9.05.2011

Os spaghettis da minha vida | Felipe M. Guerra @ Filmes para doidos



Escuso-me a fazer grandes comentários sobre o nosso convidado de hoje. Felipe M.Guerra nas suas próprias palavras:

Meu nome é Felipe M. Guerra e, no Brasil, sou mais conhecido pelos longos artigos sobre cinema fantástico para o site Boca do Inferno. Portanto, tive que iniciar meu próprio blog, o Filmes para Doidos, para poder escrever sobre outros tipos de cinema que eu adoro: as aventuras podreira feitas nos anos 80, os amalucados pornôs brasileiros e, claro, o spaghetti western.

Duas pessoas especiais me iniciaram no western produzido na Itália: meu pai Quito e meu falecido avô Keko – que, por sinal, tinha sangue português nas veias. Meu avô sempre me convidava para assistir “filmes de mocinho”, e meu pai era um adorador do gênero que me passou a paixão pelo western italiano principalmente por rever, de tempos em tempos, o clássico “Un Dollaro Bucato”, de Giorgio Ferroni.

Queria dizer que é um prazer estar escrevendo para um blog internacional do gênero, mas ao mesmo tempo é bastante trabalhoso, para mim, fazer uma lista de “10 melhores”. Eu costumo fugir dessas listas como o diabo da cruz, porque sei que acabarei cometendo injustiças (só olhando por cima, agora, percebo que esqueci “Blindman” e “Preparati la bara”, ambos do Ferdinando Baldi e ambos belíssimos filmes).

Mas como percebi que o objetivo do blog é mais reunir memórias afetivas de apaixonados por spaghetti western do que chegar a um consenso sobre “os melhores westerns de todos os tempos”, resolvi encarar o desafio.

Só uma observação: eu tenho uns gostos meio esquisitos, portanto não estranhem se deixo de fora muita coisa confirmada em outras listas (“Il buono, il brutto, il cattivo”, “La Resa dei conti”, ”Il grande silenzio”) e coloco algumas maluquices que provavelmente só eu vou lembrar de citar. Tem filmes, como o joker “Black Killer”, que só escolhi por memória afetiva, e não exatamente por serem obras-primas do gênero.

Enfim, esta não é uma lista definitiva, provavelmente vou me arrepender por ter esquecido mais coisas (ai, caramba, “Sette dollari sul rosso”, do Alberto Cardone!), e é uma relação baseada em um gosto cinematográfico bem peculiar (mau gosto cinematográfico, dirão alguns).

Mesmo assim, espero que ajude os fãs de spaghetti western a descobrir (ou redescobrir) alguns filmes bem interessantes. Vamos a eles:


Os 10 favoritos:

01 | C'era una volta il West | Sergio Leone | 1968

Clássico absoluto e um dos melhores filmes de todos os tempos. Eu o considero menos um western e mais uma ópera, com pouquíssimos diálogos (embora esses sejam geralmente impagáveis) e uso grandiloquente da excelente trilha sonora de Ennio Morricone. Uma cena maravilhosa atrás da outra, às vezes costumo colocar o DVD só para rever os momentos mais marcantes, e não o filme inteiro. A obra-prima de Leone, sem dúvida.


02 | Django | Sergio Corbucci | 1966

Foi o filme que me fez ficar apaixonado pelo spaghetti western. Tem um pistoleiro vestido de negro, mal-encarado e cheio de segundas intenções como “herói”, um massacre com metralhadora gatling NA METADE DO FILME e a antológica conclusão no cemitério. Precisa de mais alguma coisa? “Quantos homens você ainda tem? Traga todos!”.


03 | Per un pugno di dollari | Sergio Leone | 1964

Fãs de spaghetti western costumam me olhar de um jeito esquisito quando eu digo que esse primeiro é o meu filme preferido da “Trilogia do Dólar” de Leone. Gosto de como ele é curto e vai “direto ao assunto”, sem o preciosismo que Leone demonstraria nos dois filmes posteriores (cada vez mais longos). Gosto também por ser uma espécie de norte pelo qual se guiaram praticamente todos os westerns italianos feitos depois.


04 | Matalo! | Cesare Canevari | 1970

Um spaghetti western sob efeito de LSD, como disse algum crítico da época. Realmente é uma obra bastante esquisita, mas apaixonante justamente por isso: onde mais você vai ver um herói que passa o filme inteiro apanhando e se vinga dos bandidos nos 15 minutos finais usando... bumerangues?!? Fantásticos movimentos de câmera acompanham a trajetória do bumerangue da mão do mocinho até o alvo, num western diferente que merece ser (re)descoberto.


05 | I giorni dell'ira | Tonino Valerii | 1967

Fico feliz por perceber que esse filme, um tanto esquecido nos dias atuais, aparece em quase todas as listas feitas pelos fãs aqui em vosso blog. Na minha humilde opinião, uma das melhores obras na linha “pupilo que supera o mestre”, com interpretações sensacionais de Lee Van Cleef e Giuliano Gemma,e (como não podia deixar de ser) belíssima trilha sonora de Riz Ortolani.


06 | Keoma | Enzo G. Castellari | 1976

Outro que é “hors concours” aqui nas listas, merecidamente. Um eficiente trabalho de Castellari, que merecia mais crédito e é um dos diretores que melhor usou o recurso do “slow motion” pós-Sam Peckinpah. Com Franco Nero à frente, diálogos inspirados e os tiroteios em câmera lenta embalados pela trilha de Guido e Maurizio De Angeli, o filme cresce a cada revisão.


07 | Le colt cantarono la morte e fu... tempo di massacro | Lucio Fulci | 1966

John Woo estava começando a estudar cinema quando Fulci dirigiu essa pequena pérola, cuja conclusão, com larga contagem de cadáveres, câmera lenta e pombas voando, lembra bastante o que Woo faria 30 anos DEPOIS. Podemos chamar Fulci de visionário? Com certeza! E o filme é maravilhoso, com um duelo de interpretação entre Franco Nero e George Hilton.


08 | Se incontri Sartana prega per la tua morte | Gianfranco Parolini | 1968

Sempre fui um grande fã da série “Sartana” - talvez o melhor personagem do spaghetti western depois de Django. Foi difícil escolher um dos filmes estrelados por Gianni Garko, mas optei pelo original por memória afetiva: foi o primeiro que vi. Também é o mais sério deles, antes de Sartana se transformar numa espécie de James Bond do Velho Oeste.


09 | ...E per tetto un cielo di stelle | Giulio Petroni | 1968

Uma das melhores cenas iniciais de todos os westerns que já vi: o massacre da diligência ao som da melancólica trilha de Ennio Morricone. Depois, a trama alterna humor e violência, contando com uma dupla simpática (Giuliano Gemma e Mario Adorf) que se sai bem melhor que os populares Terence Hill e Bud Spencer. Geralmente eu não gosto muito de westerns cômicos, mas esse consegue ser mais equilibrado que a média.


10 | Dio li crea... Io li ammazzo! | Paolo Bianchini | 1968

Outro que entrou na lista por memória afetiva – será um guilty pleasure? Adoro o título. Adoro o herói, um pistoleiro almofadinha e afeminado, mas cruel e rápido no gatilho quando necessário. Adoro o vilão e seu capanga anão (!!!). Adoro o tiroteio final. Provavelmente não vai aparecer na lista de mais ninguém, mas não podia deixar de estar na minha!



Joker: Direto ao assunto!

Black Killer | Carlo Croccolo | 1971

Ainda lembro que era um garotinho quando meu pai trouxe o VHS desse filme para casa – foi um dos primeiros spaghetti westerns que vi. Fiquei encantado com a figura de Klaus Kinski, sempre vestido de negro e com um revólver escondido no interior de um livro. Não é exatamente genial, mas pelo menos não enrola e vai direto ao assunto: ação, tiros e traições. E Kinski está ótimo, roubando todas as cenas em que aparece.



A evitar: Bobagem!

Il West ti va stretto, amico... è arrivato Alleluja | Giuliano Carnimeo | 1972

Como já disse, não gosto muito de faroestes cômicos, principalmente quando eles exageram na dose. É o caso desse aqui, que já tem uma cena inicial lamentável pelo seu humor chulo, e dali para a frente a coisa só piora. O irônico é que no filme original (“Testa t'ammazzo, croce... sei morto... Mi chiamano Alleluja”), o humor era muito melhor dosado e menos exagerado. Não recomendo, a não ser para quem gosta desse tipo de bobagem.

10 comentários:

  1. Nesta lista concordo com o filme a evitar: Esse ALELUIA tem umas doses de humor demasiado estúpido para o meu gosto! O primeiro filme já assim era mas este é pior...

    ResponderEliminar
  2. Bem, eu gosto bastante do Aleluia original, mas concordo que a sequela seja bastante apalhaçada. Aliás, tal como a saga Tresette, que é ainda pior.

    Um filme de que também guardava memórias dos tempos do VHS e que folgo ver mencionado é esse BLACK KILLER. Felizmente pude voltar a vê-lo recentemente.

    Muito obrigado pela participação Felipe!

    --
    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://auto-cadaver.posterous.com
    http://filmesdemerda.tumblr.com

    ResponderEliminar
  3. Ótima lista, com ênfase em "Per um Tetto", belo filme com a introdução maravilhosa e melancólica.

    ResponderEliminar
  4. Olá Caio!
    Eu também adorei os primeiros minutos desse filme, mas infelizmente Petroni redirecciona a acção para os campos do «buddy western», que me aborrece um pouco. Seja como for é um filme que merece destaque no meio das centenas de spaghettis realizados nos anos 60/70, disso não duvido.

    --
    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://auto-cadaver.posterous.com
    http://filmesdemerda.tumblr.com

    ResponderEliminar
  5. O que queres dizer com "«buddy western»"?

    ResponderEliminar
  6. Refiro-me aquele tipo de filme em que a acção se desenrola em torno de dois (ou mais) parceiros. Isto num clima cómico, claro.

    --
    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://auto-cadaver.posterous.com
    http://filmesdemerda.tumblr.com

    ResponderEliminar
  7. sobre o
    10 | Dio li crea... Io li ammazzo! | Paolo Bianchini | 1968

    ver o texto do proprio Felipe realizado uns dias antes deste post:

    QUINTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2011
    DEUS OS CRIA... EU OS MATO! (1968)

    E hoje o FILMES PARA DOIDOS traz mais um western spaghetti, porque a última resenha de filme do gênero foi publicada há quase um ano ("O Dólar Furado", em setembro de 2010). Para compensar a ausência dos cowboys da Terra da Bota aqui no blog, nada melhor do que falar um pouco (ou um muito) sobre um dos meus westerns preferidos: DEUS OS CRIA... EU OS MATO!

    Começo explicando que esse filme não é um clássico do gênero, nem tem nada muito diferente de outros tantos westerns produzidos na Itália naquele período. Por que, então, é um dos meus preferidos entre tantos outros melhores?

    ResponderEliminar
  8. Em primeiro lugar, pela nostalgia. Foi um dos primeiros westerns italianos que eu assisti, numa sessão de filmes de bangue-bangue que a Bandeirantes exibia semanalmente no começo da tarde, logo depois do almoço (alguém lembra o nome disso?).

    Em segundo lugar, porque na minha modesta opinião esse western tem um dos melhores títulos da história do cinema: como resistir à tentação de ver um filme chamado DEUS OS CRIA... EU OS MATO!, mesmo sabendo que ele não tem nenhuma relação com a história?

    E em terceiro lugar... Bem, eu já chego lá!


    Dirigido por Paolo Bianchini em 1968, DEUS OS CRIA... EU OS MATO! traz o cantor de rock norte-americano Dean Reed no papel de um caçador de recompensas chamado Slim Corbett. Ele é contratado pelas lideranças de Wells City, uma pequena cidade na fronteira com o México, para desbaratar uma misteriosa quadrilha que tem esvaziado o banco local com bastante regularidade, sempre fugindo sem deixar pistas.

    O espectador já sabe desde cedo que os responsáveis pelos crimes são o xerife de Wells City, Lancaster (Piero Lulli, de "Mata, Bebê, Mata"), e um poderoso fazendeiro mexicano da região, Don Luis (Pietro Martellanza, de "A Cruz dos Executores"). Para que o recém-chegado Corbett não mele a lucrativa parceria, eles resolvem incriminá-lo. Só que o herói foge da cadeia para um sangrento acerto de contas.


    À primeira vista (ou lida), a trama do filme não tem nada de novo ou revolucionário, certo? Então o que faz de DEUS OS CRIA... EU OS MATO! um faroeste tão memorável para que eu o inclua entre os meus preferidos do gênero, além do fator nostalgia e do título, já citados?

    Vamos por partes: o roteiro é de Fernando Di Leo, um dos grandes roteiristas do faroeste italiano - ajudou a escrever "Por um Punhado de Dólares" e "Por uns Dólares a Mais", embora não tenha recebido crédito -, que depois mostraria muito talento também no cinema policial (escreveu "Uomini si Nasce, Poliziotti si Muore", de Ruggero Deodato, e dirigiu "La Mala Ordina" e "Milano Calibro 9").

    ResponderEliminar
  9. continua...

    vejam o resto do texto em:

    http://filmesparadoidos.blogspot.com.br/2011/08/deus-os-cria-eu-os-mato-1968.html

    ResponderEliminar