24/03/2015

Sonora (1968 / Realizador: Alfonso Balcázar)

Aproveitando o sucesso de "Se incontri Sartana prega per la tua morte" de Gianfranco Parolini, o espanhol Alfonso Balcázar lançou-se de unhas e dentes à personagem, mesmo sem ter Gianni Garko ou um enredo relacionável com a personagem. Usou antes a prata da casa, George Martin, presença habitual nas produções da família catalã e cozinhou mais uma história de vingança. Sartana (Uriah, na dobragem inglesa/espanhola) é um caçador de recompensas, a sua presa mais apetecida é Slim Kovaks, um calhorda que lhe vale muito mais do que o valor da recompensa, é que Kovaks abusou e assassinou a esposa de Sartana. Não é propriamente o tipo de enredo que esperaríamos de um western catalogado como parte da franquia Sartana, mas lembremos-nos que não se tratando de uma sequela oficial, vale tudo menos arrancar olhos!

George Martin veste a capa de Django, perdão, Sartana.

Em bom nome da verdade diga-se que o filme não foi sequer planeado com esse propósito e o titulo italiano "Sartana non perdona" - que foi traduzido à letra em quase todo o lado - é a única coisa que faz paralelo com o pistoleiro de Parolini. E ao contrário do que eu próprio desconfiaria, a maior influência do filme nem sequer foi Parolini, mas sim Sergio Leone. Sendo especialmente reminiscente dos dois primeiros filmes da saga do «homem sem nome». Sem qualquer vergonha na cara, Balcázar copia mesmo algumas das situações usadas nesses dois filmes. Fá-lo ainda assim com algum bom gosto e com suporte de uma fotografia muito sólida. E a malandrice resultou, gorando até as minhas expectativas, que admito serem por regra fracas quando de produções da Balcázar Producciones Cinematográficas se trata.

Kirchner, um pistoleiro de traços ambíguos, lugar comum na carreira do mexicano Gilbert Roland.

Para além de Martin temos ainda interpretações eficazes de dois veteranos do western americano, Gilbert Roland, presença habitual nas produções deste lado do atlântico. Ele que volta aqui a aplicar a sua muito característica postura de pistoleiro romântico. O outro é Jack Elam (no papel de Kovacs), o actor de olhar diabólico que tantas vezes vimos nos westerns americanos faz aqui a sua segunda participação no western europeu, logo após a perninha que fez no supremo "C'era una volta il West". O autor Jasper P. Morgan desanca a interpretação de Elam no seu "Spaghetti Heroes: Django - Sartana - Ringo", mas pergunto-me se ele terá visto o mesmo filme que eu ou alguma dobragem alemã maluca? É que pessoalmente fiquei muito bem impressionado e até orgulhoso por vê-lo num papel maior do que habitualmente lhe cabia. Aquele olhar diabólico, que fazia a sua imagem de marca, mescla-se aqui francamente bem com este protótipo de vilão de aspecto nojento, trapaceiro e cobardolas.

Jack Elam (Kovacs) lança «aquele olhar» sobre Martin (Sartana/Uriah). Que é como quem diz: Hora de surra!

Não esperem uma obra original mas no meio de tanta porcaria, encontrarão divertimento nestes 92 minutos de película. O filme esteve até recentemente disponível apenas em velhas cassetes de VHS mas os italianos da Quinto Piano deram-se ao trabalho de o editar em formato digital (e outra alemã está já a a caminho). É uma edição fraca mas também não vos vai ferir os olhinhos habituados aos 1080p.


Trailer:

3 comentários:

  1. Ninguém me tira da ideia que a maneira como George Martin se apresenta neste filme é claramente inspirada em Terence Hill em "Preparati La Bara!". Gilbert Roland mantém sempre o mesmo registo com o seu típico bigode à escovinha. Só não percebo bem as oscilações no nome do personagem principal nas várias versões mas naquela época o mais importante era fazer filmes porque a qualidade vinha em segundo plano!

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    1. Também encontrei mais Django que Sartana na figura de Martin. Se tivesse sido lançado em 1966 acredito que haveria de se ter chamado "Django non perdona", mas como o Mandrake do velho oeste estava na berra em 1968, pimba!

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  2. O George Martin devia ser amigalhaço da família Balcazar porque participou em vários filmes produzidos por essa companhia espanhola. Além disso George Martin era espanhol e o seu nome verdadeiro era Francisco Martinez Celeiro.

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