6.28.2020

Rimase uno solo e fu la morte per tutti! (1971 / Realizador: Edoardo Mulargia)

Reza a lenda que o signore Edoardo Mulargia se terá sentado na cadeira de realização deste “Rimase uno solo e fu la morte per tutti!” com o comboio já em andamento. O projecto teria sido originalmente iniciado por Mario Pinzauti com outro título, “L’uomo dalla Colt bianca” ou “Una Colt venutta dal Nord”, não se sabe bem. Pinzauti que fez carreira na escrita de giallos e afins não tinha muito jeito para as câmeras e não cravou o seu nome nos anais do cinema e este nem foi o seu único tiro de pólvora seca. Anos antes iniciou também outro filme que não chegou a ver a luz do dia, “Interpol morte al molo 18”. 

"Já chega Mulargia, estamos a partir pedra à mais de 10 minutos."

O xerife Dakota é injustamente acusado de participação no assalto a uma diligência e acaba a partir pedra no presídio. Aí vai ter de trocar mimos com os residentes que ele próprio remetera para lá enquanto homem da lei. Mas graças à esperteza do seu irmão (Slim) a sua estadia não será prolongada. Slim concebe uma farsa para ludibriar o responsável da prisão, que acaba por libertar o ex-xerife sob um suposto indulto do governador. Os dois irmãos iniciam então a caçada aos verdadeiros responsáveis pelo assalto. 

Cheira a trapaça!

Não é possível esconder as debilidades do filme, ora por perseguições a cavalo esticadas à exaustão, ora por ensaios de suspense sem real interesse. A espera que os bandidos fazem numa casa alheia, com os seus anfitriões amordaçados é um bom exemplo disso. A câmara corrupia lentamente entre os diversos malandros, ora vemo-los acariciar a artilharia, ora vemos o temor dos cativos e até temos direito a diversos zooms às esporas do Dino Strano. Tentativa de fazer algo como a introdução do "Aconteceu no Oeste"? Parece-me que sim, aliás Mulargia nunca escondeu o fascínio pelos westerns de Leone que copiou diversas vezes nos seus anteriores.

Slim, o personagem mais afoito do filme.

Não, os filmes de Edoardo Mulargia (Cjamango, A Vingança de Django, etc.) nunca foram soberbos, mas eram por regra bem feitinhos e carregados de acção. Peças em défice neste “Rimase uno solo e fu la morte per tutti!”. Temos ainda assim alguns bons duplos por aqui, daqueles que se atiram à maluca dos telhados, e eles sim, capazes de nos sacar umas gargalhadas involuntárias. A duração da fita não ultrapassa os 80 minutos, menos que a generalidade dos filmes do género e a razão está na escarrapachada na cara. Não havia cacau! 

Dúvidas existenciais: Como é que este homem aparece de surpresa com dois tipos a galope lá atrás? 

Ao menos o elenco enche o olho. Temos Tony Kendall como xerife, Dino Strano e Omero Gargano como vilões e o brasileiro Celso Faria ainda faz uma “perninha”. De todos destaco sobretudo a equipa dos mauzões. Dino Strano já nasceu com aquela imagem de patife profissional, sempre impecavelmente vestido de negro como manda a tradição. Já Omero Gargano, está especialmente eficaz no papel de suposto cidadão de respeito, mas que afinal encabeça as operações do bando. E se não bastasse, nos tempos livres ainda maltrata psicologicamente a sua "prometida". Um verdadeiro exemplo pela negativa.

"Diga bom dia com Mokambo!"

Marco Giusti refere no seu “Dizionario del western all'italiana” uma entrevista que Kendall deu sobre o filme. Contava Kendall que o Dino Strano estava convencido que o papel principal seria para dele, ao aperceber-se do contrário não terá ficado muito satisfeito. Consigo ter empatia por ele, o homem já tinha entrado em dezenas de westerns e estava na hora de ter um papel de “mocinho”, mas não teve sorte. Teve de esperar mais um par de anos e finalmente deram-lho em "Allegri becchini... arriva Trinità" (o Emanuel já falou dele aqui), um filme que faz justiça ao nome do seu intérprete: estranho! 

"Há aqui mais dinheiro que nos bolsos do produtor."

Já Kendall, que na bagagem já coleccionava uma catrefada de papéis principais graças à franquia «Comissário X», esfregou as manápulas e ganhou mais um para a colecção, o quinto só em spaghettis. Kendall é dono daquele tipo de cara granítica, potencialmente ideal para estas andanças, mas há ali algo nele que não bate certo. Se tivesse um DeLorean como o do Martin MacFly, era gajo para ir ao passado dar-lhe uma só dica: "Sócio, se queres fazer westerns usa a porra do chapéu como toda a gente à tua volta!"

5 comentários:

  1. Edoardo Mulargia é um nome sonante no âmbito dos westerns de baixo orçamento. A sua filmografia conta com 9 westerns, alguns deles protagonizados por gigantes do subgénero como Anthony Steffen ou Robert Woods.

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  2. Quanto ao pormenor sobre o zoom às esporas (inspirado no início de "Aconteceu no Oeste"), sinceramente não estou a ver nenhum zoom às esporas nesse filme de Leone.
    Lembro-me sim de mais do que um zoom às esporas de Tuco em "O bom, o mau e o vilão".

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    1. Não estava a referir-me a um plágio cena a cena, mas sim ao estilo.

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  3. Para variar o filme também está no YouTube, áudio em inglês: https://youtu.be/hsLFlf0G5hY

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