só ajuda a confundir o espectador mais desatento. Valeu sobretudo pela oportunidade de ver Franco Nero num raro papel secundário e por contar com o “Tarzan”, Gordon Scott no papel principal. 

Dia 16: Quel maledetto giorno della resa dei cont (1971 / Sergio Garrone)



E já vamos no décimo-sexto dia. Faltava-me ver este último western do Sergio Garrone e por isso já lhe tinha guardado lugar nesta maratona de westerns-spaghettis. As qualidades dos westerns dele são muito variáveis, no entanto acho que é um dos realizadores a ter em conta para quem tem interesse no género. E este filme apesar de já ter estreado no declínio de popularidade do género é melhor do que esperaria. Tem um elenco carregado de gente conhecida e que parece realmente empenhada no que estão a fazer, algo que raramente se encontra em euro-westerns desta década de setenta. Normalmente é um filme desancado pelos fãs do género, não entendo porquê.

Dia 17: I quattro inesorabili (1965 / Primo Zeglio)



A décima-sétima escolha foi para este western-spaghetti madrugador, realização de Primo Zeglio, que vale ser mencionado pelo recomendável “Killer, adiós”. Já este filme é sobretudo lembrado pelo facto de ser protagonizado pelo “Batman”, Adam West, aqui no papel de ranger bonzinho (com chapéu branco e tudo). Do outro lado da barricada temos Robert Hundar, um meliante que arranja forma de tramar o ranger por forma a pôr sobre ele uma recompensa, que fará questão de arrecadar. Um western tradicionalista mas que me encheu as medidas.

Dia 18: Sei iellato amico, hai incontrato Sacramento (1972 / Giorgio Cristallini)



O segundo western de Giorgio Cristallini também veio parar à rede. O nome e a arte usada para promovê-lo não deixava adivinhar coisa boa e de facto foi difícil de engolir. Um velho boxer (Ty Hardin) com propicio para as encrencas vê-se a mãos com o rapto da filha. Gostei da fotografia, mas de resto nada bate certo. No genérico uma portentosa música de louva a Deus, pouco depois um gospel inusitado e para terminar porrada de criar bicho e saraivada de balas de fazer inveja aos mais temidos pistoleiros do euro-western. Enfim, mais um para recalcar.

Dia 19: Il tredicesimo è sempre Giuda (1971 / Giuseppe Vari)


A ferida deixada pelo filme da noite anterior e o cansaço acumulado da semana quase me levou a folgar nesta noite, mas em vez disso escolhi um filme que fosse bem pequeno. Não vi todos os westerns do Giuseppe Vari, mas posso dizer que dos que vi nenhum me decepcionou. Este temia que fosse a excepção mas estava enganado. Bom elenco e trama complexa ao estilo dos filmes gialli. Tudo começa com uma petiscada entre amigos, quando se apercebem que estão treze à mesa, alvitram o pior e é o que acontece. A diligência que deveria transportar a noiva do Donald O'Brien chega finalmente, mas lá dentro só transporta cadáveres. Quem matou?!

Dia 20: Il piombo e la carne (1964 / Marino Girolami)



A vigésima escolha veio com a chancela de Marino Girolami, o pai do favoritíssimo Enzo G. Castellari. O velho também queimou uns cartuchos no género e fê-lo deste ceda hora. Neste western pré-boom encontrei tudo o que não gosto no meu western, escaramuças entre índios e cowboys com romance proibido pelo meio. Ao contrário de todas as escolhas até aqui, que vieram de canais de YouTube, este repesquei-o da minha colecção de westerns-spaghettis. Um DVD dos primórdios da Divisa que tinha a apanhar pó para cima de dez anos. Lá devia ter continuado.

Dia 21: Tu fosa será la exacta... amigo (1972 / Juan Bosch)



Os filmes de Craig Hill dos anos setenta são normalmente beras e tenho fugido deles como o diabo da cruz. Mas em dia de fim-de-semana senti a força necessária para enfrentar mais um desses. A escolha foi, “O Meu Cavalo, a Minha Pistola, a Tua Viúva”. Um chorizo-western de baixo orçamento com o mote da caça ao tesouro e com a guerra civil em pano de fundo. Apesar de cumprir minimamente com os clichés do género, ter as típicas personagens exageradas, muito tiroteio e porrada, há nele um desalinhamento de estilo que não o permite enquadrar nem a secção das comédias pós-Trinitá, nem na secção ultra-violenta. Muito, mas muito difícil de mastigar.

Dia 22: La tumba del pistolero (1964 / Amando de Ossorio)



Dia 22. E a precisar desesperadamente de algo mais aceitável para retomar o ânimo. Por essa razão ocorreu-me em apostar nalgum filme com realizador com provas dadas e segui caminho com este western de Amando de Ossorio, nome de respeito do cinema de terror espanhol, sobretudo graças à saga iniciada com o excelente “A Noite do Terror Cego”. Trata-se de um western ainda filmado a preto e branco, com um clima bastante clássico e com uma boa dose de mistério. Já a acção é manifestamente fraca, mas não belisca o resultado. Caras conhecidas temos algumas. George Martin (o protagonista), Luis Induni (o xerife, claro está), Aldo Sambrell (o chefe dos mineiros), entre outros.

Dia 23: I quattro pistoleri di Santa Trinitá (1971 / Giorgio Cristallini)



A maratona seguiu com “Os Aventureiros de Santa Trinitá”, o segundo filme de Giorgio Cristallini a vir à tona por estes dias. E atendendo ao suplicio que foi o primeiro que me saíu na rifa, provavelmente nem o deveria considerado, mas a verade é que nem estava a prestar atenção aos créditos. A razão de o ter escolhido foi só uma: Peter Lee Lawrence. O titulo do filme não é ingénuo, há obviamente uma piscadela de olho aos filmes do “Trinitá”, mas fora isso, nada os liga. A mim pareceu-me demasiado confuso e tirando a espetacular cena final com o vilão a ser obliterado por uma pazada no pescoço, pouco de interesse lhe encontrei. Foi um spoiler? Desculpem.

Dia 24: Sangue chiama sangue (1968 / Luigi Capuano)



Mais uma repetição, desta vez foi o Luigi Capuano a ressurgir nas preferências. E deste senhor já estava seguro de que a qualidade seria outra. Não me enganei. “Sangue Chama Sangue” conta uma história básica de vingança, mas com um enquadramento bastante original. Um bando assalta um mosteiro para rapinar uma relíquia. No acto varrem a chumbo todo e qualquer elemento do clérigo, incluindo o irmão do nosso futuro vingador. Este é para repetir daqui a uns tempos. Bom filme.

Dia 25: Diamante Lobo (1975 / Gianfranco Parolini)



Vigésimo quinto dia com spaghetti na ementa. Desta vez a escolha recaiu sobre “A Pistola de Deus”, um western com um elenco principal impecável não fossem esses protagonistas estarem já na fase mais decadente das suas carreiras, Lee Van Cleef e Jack Palance. Um padre e o seu irmão gémeo defendem a cidade das malfeitorias de um bando. Filmado em Israel e com os homens da Cannon por detrás da produção!

Dia 26: Il pistolero segnato da Dio (1968 / Giorgio Ferroni)



Depois de duas noites com westerns com padres nas personagens principais, pareceu-me adequado continuar a linha e lá prossegui com o “O Pistoleiro Designado por Deus”. Era o único western de Giorgio Ferroni que não tinha visto à data e sendo apreciador de todos os outros, talvez devesse estar entusiasmado, mas para dizer a verdade estava bastante relutante. Anthony Steffen no papel de estrela de circo, não é das coisas mais excitantes que um fã de westerns-spaghetti possa imaginar, mas em defesa do filme, diga-se que não é de jogar fora. O desenlace final foi surpreendentemente satisfatório. 

Dia 27: Dans la poussière du soleil (1972 / Richard Balducci)



Chega de religiosidades. A vigésima-sétima escolha foi tudo menos católica, aliás este será facilmente o filme com mais mamoca ao léu que vi no género (sei que há uns mais hardcore mas os nossos caminhos ainda não se cruzaram). Fora isso, dizer que o filme é estranho para cacete apesar de usar um argumento adaptado de “Hamlet”. A saber, Joe Bradford mata o irmão e casa-se com a sua viúva, Gertie. O filho de Gertie, Hawk, vai fazer algo em relação a isso. Mas como o rapaz só tem uma fala em todo o filme, cada um que entenda aquilo que quiser. Sou capaz de o rever, caso me cruze com uma versão com qualidade de imagem decente. 

Dia 28: Frontera al sur (1967 / José Luis Merino)


Quase a  chegar ao final da maratona, mas com o sentimento que poderia facilmente continuar por mais algum tempo, evitasse apenas alguns caminhos que já conheço como penosos. Mas para bem do bom estar patrimonial, é melhor nem pensar no assunto. Para a sessão da noite repesquei este "Kitosch", o único western protagonizado pelo saudoso George Hilton que ainda não tinha visto. O filme destaca-se desde logo pela acção ser passada no Canadá. Hilton escolta um grupo de mulheres (e caixões) até ao Forte Eagle, que terá de defender de um grupo de índios saqueadores e bandidos liderados por um tipo tão misterioso que só lhe descobriremos a identidade no fecho da fita.

Dia 29: Il lungo giorno del massacro (1968 / Alberto Cardone)



O dia de trabalho cansativo pedia algo mais descomprometido para a sessão da noite. Os filmes protagonizados por Peter Martell costumam assegurar isso mesmo. Os filmes do Alberto Cardone, idem. Decisão fácil, portanto. O xerife Joe Williams (Martell) é injustamente acusado do assassinato de um jovem casal, mesmo com a lei no seu encalce actua contra um bando de meliantes que assalta o banco local. Acção, muita acção. Escolha acertadíssima!

Dia 30: Der Schatz im Silbersee (1962 / Harald Reinl)



O trigésimo dia é simultaneamente dia de véspera de feriado o que me permitiu apostar num filme maior que o  habitual (em média tinha visto sempre filmes com hora e meia). Um desses que tinha aqui guardado é "O Tesouro do Lago da Prata", o primeiro capitulo da longa saga Winnetou. Tenho memória de ter visto alguns desses filmes há muitos anos atrás na televisão espanhola mas sem nenhum me ter feito mossa. Talvez por isso tenha mandado sempre tacada no filão germânico, mas tenho de me retratar porque gostei bastante deste filme, e sim, já penso em dar uma oportunidade aos restantes. A história é claramente apontada ao cinema de aventuras, as localizações são fantásticas e a fotografia espelha isso mesmo. Aliás, contra o filme só mesmo a ultra-moralidade das personagens principais.

E pronto chegámos ao final da maratona. A esposa apostava que conseguisse ver dez ou onze filmes, no máximo. Eu concordava, mas acreditava que conseguiria mais caso apostasse nalgumas revisões de clássicos. Mas contra todas as expectativas consegui chegar aos trinta filmes, todos novos para mim, todos do fundo do tacho, uns melhores, outros piores e outros tão banais que já pouco lhes recordo. 

Raramente tenho vistos trinta filmes num mês, muito menos resumidos a um único género e sinceramente, apesar de amar o euro-western, não acho que tivesse conseguido manter esta rotina, não fosse a pandemia Covid-19 e as consequentes imposições preventivas governamentais. Há que ver bem onde só parece haver mal. Evitem o contágio, fiquem em casa e vejam algum cinema!