Já andava para ver este filme há muito tempo mas por alguma razão só recentemente o passei para o topo da pilha. Infelizmente não é um dos filmes mais fáceis de encontrar por aí, em DVD apenas se conhecem duas versões. Uma brasileira da Ocean Pictures e outra francesa da Gladiateur Films. Ora, como de francês pouco entendo e as editoras brasileiras nunca pareceram muito interessadas em exportar para a Europa, continuo sem um DVD na colecção. Encontrei sim, um DVDrip espanhol - "El Puro se sienta, espera y dispara" - num destes sítios de má fama. A imagem apesar de enublada até é aceitável, mas infelizmente o filme não aparece na sua duração original, que segundo li por aí devia roçar as duas horas. Tive de me contentar com cerca 82 minutos! Eu até já tenho assistido a muitos filmes cortados mas nunca numa duração tão grande, e a verdade é que com um delta destes não me é fácil tecer uma opinião muito bem formada sobre o filme.
Os cortes são mesmo bastante evidentes nesta montagem castelhana. Quer na edição abrutalhada quer na incongruência de alguns dos diálogos. Mas entretanto descobri no Youtube a versão brasileira, dobrada em português, que apresenta uma montagem bastante mais aceitável. Por estranho que pareça as diferenças entre as duas versões são tais que em certos casos o diálogo chega a mudar ligeiramente. Também alguns pedaços de fita aparecem numa versão e não noutra (a "famosa" cena gay, por exemplo, foi retirada da versão espanhola). Não conheço a versão do DVD francês, mas acredito que para se conseguir assistir ao filme como deve de ser será necessário mesclar as várias versões existentes por aí, coisa que provavelmente alguém já terá feito mas não posso confirmar.
Robert Woods descreve justamente “La taglia è tua... l'uomo l'ammazzo io” como um western budista. Aqui o actor norte-americano encarna um pistoleiro conhecido por El Puro - que também dá titulo à versão internacional do filme. Um criminoso procurado pela lei que vive agora incógnito numa cidade fronteiriça, onde se gladia com o temor pela morte, que qualquer pistoleiro «wannabe» lhe queira oferecer. Completamente acabado, vive agora com uma garrafa aos queixos, não se mostrando ameaça sequer ao barman do saloon, que não têm dificuldade em coloca-lo KO. Mas a sua cabeça continua a prémio e um bando de assassinos liderado por Gipsy - uma versão empobrecida do Índio de “Por mais alguns dólares” - está interessado em reclamar a soma e com isso tornarem-se eles próprios como os senhores da região.
As parecenças de “La taglia è tua... l'uomo l'ammazzo io” com os westerns de Leone não acabam por aqui. A maior de todas é mesmo a música, da autoria de Alessandro Alessandroni, ele que era justamente um colaborador habitual de Ennio Morricone. Alessandroni parece mastigar as trilhas que Morricone compôs para a trilogia do «homem sem nome» e produzir algo que quase roça o plágio. Mas comparações à parte o filme subsiste por si só. O ponto de inflexão na vida de El Puro será o assassinato da prostituta Rosie (Rosalba Neri), a única amiga do bebedolas na cidade. Qual fénix, o pistoleiro renasce da tragédia. Larga o álcool que lhe turvava as ideias e os reflexos, e enfrenta os meliantes. Embate que infelizmente não é um dos mais interessantes que o género viu, mas o twist guardado para o final salva-o.
***Inicio de spoiler*** Como dizia, a versão brasileira que assisti no Youtube e que recomendo aos curiosos, está bastante mais bem editada que a espanhola, sendo inclusivamente ligeiramente maior. Porém o triste final que se abate sobre El Puro, baleado à distância pelo último pulha do bando, fica apenas sugerido nesta versão, sendo bastante mais poética na versão espanhola em que o pistoleiro morto pelas costas acaba estendido no chão. Um final desolador pouco visto no género. ***fim de spoiler***
“La taglia è tua... l'uomo l'ammazzo io” não é um western-spaghetti fácil, mas nos últimos anos têm existido à volta dele um certo burburinho (o beijo gay dezenas de anos antes de “Brokeback Mountain” muito ajudou a tal), que o têm elevado à condição de filme de culto no género. Será mesmo o mais conceituado dos filmes de Edoardo Mulargia, que como muitos outros realizadores da época nunca tiveram à sua mercê os benefícios das grandes produções, mas que com alguma astúcia conseguiu lançar uma série de filmes razoáveis (“W Django!”, “Cjamango”, “Non aspettare Django, spara”, etc.). Com Robert Woods fez ainda mais um western, “Prega Dio... e scavati la fossa”, mas sobre esse falaremos outro dia!
há algum tempo vi uma versão deste filme e confesso que não me entusiasmou por aí além. Vi uma versão com cerca de 87 minutos, com audio em italiano, se não estou em erro,e com o final que relataste. se calhar o filme dir-me-á algo mais na sua versão alargada mas pelos vistos teremos de esperar algum tempo. A rever no futuro, certamente.
ResponderEliminarDe facto, percebe-se que todos os westerns de Eduardo Mulargia são produções muito simples, com muito pouco dinheiro e qualidade quanto baste. Este é mais um.
ResponderEliminarCuriosamente, Alessandro Alessandroni ficou célebre porque Morricone escolheu-o para interpretar algumas das suas músicas através do seu inconfundível assobio.
E por falar nisso, que tal esta:
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=_QojbmRy6Ow
Alessandro Alessandroni toca "Lone Wolf McQuade"...
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Pedro Pereira
http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
http://destilo-odio.tumblr.com/
E quem estiver interessado em ver como ficou a revistinha do filme, que passe pelo nosso espaço no Facebook:
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