Há coisa de dois meses cruzei-me por mero acaso com o blogue “Terra do Cult”. O texto mais recente que por lá se publicava, comentava de forma bastante competente e divertida um dos mais reconhecidos filmes de Demofilo Fidani. Fiquei tão surpreso com o trabalho desenvolvido pelo seu homem do leme que decidi na hora convidá-lo para esta rubrica. E a sua resposta não poderia ter sido mais rápida. Conheçam hoje um pouco mais deste nosso novo amigo e não deixem de passar pelo “Terra do Cult”!
Antes de tudo, gostaria de agradecer ao maravilhoso blog Por um Punhado de Euros por me dar esta oportunidade de ouro para compartilhar minha opinião com vocês, aqui. Gostaria de iniciar esta minha apresentação com um aperto de mão, mas como não é possível fazê-lo, então vamos lá. Digo olá, e para quem não me conhece, apresento-me: sou Victor Ramos, também conhecido pelo apelido Jerome Tarantino (por ser fã do diretor Quentin Jerome Tarantino, conhecido vulgarmente como simplesmente Quentin Tarantino). Sou brasileiro, irmão de sangue dos portugueses!
Bem, minha história com o western é bastante bonita, e lembro-me muito bem como ela começou. Recordo-me que estava assistindo "3:10 to Yuma" (a refilmagem), com meu pai, e gostei bastante da experiência. Com isso, procurei assistir mais filmes do gênero, mas no início eu assistia apenas aos modernos, pois ainda tinha um enorme preconceito com filmes antigos (ainda mais sendo filmes de caipiras!). Até que certa vez meu pai quebrou aquela barreira preconceituosa minha: viu que eu gostei do bang bang, e então comprou o que viria a ser o meu primeiro contato com um genuíno western spaguetti; e foi com o filme "Django", de Sergio Corbucci, que aprendi a realmente gostar dos clássicos. Foi meu primeiro contato com um original Spaguetti. A paixão bateu e nunca mais saiu.
Perto de minha casa tinha uma locadora de vídeo, e então passei a ir lá frequentemente somente para alugar westerns spaghettis. Virou uma febre. Até que comecei a conhecer realmente o que existia por trás de todos aqueles tiros, muito além deles: os mestres que comandavam tudo. Sergio Leone, Sergio Sollima e Sergio Corbucci é um trio que marcou minha vida, e continua marcando; um trio de mestres.
É um pouco difícil para um cinéfilo fazer algum top sobre qualquer espécie de gênero, até mesmo porque o conhecimento cinematográfico, ao menos em mim, vive em constante mudança, a todo vapor. E para revelar meu top a vocês, que estão neste momento (ou talvez não) no excelente blog Por um Punhado de Euros, mando a bala:
Os 10 favoritos:
Antes de assistir esta obra-prima arrebatadora do Leone, já tinha tido contato com o astro durão Charles Bronson, no clássico de ação "Death Wish" (não é western, só para constar). Até que me simpatizei com a interpretação dele em "Death Wish", mas quando por fim assisti "C'era una Volta il West" a mera simpatia transformou-se em admiração. O filme é tão bom que a sensação de assistir ele não pode ser totalmente descrita por meras palavras.
02 | Giù la testa | Sergio Leone | 1971
Tenho uma paixão imensa por este filme do Leone (outro!), e é uma pena saber que ele tenha tido, na época, uma má recepção. É sem sombra de dúvidas o filme mais emocionante (e um dos mais completos) que já assisti. O desenvolvimento dos personagens é uma coisa singular. O filme é singular! Bang bang político de qualidade.
03 | Il buono, il brutto, il cattivo | Sergio Leone | 1966
Ah, este é sem dúvidas o filme mais conhecido do grande Leone, e também o mais elogiado – ao menos dentre os westerns. Mas, apesar do próprio carregar consigo um brilho estonteante, não o considero ser o melhor dele, ou o melhor western já feito – como o próprio Quentin Tarantino considera. Mas é com certeza um filme sem preço! Monumental.
04 | Keoma | Enzo G. Castellari | 1976
"Keoma", do competente Enzo G. Castellari, é um filme único que reinventa toda a década de 1960 depositada no western spaguetti. É um verdadeiro soco no estômago, e Franco Nero está tão bem aqui quanto em "Django". Um de seus melhores papéis.
05 | La resa dei conti | Sergio Sollima | 1966
Mais um filme dirigido por um dos nomes que compõe o trio dos ‘’sergios’’. "La Resa dei conti", de Sergio Sollima, é um western político inesquecível, e possui um dos duelos mais originais e tensos que já testemunhei. Lee Van Cleef dá vida a um anti-herói inusitado, e que, mais de 40 anos depois, inspirou o diretor José Padilha no filme brasileiro "Tropa de Elite" (os dois).
06 | Django | Sergio Corbucci | 1966
Eu tenho grande afeição por este aqui, e há vários motivos para ele figurar no meu top de preferidos, mas vou citar só dois. Primeiramente, como já falei, "Django" foi meu primeiro contato com um verdadeiro Western Spaguetti (sabe quando dizem que normalmente os pais amam mais os filhos mais velhos?); e em segundo lugar, que aquele duelo final simplesmente ficou plantado na minha cabeça, por ser diferente de tudo o que eu já tinha visto. Curto e grosso, como os homens maus são.
07 | Le colt cantarono la morte e fu... tempo di massacro | Lucio Fulci | 1966
Esta é uma obra de valor tão grande que posteriormente, em 1972, Fulci copiara o plot mais clássico da própria e colara em "Non Si Sevizia un Paperino". Cenas antológicas é que não faltam aqui, mas a que eu mais destaco é a cena do duelo de chicotes. Altamente recomendado.
08 | Faccia a faccia | Sergio Sollima | 1967Sollima conta aqui uma história convidativa, onde dois tipos distintos de personagens trocam suas identidades: o homem bom vira mau e o homem mau vira bom. Tão bruto quanto sutil, e quando um western consegue somar estes dois elementos, pode-se esperar uma obra-prima – e é o que se tem aqui.
09 | Un Dollaro Bucato | Giorgio Ferroni | 1965
Diretamente da minha época de ‘’rato de locadora’’, vem este clássico estrelado pelo grande Giuliano Gemma. Um filme que influenciou uma porrada de cineastas distintos (e continua a surtir efeito!). E quem sai ganhando no meio de todo tiroteio é o espectador.
10 | Per qualche dollaro in più | Sergio Leone | 1965
Leone é Leone, né? E a parceria entre o misterioso pistoleiro de Lee Van Cleef e Clint Eastwood está impagável. Dois veteranos das terras sem leis dividem um lugar no mesmo time, e o que se tem como resultado são intermináveis sequências de tiros regados a muita aventura e sangue. Clássico.
Joker: Um filme que sabe honrar suas limitações!
Per una bara piena di dollari | Demofilo Fidani | 1971
Demofilo Fidani foi um cineasta humilde, e este foi (e ainda é) um dos principais méritos de sua obra. A música-tema deste é uma pequena jóia do gênero, e ela, juntamente com a interpretação de Klaus Kinski, foi uma das principais motivações para minha simpatia com Fidani.
A evitar: Um filme porco!
Uno di più all'inferno | Giovanni Fago | 1968
É certamente o pior western que eu já assisti, e é uma pena dizer isto, pois George Hilton (uma das maiores estrelas do gênero) é quem figura como o protagonista. Odiei o filme porque ele se transforma involuntariamente em palhaço... não sabe os limites de nada. Totalmente irregular. Ruim.
Mais uma vez agradeço pela oportunidade. É uma honra participar da rubrica.
ResponderEliminarE agora foi que percebi que alguns pequenos erros gramaticais passaram pela ''peneira'', mas o importante é que a mensagem tenha sido compreendida. =)
E fico agradecido pelos elogios também, claro. rs o/
ResponderEliminarUma lista interessante sem grandes surpresas excetuando o Joker. E não há dúvida que George Hilton continua a colecionar presenças nos filmes a evitar...
ResponderEliminarMuito obrigado pela participação, amigo Victor.
Uno piú all' inferno é realmente muito irregular.Uma hora parece que vai ser sério outra hora parece que vai desandar em comédia.Quem assistiu o grande desempenho de Hilton em Tempo de massacre fica totalmente decepcionado.Um ator que não foi aproveitado com deveria pelos grandes diretores do gênero, com raras exceções para o filme citado, que inclusive foi escolhido por Victor Ramos,e mais alguns poucos.Excelente Top 10.
ResponderEliminar@Emanuel
ResponderEliminarA honra é toda minha. =)
E já imaginei que Fidani fora do ''a evitar'' seria uma surpresa por aqui. Esse ''Per una bara piena di dollari'' é um filme muito bom... mas claro, a coisa mesmo é não levar a sério. E infelizmente Hilton foi muito mal aproveitado... uma pena, pois o cara foi um bom ator.
Obrigado! o/
@aprigiohistoria
Não é? É como falei. O filme é muito pueril... em um momento se revela um filme sério, mas em outro se revela um filme cômico. Na verdade, é um filme que não sabe para onde ir... o tiro não é certeiro. Fica sobre o muro dividido entre os dois lados.
E o personagem de Hilton é uma piada. Pena. O cara era um bom ator, e quem assistiu Tempo de Massacre (do Fulci... até coloquei na lista) vai ver que o rapaz trabalhava bem. E quem se aventurar pelo mundo do cinema italiano, bem além do western spaguetti, verá que Hilton trabalhou muito bem com diretores como Sergio Martino, principalmente no Giallo ''La coda dello scorpione''.
Obrigado! o/
Coitado do George Hilton, tem levado muita pancada nesta rubrica do blogue!
ResponderEliminarEu assisti a esse "Uno di più all'inferno" já lá vão uns dois anos pelo menos e sinceramente não me recordo de uma única cena. Não consigo por isso dizer se é assim tão mau mas uma coisa é certa, é bastante esquecível!
Victor, mais uma vez muito obrigado pela participação "foguete". Desculpa o tempo de espera mas tentamos sempre dar algum tempo entre a publicação dos vários participantes.
Para Janeiro do próximo ano fica prometida a participação do amigo Aprigio!
--
Pedro Pereira
http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
http://auto-cadaver.posterous.com
Uma pena ver o Hilton assim. E infelizmente não posso partilhar do seu comentário: eu me lembro muito bem da horrível experiência que tive com ''Uno di più all'inferno"
ResponderEliminarAh, imagina... tamos aqui pra isso. E, de todo caso, a honra é minha, como falei. Bah! :-D
Obrigado!
Caro Victor,
ResponderEliminarDa sua lista não se perde um. Rapaz, que pai bacana o seu. Lhe apresentar ao gênero western deve ter sido só mais um dos grandes presentes que ele lhe deu. Muitos jovens, conheço alguns, acham que esses filmes antigos, ou westerns, são porcaria. Eles não foram ainda apresentados ao verdadeiro cinema. Você teve sorte, assim como alguns outros. Ah, a propósito, você viu a versão original de 3:10 to Yuma. Pra mim, dá de 10 no remake. Se não viu, veja.
Grande abraço!
LeMarc
corrigindo a frase: "você viu a versão original de 3:10 to Yuma?"
ResponderEliminarAbraço!
leMarc
@LeMarc
ResponderEliminarOlá, Meu caro!
Pois é, pode ser considerado um presente, e como! Depois que conheci o gênero minha paixão pelo cinema só aumentou. E o preconceito com filmes antigos (sobretudo se forem westerns) é muito grande entre a massa jovem... mas tento fazer esse gênero chegar a eles para eles descobrirem a maravilha que o western é (caramba, sou jovem!hehe).
E não, não assisti ao original, só a refilmagem mesmo. Infelizmente. Mas sua recomendação de motivou... verei sim brevemente.
Obrigado! o/
Hoje em dia a maioria dos jovens só gostam de ver fantochadas do tipo TWILIGHT e TRANSFORMERS. OS westerns sempre foram desprezados em muitos países mas normalmente quem os desprezava eram ignorantes que adoram ver os filmes da BARBIE!!
ResponderEliminar@ Emanuel
ResponderEliminarPois é. Infelizmente não são apenas os jovens, mas sim a maioria das pessoas, que não possuem senso crítico. Preferem ver um filme já mastigado e didático a ver uma verdadeira obra de arte feita para ruminar na mente. É um pena.
A saga Twilight, que você citou, putz!... sério, não vejo como aquilo tem aquela quantidade maluca de fãs!
O Emanuel indigna-se facilmente com esse cinema de sábado à parte. lol
ResponderEliminar--
Pedro Pereira
http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
http://auto-cadaver.posterous.com
É verdade, amigo Pedro! Esse tipo de cinema com que somos bombardeados na televisão portuguesa tem a capacidade de suscitar em mim algo muito importante: os vómitos!
ResponderEliminarOlá amigos,
ResponderEliminar@Vitor Ramos,
Gostei muita da lista e concordo com a avaliação feita a "Giù La Testa", filme que sempre achei subestimado, demasiado subestimado,
@ Pedro e Emanuel,
os filmes de sábado à tarde, além de maus, na sua maioria, são quase sempre os mesmos e infestados de publicidade, os melhores mesmo, são aqueles que são transmitidos na RTP Memória, é pena repetirem muito também. Quando a Twilight e afins, bom, que dizer, é deveras incompreensível o êxito descomunal desta saga e é o que tento dizer à adolescente que tenho em casa e a verdade é que ela já gostou mais, tento ser um bom pai, LOL
Um abraço
@ António Rosa
ResponderEliminarOlá, compañero!
Fico agradecido e feliz por saber que você partilha da mesma opinião que a minha a respeito dessa grande e subestimada obra do Leone. Ainda é subestimada, fato, mas no passado foi bem pior...
Leone ficou até depressivo com a recepção do filme por parte do público e da crítica, tanto que apenas muuuito tempo depois, quando já estava conformado com a situação, é que dirigiu sozinho outro filme, que é, na verdade, o desfecho da trilogia do ''...Era uma vez'' (do qual Giù La Testa faz parte).
@ Pedro
Heheehe, como não moro em Portugal e nem conheço muito algumas expressões utilizadas por vocês, não sei bem quais seriam os filmes de ''sábado à tarde''... mas acredito que esteja se referindo aos maus filmes exibidos nas redes abertas de TV.
É, bem, é revoltante mesmo certas coisas que acontecem não só no mundo do cinema, mas no mundo artístico em geral... conhece(m) a banda de rock brasileiro chamada ''Restar''? Cara, essa merda faz um sucesso tremendo por aqui. Pena.
Abs! o/
Muito boa lista, eu também sou daqueles que acha o Giu la Testa um grande filme. Quanto ao resto já dessiti de ter espirito missionário, é cada um por si, decubram as coisas que eu também descobri. De qualquer modo na minha casa mando eu (e a esposa é claro), e assim sendo quem escolhe os filmes sou eu, portanto a malta nova que se atrave a ver um filme por aqui, muito provavelmente leva com spaghetti na cara que é para aprender.
ResponderEliminarAh muito bom o Joker um Fidani, não é para todos
Abrçao
Vitor Louçã
É pessoal, mas existe gente nova, adolescentes mesmo com um espírito crítico bem apurado. Fiquei emocionado quando presenciei dois adolescentes com o seu pai comentando os filmes de Sergio Leone, enquanto escolhiam filmes numa locadora aqui de Feira de Santana (Bahia-Brasil). Eles relembravam as cenas com uma vivacidade invejável,imitando as vinhetas de Morricone e os trejeitos dos atores Eastwood e Cleef. Bem não me fiz de rogado e entrei de penetra na conversa, inclusive ajudando nas imitações, com assobios e tudo.
ResponderEliminaraprigiohistoria@yahho.com.br
É com certeza uma classificação de respeito essa do Victor.
ResponderEliminarOlha o Demofilo Fidani (Miles Deem) aí entre os dez com o seu time de atores que fizeram muitos filmes juntos sem dinheiro em Roma e estão aí até hoje sendo lembrados entre os mais conhecidos.
Parabéns
www.bangbangitaliana.blogspot.com