4.06.2015

Em Abril há "Ciclo Sergio Leone e os géneros populares" na Cinemateca Portuguesa


8 ½ Festa do Cinema Italiano já terminou mas a colaboração com a Cinemateca ainda vai continuar durante todo o mês de Abril. Para além da já anunciada exibição da obra completa de Sergio Leone fomos ainda presenteados pela curadoria com um punhado de westerns-spaghetti, o que a gerência aqui do espaço muito agradece. Consultem a programação completa aqui.

Em complemento ao Ciclo dedicado a Sergio Leone, organizado em colaboração com a 8 ½ Festa do Cinema Italiano, apresentamos uma seleção de filmes de dois géneros populares em que Leone trabalhou, o peplum e o western spaghetti, além de um filme de aventuras. Embora Leone seja o máximo expoente do western spaghetti e tenha lançado verdadeiramente o género, não foi o seu inventor. Sem irmos à Pré-História (LE DESPERADO, de 1907, do francês Joë Hammam, que fez outros westerns antes da Primeira Guerra Mundial), os primeiros sinais do western europeu moderno surgiram em Espanha, onde em 1962 Michael Carreras, da Hammer Films, realizou SAVAGE GUNS, o primeiro western de produção americana rodado na Europa. No mesmo ano, foi realizado o primeiro western europeu moderno feito por europeus: EL SHERIFF TERRIBLE/DUE CONTRO TUTTI, coprodução ítalo-espanhola assinada por Antonio Momplet. Durante a preparação deste filme, deu-se um facto decisivo. O produtor espanhol pediu aos cenógrafos que fizessem o cenário mais simples e barato possível. Estes fizeram uma contraproposta: em vez de algumas placas de madeira pintada, edificar uma cidade inteira, que depois poderia ser alugada para outras rodagens. O produtor aceitou a ideia e foi construída em Hoyo de Manzanares uma cidade de western para ninguém botar defeito, Golden City, onde seriam rodados dezenas destes filmes: esta decisão mudou alguma coisa no cinema europeu. Mas foi o inesperado triunfo de PER UN PUGNO DI DOLLARI, em 1964, que desencadeou verdadeiramente a produção destes westerns. Todos são profundamente influenciados pelos filmes de Leone (quando não os imitam ou plagiam abertamente), com o seu ritmo lento, os seus personagens lacónicos (os produtores faziam tudo para que alguns deles se parecessem tanto quanto possível a Clint Eastwood), a sua violência gratuita, a sua falta de redenção moral, por mais hipócrita que fosse, que é a principal diferença entre estes filmes e o western americano. Em diversos westerns spaghettis, há personagens com o mesmo nome (Ringo, Sabata, Django, Sartana, Trinidad), embora nem sempre o ator e o personagem sejam os mesmos, mas os nomes estavam sempre nos títulos (até quando nenhum personagem tinha este nome…) porque atraíam os espectadores. Italianos e espanhóis, os realizadores e atores assinavam quase sempre com pseudónimos americanos. Embora um cineasta como Rainer Werner Fassbinder tenha abordado este género, no alucinado WHITY (1971), estes filmes não foram levados muito a sério pela crítica, como se vê pela expressão western spaghetti, obviamente pejorativa (o estudioso Rafael de España propõe, sem ilusões, western mediterrâneo). Mas tiveram muito êxito de público e tornaram-se um dos grandes géneros populares dos anos sessenta e início dos setenta. As suas vedetas foram Giuliano Gemma e Franco Nero e, mais tarde, a dupla Bud Spencer e Terence Hill. Propomos um conjunto destes filmes, acompanhados por um filme de aventuras e peplums, aqueles filmes situados na Antiguidade (grega, romana ou bíblica), ironicamente denominados filmes de selas e sandálias nos países de língua inglesa, um género que foi inventado pelos italianos nos primórdios do cinema e no qual sempre foram mestres. Estes nove filmes são apresentados pela primeira vez na Cinemateca.

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