5.28.2012

Os spaghettis da minha vida | Flavio Benvenuto da Silva Netto



Depois de algumas semanas sem movimentações nesta rubrica, voltamos agora à acção graças à participação do amigo brasileiro Flávio Benvenuto, uma das presenças habituais nos espaços de discussão do blogue. Relembra-se a todos os leitores que tenham interesse em partilhar as suas preferências connosco o podem fazer entrando em contacto através dos emails disponibilizados!



Primeiramente, gostaria de agradecer muito a dupla de gajos pela oportunidade de participar da querida rubrica "os spaghetti da minha vida", uma das melhores seções deste fantástico blog, que dentre os dedicados ao genero em lingua portuguesa, é o favorito.

Minha relação com o "spaghetti western"começou na adolescência,quando estava se iniciando a minha paixão por cinema. Naquela época, nos anos 90, diferente de hoje em dia, quase todos os canais de televisão tinham programas dedicados á um genero de cinema. Muitos filmes Cult, hoje raríssimos de encontrar em DVD passavam na TV aberta e eram fáceis de encontrar em locadoras de VHS. Em um canal por exemplo, tinha o Cine Trash, dedicado a filmes B de terror e ficção cientifica, o Cine Band Privé que só passava thriller erótico ou soft core (vi toda a serie "Emmanuelle" neste saudoso programa..). Tinha um que só passava filme nacional, os filmes de Aventura, ação, kung-fu, etc.. no Cine Aventura, e tinha um dedicado ao Western, tanto americano quanto europeu. Este programa era o Terça sem lei. Foi neste programa que vi pela primeira vez um filme que me deixou atonito, e me fez perceber a diferença entre o western americano e o feito na europa: Django.

Lembro como se fosse hoje de ter ficado intrigado com o caixão, atonito com o cenario desolador da cidade feia e enlameada,com a violencia e surpreso com o que finalmente tinha dentro do tal caixão. Lembro de ter visto vários Trinity, Pecos, os da serie Sartana, os com Giuliano Gemma, principalmente O Dia da ira, e outros tantos que hoje não se encontra em DVD e que eram fáceis de encontrar nas locadoras de VHS. Com o fim destes programas e a chagada do DVD substituindo o VHS nas locadoras,foi ficando dificil conseguir os filmes e meus interesses por cinema eram outros, e com o passar do tempo o spaghetti foi ficando de lado nas minhas predileções..isso até meados desta década, quando assim, meio por acaso, achei uma cópia pirata de adivinha qual filme: Django.

Daí a paixão pelo genero retornou, e hoje se não for o meu genero preferido de cinema, é o que mais tenho dedicado tempo a pesquisar e adquirir cópias de DVD e VHS. E esta paixão só tem aumentado. Tenho que confessar que não foi facil deixar tantos outros de fora, e tirando os cinco primeiros, que em minha opinião são as maiores obras-primas do genero, os outros cinco foi a parte mais dificil de listar. São tantas as opções, que eu fiquei muitas vezes em duvida se colocava "Mannaja" ou "Blindman", "Django Il Bastardo" ou "10.000 Dollari Per Un Massacro"," Tempo di Massacro"ou"Il Quattro dell'apocalisse", "Companeros"ou"Il Mercenario", “I Giorni Dell’íra” ou “Da Uomo a Uomo”.. Mas enfim, estes são os meus preferidos. Espero que gostem,e que renda aí,uma boa troca de idéias sobre o genero:"vamos a matar companeros".




Os 10 favoritos:

01 | Django | Sergio Corbucci | 1966

Este aqui não está em primeiro apenas por ser o grande responsável pela minha paixão pelo spaghetti western. Django é também um dos mais representativos, e o grande divisor de águas no genero. Sergio Corbucci ,fez um filme influenciado diretamente nos dois primeiros da trilogia do dólar de Leone, mas que conseguia ir além na dose de violencia e trouxe elementos novos, aqueles que faltavam para o spaghetti western tivesse uma identidade definitiva. Depois de Django, seria quase que obrigatório,a inclusão de itens sinistros tais quais aqueles arrebatadores cenários desolados com cidades desertas e cemitérios de cruzes  tortas em quase todo filme que surgiu depois. E é por isso que Django fascina tanto até hoje. Do inicio com o heroi (?) aparentendo alguem que acaba de fugir do inferno, arrastando um caixão, passando por uma cidade semi-deserta até o desfecho com o  tiroteio no cemitério tosco, o filme todo é um espetáculo visual impressionante de cenas memóráveis. Enfim, Django é como o spaghetti western deve ser. Escuro, mal-humorado, rustico e melodramático com cenas de ação inteligentes. Eu gostei deste filme desde a primeira vez que eu vi e eu continuo a achar que é por que ele tem tudo aquilo que me faz amar o spaghetti western.


02 | Il grande silenzio | Sergio Corbucci | 1968

Chocante e brutal. Este aqui, é um dos spaghetti western mais violentos já realizados. Sergio Corbucci já havia demonstrado ousadia para inovar e reinventar o genero já nos dois filmes anteriores, Django e Navajo Joe, mas ainda não tinha tripudiado das convenções quanto em o Garande Silencio. Aqui ele subverte praticamente todos os arquetipos de genero, como por exemplo, os habituais cenários áridos que são substituidos por uma paisagem gelada e pelo branco da neve e aquele cliché de que o mocinho sempre vence no fim ou até mesmo a condição dos matadores por reconpensa,que geralmente são asociados ao "anti-heroi" ou são individuos neutros, que não hesitam em matar por um bom "punhado de dólares". Aqui eles são vilões sanguinários e inescrupulosos,que na figura de loco (o vilão interpretato soberbamente por Klaus Kinski), são a própria encarnação do mal. O Grande Silencio é daqueles spaghetti westerns em que a maldade é exacerbada por vilões quase tão diabólicos quanto os monstros ds filmes de terror. Neste caso, o show de monstruosidade fica a cargo do ótimo ator alemão Klaus Kinski, que antagoniza Silêncio (o vulgo do personagem de Trintignant, o herói do filme). Kinski faz Loco, caçador de recompensas que não hesita em matar os foragidos da lei e transformar em profissão sua trilha de sangue, um autêntico carniceiro que conserva os corpos das vítimas por baixo da neve,como se fossem peças de alcatra. Silêncio surge sem sobreaviso, aparentemente para acertar contas pendentes (em dois curtos flashbacks, assistimos como ele tem as coradas vocais cortadas e seu pai morto por um caçador de recompensas), mas o destino encarrega-se de colocá-lo frente a frente com Loco num bárbaro duelo,ambicionado por uma viúva sedenta de vingança. Corbucci genialmente nos leva a um frenesi, para em seguida, acionar uma corrente de alta voltagem e imensa carga de fatalismo e nos dar um tremendo choque.Como se tudo isso não bastasse,além do show de Kinski e Trintignant e do belo trabalho de fotografia,temos ainda o maestro Ennio Morricone que compõs um tema dramático, utilizando os corais masculinos tradicionais do western spaghetti de uma maneira bem diferente do normal. A música dá o toque melancólico definitivo que complementa a desolação das imagens com precisão.


03 | C'era una volta il West | Sergio Leone | 1968

Considerado por muitos  como o melhor western já feito, Era uma vez no oeste, é para mim, o momento  onde Sergio Leone atinge o seu ápice. Ele consegue nos oferecer um grande espetáculo audio-visual, grandiloquente e poético como poucos, sem abrir mão em nenhum momento do seu estilo. O filme denuncia e mostra com realismo um retrato contundente e por vezes  assustador do velho Oeste, aquele oeste selvagem onde a ganancia de gente disposta a fazer qualquer coisa por sua riqueza. Como mandar uma quadrilha de  matadores profissionais aniquilar uma familia inteira, para tomar posse de suas terras e assim construir uma estação de trem. Com narrativa lenta e uma aridez  como o deserto o filme se revela na sua totalidade com um elenco brilhante: Henry Fonda fazendo um dos mais crueis vilões do spaghetti western, Cláudia Cardinale com uma beleza como que compensando a aridez e as mazelas do genero humano. Gosto como o personagem de Charles Bronson mantem um ar de mistério até o final quando o filme se revela ser também uma história de vingança, tão tipica do genero que Leone criou. A maravilhosa trilha sonora assinada por Morricone  é mais um elemento que colabora muito para este filme ser uma obra prima espetacular, não só para genero mas para o cinema em geral.


04 | Per qualche dollaro in più | Sergio Leone | 1965

O segundo filme da trilogia do "homem sem nome",é uma especie de continuação mais inspirada de Por Um Punhado de Dólares.Trazendo de volta formula que inaugurou o genero, porém mais aprimorado. O simbolismo latino, a violencia e a rusticidade dos cenários,os super closes voltam mais acentuados. Ennio Morricone retornaria também para deixar sua marca de vez no spaghetti western. E o elenco? Um verdadeiro time de craques, repleto de atores que se tornariam figuras fáceis do genero. Clint Eastwood e Gian Maria Volanté desta vez tiveram que dividir o brilho com outros craques como Klaus Kinski, Aldo Sambrel, Benito Stefanelli e claro,Lee Van Cleef, cuja presença tão marcante, quase rouba a cena para si só, não fosse o elenco cheio de astros do mesmo naipe. A dobradinha que ele faz com Klaus Kinski é um dos pontos altos do filme. A rixa pessoal dos seus personagens rendem cenas maravilhosas Western spaghetti em estado bruto. Obrigatório.



05 | Keoma | Enzo G. Castellari | 1976

Franco Nero, aqui em uma de suas melhores atuações, fantástico no papel do heroi mais complexo e um dos mais cativantes do Spaghetti western. Keoma é um mestiço,filho de mãe india e pai branco,que foi unico sobrevivente de uma chacina á uma aldeia de indios. Na matança morre sua mãe e o restante da familia ,então ele se ve obrigado  a ter  que viver com seu pai e seus tres meio-irmãos que o odeiam e o invejam  por não terem as qualidaes do pai que ele herdou. Entre estas qualidades, a rapidez no gatilho. E aí parece consistir a tragédia de Keoma,que parece fadado a compensar a sorte de estar vivo, vivendo como um errante pelo mundo, como ele mesmo explica em uma das belas cenas do filme, quando reencontra o pai:"tenho que descobrir quem sou,para dar sentido ao mais simples dos meus gestos. Por enquanto sou um vagabundo vagando,mesmo quando a terra dorme continuo a vagar". Abra-prima de Enzo Castellari, é considerada por muitos  o gran-finale do spaghetti, que ainda gerou ótimos filmes até a decada de 80, como "Mannaja" por exemplo,mas que encerra o ciclo de grandes obras-primas do genero. Daquelas que hipnotizam o espectador com belissimas cenas, grandes atuações dos atores e diálogos curtos e inspirados. E ainda tem a belissima trilha sonora dos irmãos De Angelis, cuja letra e melodia parece traduzir musicalmente a melancolia que envolve o filme.


06 | 10.000 dollari per un massacro | Romolo Guerrieri | 1967 

Após o enorme sucesso de Django, muitas imitações surgiram, assim como também muitas sequencias não-oficiais, filmes que sequer tinham co-relação com o Django de Coburcci. Estes filmes não traziam o Franco Nero, nem o caixão muito menos a metralhadora Gatling, (exceto  Viva Django!, aquele com Terence Hill, o unico que trouxe de volta a bendita). E é nescessário que se diga,nenhuma chegou sequer perto do brilhantismo do filme original. Tivemos sim, pouquisimos exemplos que honraram o mito mor do western spaghetti, como este 10.000 dolares para Django, com Gianni Garko aqui já fazendo um Django menos sinistro, adiantando como seria seu personagem mais famoso: "Sartana". Este Django tem um que de romantico ao fazer par com a bela Loredana Nusciack,ela que esteve no Django de Corbucci,volta para encher a tela com sua beleza estonteante. Mas como este não é um filme do Sartana,e o nosso herói parece sempre fadado a um destino trágico,é traído pelos bandidos com quem fizera uma aliança e tem sua amada covardemente morta pelos mesmos. Daí em diante o filme vira um Django de verdade com o protagonista sedento de vingança, travando um sangrento jogo de gato e rato matando os bandidos um por um com requintes de crueldade. Daí pra frente,quando o filme começa para valer, somos agraciados com grandes  cenas de ação nas belissimas paisagens da Almeria, culminando em um final eletrizante com muito suspense em mais um cenario desolador de uma tipica cidade-fantasma, que na verdade é um vilarejo de casas caiadas abandonado, que mais parece um cemitério, e convenhamos, qualquer filme de Django que se preze,tem que ter um cemitério tosco não é mesmo?



07 | Vamos a matar, compañeros | Sergio Corbucci | 1970

Meu "zapata western" favorito. Este apesar de muito semelhante ao ótimo e igualmente genial "Il Mercenario", consegue ser mais coeso que o zapata anterior realizado por Corbuci. Eu gosto de pensar que o filme é uma continuação mais caprichada, que aprimora as  ótimas idéias do filme anterior assim como "Por Ums Dólares a Mais" em relação á "Por Um Punhado de Dólares". O elenco é praticamente o mesmo, com Franco Nero novamente no papel do gringo mercenário, Jack Palance também com um personagem que lembra muito o do outro filme, só que ainda mais excentrico,e a escolha de Tomas Milian para o personagem El Vasco foi bem mais feliz que a do  filme anterior cujo personagem "Paco" parecia ter sido feito sob medida para ele. E há uma quantidade maior de personagens,que dentro da trama não se desenvolvem tão bem quanto em "Il Mercenário", mas oferecem cada um, um ponto de vista mais panoramico sobre a revolução. Ambos tem grandes cenas,principalmente nas de ação, mas ver Franco Nero matando a rodo, munido de uma metralhadora Gatling assim como fez em Django é muito muito especial. Outro grande acerto no filme em comparação ao anterior foi a cena final, quando o gringo resolve aderir a revolução, e volta quase chorando e vociferando a todos pulmões: vamos a matar companeros! Quanto a trilha sonora,os dois filmes estão empatados,as duas são maravilhosas.


08 | Le colt cantarono la morte e fu... tempo di massacro | Lucio Fulci | 1966

Os westerns de Lucio Fulci são geralmente, westerns estranhos,que traz aquela atmosfera surreal que caracteriza seus filmes. É um diretor de estilo próprio,e seus westerns certamente não agradam a todos os públicos, onde a maioria dos fãs de spaghetti-western considerá-os demasiado fora dos padrões. Mas para outros,como eu por exemplo, acho genial como ele traz uma variedade de características para o oeste selvagem. Neste que é sua estreia no genero, ele começa muito bem, conduzindo sua narrativa lenta e chaia de momentos tensos com precisão. A singela trama do filme remete a uma premissa básica no genero a dos latifundiários que conseguem todas as propriedades que querem através da violencia e do terror. Os irmãos Tom e Jeffrey Corbert (Franco Nero e George Hilton) se unem para ir tomar de volta suas terras,que estão em posse dos Scott e seu exercito de capangas liderados pelo sádico Scott Junior, um dos mais excentricos vilões do Spaghetti western. Ele ironicamente vestido todo de branco,é um dos melhores achados do filme. É tão cruel e psicótico, que quase afusca a dupla Franco Nero e George Hilton que são emblemáticos no genero, mas fazem papéis razoáveis aqui como heróis que se mantem quase todo o filme passivos demais. É quando "Junior" aparece que surgem algumas das melhores cenas do filme, como a de abertura com a caçada impiedosa de "junior" aos pobres camponeses,a do duelo de chicotes e o  final,quando ele morre e pombas brancas voam simbolizando o retorno da paz. Genial. John Woo que o diga.


09 | Mannaja | Sergio Martino | 1977

Realizado quando o spaghetti western já era dado como morto, quando a fórmula já tinha gastado tudo que podia, e todas as grandes obras-primas do genero já tinham sido realizadas,"Mannaja" se baseia nas experimentações estilísticas dos anos anteriores, evitando os excessos comicos que tomaram conta da maioria das produções pós-Trinity,o filme tem um sólido equilíbrio de ação, drama e suspense. As cenas de luta em punhos,quando aparecem,são marcadas por atos de maldade como um pisar de botas na garganta de um homem com a cara na lama,em vez de Bud Spencer/Terence Hill a distribuir socos e pontapés com efeitos sonoros  de quem soca um balde. Não tem como não ver Mannaja e lembrar de Keoma,de um ano antes. O filme tem os mesmos elementos da obra-prima de Enzo G. Castellari:as cenas em slow motion e de extrema violencia alá Sam Pekimpah,o visual sórdido de uma cidadezinha enlameada,o melancólico folk rock de Guido & Maurizio De Angelis e o Maurizio Merlli que faz o tal Blade, é bem parecido com Franco Nero. Porem o filme guarda mais reviravoltas abre espaço para a paródia em alguns momentos, como os vilões por exemplo. Eles são amávelmente desprezíveis, particularmente o esguio Waller, com seu visual á Sartana e seus inseparáveis dobermans. Enfim, "Mannaja" é um excelente exemplo de um tardio spaghetti western do final dos anos setenta. O filme não só proporciona uma boa noção do que estava acontecendo com o Spaghetti western naquele momento, como também  grande  diversão.


10 | I giorni dell'ira | Tonino Valerii | 1967

Este aqui é um dos que também marcou minha adolecencia de cinefilo - iniciante - na frente da tv e " rato de locadora". A trama é simples, porem inteligente, gira em torno da relação pupilo/mestre, mas também traz a tona uma discursão sobre hipocrisia, ganancia e valores postos em cheque quando o assunto é a sociedade e seus representantes poderosos. O filme todo é um duelo de atuação e carisma por parte dos protagonistas, dois dos mais queridos astros do spaghetti: Lee Van Cleef e Giuliano Gemma. E só pela presença e atuação magistral dos dois, o filme já mereceria seu lugar de honra entre os melhores spaghetti de todos os tempos, mas além deles, o filme ainda reserva ótimas reviravoltas na trama e cenas memoráveis como por exemplo, a do encontro entre Talby e Wild Jack (lembrando bastante o estilo de Sergio Leone em Por Uns Dólares a Mais). O Duelo montado ou a cena final com o duelo entre pupilo e mestre, uma das mais bonitas cenas de enceramento do genero. A bela trilha sonora de Riz Ortolani  é uma das mais conhecidas e hit das coletaneas de spaghetti Western.



Joker: Hippies no Oeste selvagem, por que não?



Gli Specialisti  | Sergio Corbucci | 1969

Tenho grande apreço por este aqui, só não o inclui no top ten, pra não exagerar com tantos filmes de Corbucci, e também por se encaixar perfeitamente na categoria o "joker" desta rubrica. Porque pra mim é o mais subestimado da filmografia de Corbucci e o menos popular dos quatro  filmes que ele realizou no final dos anos 60. E é facil entender por que. É o mais estranho daquela leva. O filme traz além do clima sombrio e pessimista que sempre envolveu  seus filmes, e das costumeiras farpas simbólicas ao sistema burgués, aqueles contrapontos também típicos do diretor,mas um em especial,deixou até os mais fieis fãs atonitos: Os quatro hippies. Eles passam o filme todo passando uma sensação incomoda de que a presença deles não se fazia necessaria na trama. Isso dura até os momentos finais quando se tornam  imprecindíveis para o desfecho, em uma das melhores cenas do filme. A trama, que sem estas peculiaridades tipicamente corbuccianas, seria apenas mais uma historia de vingança como tantas do spaghetti western, traz o cantor Johnny Halliday, fazendo muito bem o temido pistoleiro "Hud", que depois de uma longa temporada (onde?) volta a terra natal,para ivnestigar a morte do irmão, que foi linchado pela população da cidade, acusado de ter roubado o dinheiro do banco,que ele faria a escolta. Então fica claro já no começo do filme, que o o alvo da vingança de "Hud" não é a bela vilã Virginia Policutt (a dona do banco, e que usa o sexo tanto quanto o dinheiro para manipular a cidade), muito menos o bandido mexicano "El diablo", mas toda a cidade de Blackstone, porque foram eles que lincharam seu irmão e sabem que  "Hud" está voltando para se vingar. Realizado um ano depois de "Il Grande Silencio" o filme é igualmente sombrio, trágico e violento ao seu antesessor. Realizado nos Alpes,"Gli Specialisti" tem algumas das mais belas imagens já vistas no Spaghetti Western, onde o diretor abusa de deslumbrantes angulos e movimentos de camera, além é claro, dos habiatuais super-closes ao longo de todo o filme.




A evitar: Nunca julgue um pistoleiro pelo apelido.


Djurado | Giovanni Narzisi | 1967

O belo vulgo do personagem principal, Djurado parece querer sugerir algo parecido com um Garringo, Shango, Cjamango, Mannaja ou qualquer um destes tantos sub-Djangos. Pois o filme em nada lembra estes citados. Parece que a intenção era imitar o estilo de  westerns mais leves e comicos como os estrelados por Giuliano Gemma, mas que na verdade lembra mesmo o pior de Demofilo Fidani ou algum episódio do "Chapolin colorado" ambientado em um velho oeste de mentirinha. Atores fracos e enespressivos trama confusa e uma narrativa rapida demais, faz deste filme um penoso exercicio de paciencia. Salvam-se apenas o belo cast de beldades, mas ainda assim muito pouco. Apenas para fanáticos do género.

18 comentários:

  1. Agradeço mais uma vez pela oportunidade de participar da rubrica,listando meus spaghetti preferidos.Foi um prazer imenso.Tanto que me empolguei,como dá pra ver aí na quantidade de linhas no texto,rsrs..Eu mesmo estou com preguiça de ler.

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    1. Muito obrigado pela participação Flávio. Valeu!

      --
      Pedro Pereira

      http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
      http://auto-cadaver.posterous.com

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  2. Amigo Flavio achei legal a sua lista dos Espaghettis e não foge nenhum pouco da minha e de outros colegas que participaram deste espaço, e parece que todos eles também tem uma trilha sonora bem significativa e é isto que complementa um bom Espaghetti.
    Parabéns
    www.bangbangitaliana.blogspot.com
    Brasil

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  3. A surpresa destas escolhas aprece na minha opinião no joker seleccionado. É um filme estranhamente desconhecido, ainda que seja obra de Corbucci. Eu apenas o vi uma vez e por isso não tenho uma opinião bem formada, lembro-me de ter gostado da intriga principal mas ter sofrido com a presença daqueles hippies.


    --
    Pedro Pereira

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  4. Mais uma grande participação de um grande fã deste tipo de cinema. Penso que é a primeira vez que GLI SPECIALISTI consta num top 10. Já há algum tempo que não vejo o filme mas até fiquei com uma boa impressão, embora não seja tão espetacular como os dois que lideram esta lista.

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  5. Também queria referir que o "10.000 dollari per un massacro" aparece já pela terceira vez apesar de ser um filme pouco conhecido. Eu acho-o óptimo e agrada-me ver que mais pessoas gostam dele.

    --
    Pedro Pereira

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  6. Boa Lista, eu sempre gostei do Hallyday, tive uma formação cultural (é bem não é) meio esquizofrenica, com muita familia em França sempre tive muito acesso a cultura francesa.

    O joker é um bom spag, bastante original com ou sem hippies, mas as obras primas do Cobucci são o Django e o Il grande Silenzio IMO

    Abraço

    Vitor Louçã

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    1. Sim, é verdade que Johnny Hallyday era uma estrela da música francesa nos anos 60 e 70. Vendeu milhões de discos e para alguns era considerado como "o Elvis Presley francês".

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  7. É bem, é bem. Lol

    Eu gosto muito do "Vamos a matar, compañeros", para mim bate até o homem do caixão. Até me custa dizer isto com medo das possiveis represálias...


    --
    Pedro Pereira

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  8. E.Sanchez
    Que bom que gostou da lista e fico feliz que tenha percebido sobre o lance das trilhas sonoras!Todos tem belissimas trilhas sonoras é uma das coisas que me fazem amar o spaghetti.
    Pensei em icluir Balada Para Um Pistoleiro só pela trilha que gosto muito.

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  9. Pedro e Emmanuel

    Gli Specialist merece ser visto sim,com ou sem hippies como o Vitor Loçã bem comentou. O filme esbanja qualidades,é melhor que muitos outros de Corbucci.Eu acho que ele só fica atras de Django,Il grande Silencio e os dois zapata.

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    1. Eu também aprecio bastante "Os Cruéis". Talvez colocasse por isso este no sexto lugar do top Corbucci, mas só se me fizessem a pergunta hoje porque já se sabe que estas coisas da opinião vai mudando com o tempo.

      --
      Pedro Pereira

      http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
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  10. Muito boa a lista, meu caro. Bem imprevisível, o que é legal.

    E é isso aí mesmo, Lucio Fulci foi um grande diretor e sua obra merece ser resgatada sempre.

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  11. E Pedro,eu gosto de "Os Cruéis",aliás,eu gosto de tudo que o homem realizou..rsrs..mas Os Crueis fica a uma posição abaixo de Gli Specialist e Navajo joe.E tem ainda Sony and Jed que é bacana também,com outra grande trilha.

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  12. Victor Ramos

    Que bom que gostou!Não podia deixar um do Fulci de fora da lista.

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  13. Entre Gli specialist e I crudeli eu tambem prefiriria o último. Particularmente para mim está se tornando cada vez mais difícil preferir entre um e outro Spaghetti, dado que as novas edições restaurando as imagens e trilhas ao formato concebidos originalmente pelos autores nos força a fazer revisões de exemplares pelos quais antes não tínhamos muito apreço, e que de um momento para o outro começamos a perceber qualidades que não tínhamos percebido antes.Um corte de 5 min no Spaghetti pode representar muita coisa. É bem possível que eu passe a preferir Gli specialist se ele sair numa edição melhor do que a que eu tenho. Gostei muito da escolha de Tempo di massacro de Fulci, que é um filme genial, trata a questão da posse da terra e da violência com muito surrealismo. Enfim, um genial Top Ten, como os de tantos outros Spaghettianos.

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  14. Os meus parabéns, Flávio, por ter incluído aqui alguns filmes menos conhecidos, mas bem interessantes. Também gostei do modo como admite que inclui alguns por gosto pessoal (dilema com que também me deparei.) Um bom destaque a Fulci e outro a Tomas Milian. Em suma, já reuniu muita informação sobre o western spaghetti e isso nota-se pelo critério de seleção dos filmes nesta lista, que acho bastante equilibrada e também personalizada, como convém.

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  15. Amigos David e Aprigio

    Obrigado pela parte que me toca,rsrs..bom,eu acho que minha lista tem muito em comum com outras que contribuiram com a rubrica,pois estes seriam os preferidos de qualquer pessoa que gosta de spaghetti.Estes aí são clássicos absolutos do genero,é inevitável não incluilos.Já o joker é sem duvida alguma um bom filme, pouco compreendido na época e que divide opiniões até hoje.E não foi fácil ter que deixar tantos outros de fora..Mas estes aí são os favoritos mesmo.A lista alternativa que segue esta é imensa.

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