25/04/2022

El precio de un hombre (1966 / Realizador: Eugenio Martín)



Aquando do lançamento de “Os Oito Odiados”, o aclamado western nevado de Quentin Tarantino muito se escreveu sobre as obras que lhe serviram como influência. O titulo “O Grande Silêncio” surgiu naturalmente em todos esses artigos mas existem outros westerns-spaghetti que poderiam facilmente ser conectados com esse filme. Este “El precio de un hombre” seria um desses filmes. Tal como na fita de Tarantino uma diligência transporta uma pessoa algemada. Em ambos, a diligência faz uma paragem numa estalagem onde nem toda a gente é o que aparenta ser.

"I got an idea of something we can do with a gun"

É estranho que o filme não tenha ganho nova notoriedade ao sabor do sucesso de Tarantino, mais sabendo-se que até o próprio reconheceu ao Spaghetti Western Database que “El precio de un hombre” é um dos seus spaghettis favoritos. Então para o bem e para o mal, lembramos-vos nós que este filme existe e que se já dissecaram a filmografia western dos três Sergios, está mais do que na hora de adicionar este filmaço à vossa watchlist! Na modesta opinião do vosso escriba estamos mesmo aqui a falar do melhor western espanhol, a léguas das produções simplórias dos Balcazar.

A realização é de Eugenio Martín, que se estreava no género, e conta com a participação do nosso favorito: Tomas Milian. Um individuo ambíguo, perseguido pelas autoridades, mas que goza de grande simpatia no pequeno povoado em que cresceu. Em sentido inverso temos Luke Chilson (Richard Wyler), um caçador de recompensas que todos odeiam. Esse universo dos caçadores de recompensas popularizado pelas películas de Sergio Leone é justamente aquilo que move a trama desta fita e curiosamente a ligação entre o signore Leone e este “El precio de un hombre” pode ser mais do que uma coincidência.  

O nosso herói é torturado. Um lugar comum no western à europeia.

Ao que parece o produtor José Gutiérrez Maesso terá abordado Duccio Tessari para escrever o guião do filme, mas não chegaram a acordo uma vez que Tessari estava ocupado. Na época Tessari ainda fazia parelha com Leone e julga-se que lhe terá comentado essa ideia de um caçador de recompensas como protagonista. Leone não trabalharia em “El precio de un hombre” mas adaptaria a personagem de Clint Eastwood no segundo tomo da saga do “Homem sem nome”. Residirá aqui alguma verdade ou será apenas mais um dos muitos mitos que fazem deste género a delícia que é? Nunca saberemos! 

Milian interpreta José Gomez, um fora-da-lei que as autoridades se apressam a entregar nos calabouços de Fort Yuma. Um dos seus capangas passa a informação do roteiro da diligência a Eden (Halina Zalewska), amiga colorida de José que ainda o vê como uma espécie de herói local. A rapariga num acto de grande frieza faz chegar um colt a José que acaba por dar-lhe um uso mortífero. No entanto, o caçador de recompensas Luke Chilson (Wyler) está em seu encalço e chega ao lugarejo antes do fugitivo, para a ira dos habitantes da cidade, acérrimos defensores de José, que consideram ser um produto das duras circunstâncias que a vida lhe trouxe. Mas quando Gomez chega com o seu bando de desperados, os moradores começam a perceber que ele já não é o rapaz que conheciam. 

Neste filme quem rouba a cena é o vilão.

A fotografia de Enzo Barboni é um dos grandes destaques do filme. O italiano não desperdiça os magníficos exteriores da região de Almeria e nem se deixa atrapalhar nas cenas de interiores, que normalmente são aquilo que os cineastas do género mais mal trabalham. Barboni, vale a pena lembrar, notabilizar-se-ia anos mais tarde como realizador ao atingir o sucesso com os filmes da saga Trinitá. Mas antes disso assinou a fotografia de alguns dos melhores filmes do western-spaghetti. Trabalhou com mestres como Sergio Corbucci, com quem fez “Django”, “Os Cruéis”, etc. Outra parceria de grande efeito foi a que fez com Ferdinado Baldi, entregando-nos os não menos recomendáveis “Texas Adeus” e “Viva Django”

Em Portugal o filme apareceu com o título “Vingança ao Amanhecer” e salvo edição em VHS não existe formato físico para encontrá-lo. O meu contacto inicial com ele foi num DVD espanhol da Filmax, isto há uns quinze-vinte anos. Mas actualmente existem até blurays do dito. Na Europa tema a edição francesa da Artus e nas Américas foi lançado pela recém-finada Wild East. Também pode ser repescado no catálogo do Amazon Prime mas não sem usarem uma malandrice para camuflar a vossa origem. Infelizmente o catálogo desta plataforma parece não ser para os dentes do tuga.

4 comentários:

  1. Está no MUBi também...
    https://mubi.com/pt/films/the-ugly-ones

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    1. Obrigado pela dica. Não conhecia esse serviço. Talvez teste os 7 dias grátis para verificar o catálogo deles.

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  2. Além deste interessante western, o realizador Eugenio Martín também dirigiu "Requiem per un Gringo", um western-spaghetti com alguns contornos sobrenaturais (e meteorológicos).

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    1. Mais um com confusão nos créditos de realização. Esse filme é muito interessante. Cheguei a vê-lo em VHS e já o pude rever no AMC tuga. Ontem vi foi um eurospy com o protagonista desse filme: Os espiões matam em silêncio. É do Mario Caiano, fracote.

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