30/12/2013

Os spaghettis da minha vida | Paulo Blob Teixeira


Quase no adeus a mais um ano, voltamos a activar esta rubrica. O convidado desta feita foi o Paulo Blob Teixeira que provavelmente conhecerão do terrifico Blog do Blob. Uma casa em que o cinema de terror é rei. Mas o Paulo é também adepto do western-spaghetti e hoje poderemos saber exactamente quais os seus favoritos!

Primeiramente quero agradecer ao Pedro Pereira, por me dar a oportunidade de colocar aqui, os meus spaghettis favoritos, ainda que a minha lista seja bastante óbvia (me perdoem pelo excesso de Leone e Corbucci, quem manou eles fazerem filmes tão grandiosos!), ainda mais depois de dezenas de listas maravilhosas por aqui! É uma grande honra e um imenso prazer falar sobre os faroestes italianos, que sempre me deliciaram desde a infância, quando assistia com meu pai na tv, filmes estrelados por Franco Nero, Giuliano Gemma, Terence Hill, entre tantos outros. Portanto, minha paixão pelos spaghettis vem direto da herança paterna (assim como deve ter sido com vários da minha geração).

Os 10 favoritos: 

01 | Il buono, il brutto, il cattivo | Sergio Leone | 1966 

O que falar dele que já não foi dito? Um dos meus filmes preferidos, não só de SW, mas de todos os tempos! A trilha de Morricone é tão marcante e maravilhosa que transcendeu o próprio filme, quantas pessoas há por aí que nunca viram o filme, mas já escutaram a música? Tudo é soberbo: o roteiro, elenco (o que dizer da trinca principal? Maravilhosa!), fotografia, direção. Senhoras e senhores, isto não é um filme, é um monumento!

02 | Vamos a matar, compañeros | Sergio Corbucci | 1970

Desde a primeira vez que botei os olhos nesse filme, quando ainda era garoto no bom e velho VHS, fiquei encantado, e só tem melhorado a cada revisão! Para muitos esse é quase um remake de um filme anterior de Corbucci: "Il Mercenario" (1968), que no Brasil recebeu o título de “Os Violentos Vão para o Inferno”, mas costumo dizer que “Vamos a Matar...” não é uma refilmagem do anterior, o primeiro que foi um ensaio para esse! Aqui tudo é superior: os personagens, o ritmo, a ação, o humor, as questões políticas, tudo é melhor colocado. Sem falar na maravilhosa trilha de Morricone, escute ela e tente tirá-la da cabeça! Ela vai grudar por uma semana! O elenco é esplêndido! Com Franco Nero como um cínico contrabandista de armas sueco, que ganha o apelido de “pinguin”, graças ao fraque que usa no começo do filme, e que destoa do cenário desértico e povoado de cadáveres do vilarejo que chega, temos ainda Thomas Milian como um rebelde ingênuo (com um visual inspirado em Che Guevara!) que serve de “peão de manobra” do corruptível General Mongo (José Bodalo, aqui creditado como Francisco Bodalo). Franco e Milian terão que resgatar o Prof. Xavier (Fernando Rey), preso num forte nos USA, por ser o único que sabe a combinação de um cofre que contém uma suposta riqueza. Essa jornada de resgate mudará nossos queridos protagonistas. Sem falar de bônus temos Jack Palance, como vilão maneta, que usa uma prótese, que tem um gavião de estimação, capangas tão bizarros quanto ele, e passa o filme fumando maconha. Lamentável apenas o fato do filme ser relançado hoje em dia com o título apenas de “Compañeros”, malditos tempos politicamente corretos em que vivemos!

03 | C'era una volta il West | Sergio Leone | 1968

Aqui o SW atinge seu ponto mais épico, operístico e trágico! Outro clássico absoluto em que não tenho nada a dizer que já não foi dito. Bronson, Fonda, Cardinale, Robards, Leone, Morricone, tudo muito além do perfeito!
04 | Django | Sergio Corbucci | 1966

Outro grande clássico do SW! Chegando a gerar uma “franquia bastarda” que gosto de chamar de Djangosploitation! A figura do pistoleiro que chega numa cidade fantasma carregando um caixão é surreal (imagine que andar por aí a cavalo já não deve ser muito confortável, o que dizer de perambular a pé pelas pradarias carregando um caixão?). O cenário desolador, a violência e a ambiguidade de nosso “herói”, tornaram essa primeira parceria entre Corbucci e Franco Nero, um dos meus clássicos preferidos. Vale dizer que esse também foi um dos primeiros westerns que vi na vida, na tv, graças ao meu pai, que tinha visto no cinema e me recomendou a ver com ele.

05 | I giorni dell'ira | Tonino Valerii | 1967

Assim como "Django", esse também foi um dos primeiros westerns que vi. A trama do bunda mole, que é subjugado por todos, até que, graças a um pistoleiro experiente, ganha habilidade com as armas e acaba se inebriando com o poder, é um tema caro a mitologia do western, feito em qualquer continente (e, com algumas variações, aos filmes orientais de kung fu também!). O bunda mole em questão se chama Scott Mary (Giuliano Gemma!) basta menos de dez minutos para sabermos da situação deplorável desse pobre diabo: habitante da pacata (e hipócrita) cidade de Clifton, Scott é um órfão criado pelas prostitutas da cidade ("o bastardo", como é chamado por todos) e trabalha como uma espécie de gari de lá (!!!), todo dia ele puxa uma carroça com barris aonde vai, de porta em porta, recolhendo os dejetos da cidade! Além disso, ainda serve para varrer as espeluncas do vilarejo. Claro que sempre sendo humilhado por todos (desde o dono do saloon local até o juiz, passando pelo xerife!). Mas o espectador logo percebe que vai acontecer algo quando entra em cena, imponente em seu cavalo, o velho Lee van Cleef, que aqui interpreta Frank Talby, um veterano ás das pistolas, que logo trava amizade com o miserável mancebo, e por causa deste acaba matando em legítima defesa um fazendeiro local. Depois do tumulto Talby sai da cidade, mas acaba sendo seguido por Scott, que agora virou seu fã. O filme dá uma guinada quando sabemos das reais intenções de Telby, ele vai atrás de Wild Jack (o canadense Al Muloch, cuja a cara feia é a que abre num close-up o clássico "Il Buono, Il Bruto, Il Cattivo", aqui em seu penúltimo filme, o último seria justamente o "C’Era uma Volta in West"!), um velho comparsa de roubos que passou dez anos no xilindró e cujo último assalto a grana ficou nas mãos dos seus cumplices do momento, que agora são os todos poderosos de... Clifton! Sim, a cidade de nosso herói! Talby e Scott, então retornam ao lugar de início, o primeiro para botar a mão na grana e o segundo para se cobrar dos desaforos passados, sem contar que agora o outrora nó cego esta hábil no manejo das armas, e tão ou mais rápido que Talby, agora seu mentor, e por isso acaba se impondo na base da bala. Não custa muito para o velho pistoleiro se tornar o dono da cidade, enquanto seu aprendiz e braço direito, acaba perdendo um pouco de seu humanismo (que coisa feia GEMMA!). Só no final, depois de algumas reviravoltas, tiroteios e cádaveres, que nosso herói terá a chance de se redimir com o público no inevitável (e memorável) duelo final. Enfim, uma belezura para encher os olhos de qualquer fã de SW! Destaque para a grande trilha do Riz Ortolani.

06 | Faccia a faccia | Sergio Sollima | 1967

Gian Maria Volonté é um professor, que por causa de problemas de saúde ganha uma licença e vai aproveitar o clima quente do oeste, mas inesperadamente acaba sendo sequestrado por um terrível bandido (Thomas Milian), esse contato entre figuras distintas acaba transformando ambos. Sollima constrói um belo painel psicológico e filosófico, aonde o bandido acaba se humanizando e o professor acaba se identificando com a crueldade. Aqui o herói vira vilão, e o vilão vira herói. Essa metamorfose é captada de forma magnifíca! Não a toa o falecido cineasta brasileiro Carlos Reichenbach chamava esse filme de “spaghetti dialético”.

07 | ¿Quien sabe? | Damiano Damiani | 1967

Assim como o posterior "Vamos a Matar, Compañeros", temos aqui o mexicano bruto e ingênuo (Gian Maria Volonté) em contraste com o gringo elegante e cínico (Lou Castel) no cenário da revolução mexicana. Mas ao contrário do filme do Corbucci, Damiani se mostra mais radical em sua conclusão. E lembrem-se: não comprem pão, comprem dinamite!

08 | Il grande silenzio | Sergio Corbucci | 1968

Se o Spaghetti Western é a antítese do tradicional western americano, este aqui vai mais além… acaba sendo a antítese de ambos! É praticamente um anti-western por excelência, senão vejamos: começamos pelo já citado cenário, montanhas geladas em vez do deserto ensolarado, em vez de uma mocinha loirinha temos uma negra, muito bela por sinal, os caçadores de recompensa, heróis icônicos dos Spaghettis, a partir das obras de Leone, aqui são vilões cruéis e o final niilista apaga qualquer esperança de redenção! Sim, "Il Grande Silenzio" é um filme muito foda! Só para terminar: eu costumo fazer analogia entre este filme e o espanhol "Condenados a Vivir" a.k.a. "Cut-Throats Nine" de Joaquín Luis romero Marchent, um filme ainda a ser reavaliado. Embora ambos tenham tramas distintas tem suas semelhanças. Pois o espanhol também se passa nas montanhas, em meio a neve, como também possui uma violência brutal e impregnado de pessimismo.

09 | Keoma | Enzo G. Castellari | 1976

Sei que falar disso é chover no molhado no filme em questão, mas repito o senso comum: é um filme crepuscular que marca o fim da era de ouro do spaghetti, e o fim da contracultura hippie (ainda que tardia). O clima místico, a câmera lenta peckinpahniana, a beleza da Olga Karlatos. Tudo contribui para um belo espetáculo.

10 | Per qualche dollaro in più | Sergio Leone | 1965

Embora seja menos citado que o primeiro e o último da trilogia dos dólares, esse é um dos meus SW favoritos. Eastwood e Van Cleef contra Volonté (que tem Klaus Kinski como capanga!), como não ser maravilhoso? Mais uma vez a trilha de Morricone é mais do que perfeita! Uma das melhores cenas para mim é aquela do duelo entre o vilão Gian Maria Volonté e o traidor de seu bando Lorenzo Robledo, a forma que Leone estica o tempo além do suportável nos duelos , me faz pensar, que além de westerns esse diretor deveria ter dirigido thrillers, tamanho domínio do suspense. Como alguém, não me recordo agora quem, já escreveu: “enquanto Peckinpah se preocupava com a violência, com o duelo propriamente dito, Leone visava mais a preparação para o duelo.”


Joker: Pura diversão!

Blindman | Ferdinando Baldi | 1971

Essa versão SW do Zatoichi, o samurai cego, é pura diversão! O ator Tony Anthony (esse nome é uma redundância, não?) é o pistoleiro cego que tem escoltar um monte mulheres para casarem com mineradores (!!!), no meio do caminho nosso herói é traído tem sus garotas roubadas. Começa então a caçada do cego para reaver “suas” mulheres. Completamente absurdo, esse filme mostra um herói, que por não enxergar, tem que ganhar de seus adversários usando sua audição (tal qual o samurai cego japonês) e muita malandragem! De bônus temos Ringo Starr como um dos sádicos vilões.


A evitar: Pura rotina!

Viva Sabata! |Tulio Demicheli | 1970

Estrelado pelo ítalo-brasileiro Anthony Steffen, só aproveita o nome do personagem imortalizado por Lee Van Cleef. Tenta dar um tom cômico e tem no elenco nomes como Peter Lee Lawrence e Eduardo Fajardo. Mas o resultado é pura rotina.



Menção Honrosa: Western pouco ortodoxo!

L'uomo, l'orgoglio, La vendeta | Luigi Bazzoni | 1967

Embora não seja um western ortodoxo em sua geografia (se passa na Espanha, portanto longe dos USA-Mexico), não poderia deixar de fora essa bela adaptação de Carmen, do francês Proper Mérimée, para ambientação de “faroeste”. Aqui temos Franco Nero como José, um oficial do exército que cai de amores pela cigana Carmen, uma devoradora de homens. A paixão e o ciúme de José o leva a cometer homicídio e ter que fugir da justiça. Ainda temos no filme o sempre insano Klaus Kinski como Garcia, o cruel amante da cigana. Beleza pura!


8 comentários:

  1. Valeu Pedro Pereira! Muito obrigado pela oportunidade aqui!

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    1. Eu é que agrdaeço a tua participação e rapidez na elaboração da coisa. Curiosamente ou não partilho a maioria das tuas preferências. Sobretudo estou de acordo com o teu comentário sobre o upgrade que COMPAÑEROS foi sobre IL MERCENARIO. Acho que está na hora desse filme ter um devido reconhecimento.

      Sobre o filme que colocas a evitar. Creio também ser bastante vulgar. Vi-o uma vez e lembro-me apenas de ser descompensado em termos de comédia e acção. É realmente dispensável embora por regra não diga não a nenhum western protagonizado por Anthony Steffen, que é um daqueles actores super-inexpressivos que ainda assim idolatro.

      --
      Pedro Pereira

      http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
      http://destilo-odio.tumblr.com/
      http://filmesdemerda.tumblr.com/

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  2. Respostas
    1. Obrigado! Bom 2014!
      --
      Pedro Pereira

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  3. Digamos que é uma lista sem grandes surpresas. Sobre o filme O HOMEM, O ORGULHO E A VINGANÇA menciono algo que li há pouco tempo na autobiografia de Klaus Kinski. Durante o tempo em que este esteve em Almería a fazer westerns, Kinski fazia quase todas as semanas uma festa na sua vivenda e os convidados especiais eram os muitos ciganos espanhóis que viviam na zona. Naturalmente, algumas raparigas ciganas não escaparam das garras de Kinski...

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  4. Medo.
    --
    Pedro Pereira

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  5. Lista muito interessante e ainda de quebra comentários interessantes e divertidos como os feitos para Vamos a matar companheiros e O dia da ira. Só não gostei mesmo foi das comparações com Peckinpah, porque Leone foi muito melhor, aliás os diretores italianos dessa lista foram melhores. O diretor americano deu uma de João sem braço e roubou muitas idéias da trilogia leoniana.

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