6.21.2019

Nato per uccidere (1967 / Realizador: Antonio Mollica)


Artigo gentilmente cedido pelo companheiro António Furtado da Rosa, grande entusiasta do western-spaghetti e também ele blogger ocasional via http://westerneuropeu.blogspot.com/ 

Resumindo este filme, vemos Gordon Mitchell como Roose, um jogador de cartas lacónico e rápido no gatilho sempre pronto a ganhar uns dólares a mais, mas cujo destino leva-o a uma pequena vila onde os pequenos rancheiros são subjugados e aterrorizados pela ambição desmedida de um grande proprietário, Tyson (Tom Felleghy), apoiado por Dudgett (Aldo Berti) e o seu bando. Quando este filme me chegou às mãos, confesso, torci o nariz. Pareceu-me mais um western obscuro de qualidade duvidosa e, ainda por cima, não era grande admirador do Gordon Mitchell dos westerns spaghettis, principalmente nas extravagâncias com aquele charme muito próprio de  Demofilo Fidani onde passava os filmes a gritar num tom interpretativo exagerado a raiar a fronteira do cabotinismo, embora, a verdade seja dita, admirava bastante o Gordon Mitchell do peplum em filmes como “Maciste Contra o ciclope”, “A Ira de Aquiles”, “7 contra o Mundo” ou “A vingança de Spartacus”. Depois de algum tempo na prateleira vi o filme, e em boa hora o fiz.

Cuidado Berti, a estrela sou eu!

Roose, à primeira vista, parece ser um típico anti-herói do género que já vimos em muitos filmes, mas não, Mitchell retrata um pistoleiro infalível que não se sente satisfeito por sê-lo e vemos isso logo no início do filme, numa caracterização de personagem brilhante, quando enquanto se vestia no quarto do hotel antes de enfrentar três homens em duelo, apanha um mosca e em vez de a matar, abre a janela e liberta-a dizendo: “Vive em paz, tu que podes.” A paz que ele não tem, a paz que quem vive com uma arma na mão não tem. Não é movido por qualquer paixão ou por um desejo de vingança nem é um justiceiro movido por qualquer responsabilidade social e não tenciona, de maneira nenhuma, mudar o mundo, Roose procura um futuro em paz, mesmo que para isso se tenha de tornar um herói e fazer aquilo para o qual nasceu, matar.

Mitchell chega e mata!

“Nascido para Matar” é um filme de orçamento exíguo e uma pequena pérola do género que merece ser descoberto e é um exemplo seguro de que os meios nem sempre justificam os fins, porque com poucos meios, Antonio Mollica (Tony Mulligan), de quem se conhece a realização de apenas três filmes (“20 Passos Para a Morte” com Dean Reed e o interessante filme de piratas “O Regresso do Pirata Negro” com Robert Woods)  conseguiu levar este filme a um bom fim com uma realização segura e sem invenções, criando um filme que foi feito sem mais nenhuma intenção se não para entreter com cenas de ação muito bem coordenadas e com o mimo de nos podermos deliciar com a bela música de Felice Di Stefano muita acima da média do género e do próprio maestro que compôs as partituras de filmes como “Cjamango, o Vingador”, “Não matar” ou “Pede Perdão a Deus”. 

Em 1967 o género ainda não estava de rastos.

Como nota final, gostaria de ter visto Gordon Mitchell muitas vezes mais neste registo de pistoleiro implacável e lacónico, sem histrionismos, criando mais personagens nascidas para nos surpreender. Recomendo esta pérola algo obscura, mas cativante.

6 comentários:

  1. Primeiro que tudo queria agradecer o imput do amigo António Rosa que é há muito um pilar importante neste espaço. Espero que metas mais munição por cá em breve!

    Sobre o filme, lembro-me vagamente de o ter visto há uns anos mas acho que o vou rever. Pelo que percebi continua a não ser fácil encontrá-lo em DVD, as duas edições que o SWDB lista são de quiosque, que não ajuda. Abençoados dvdrip que por aí circulam.

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  2. Não têm nada a agradecer, é sempre um prazer um prazer cooperar com vocês. Podem sempre contar comigo. Abraço.

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  3. A frase de lançamento deste filme foi: "Todos conheciam a sua reputação. Depois de ele passar reinavam o terror e a morte".

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  4. O António mencionou as extravagância de Gordon Mitchell nos westerns de Demofilo Fidani. Eu acho que essas mesmas extravagâncias dão ainda mais vida e carisma às obras de Fidani. Relembro, por exemplo, em "Chegam Django e Sartana... e é o fim!", Mitchell a jogar às cartas com ele próprio à frente de um espelho, com cara de maluco, e a barafustar com tudo e todos (ele próprio incluído).

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