1.20.2010

Sentenza di morte (1968 / Realizador: Mario Lanfranchi)


Nos últimos tempos temos aqui abordado - quase em forma de ciclo cinematográfico - a personagem Django. Escreveu-se sobre o original de Sergio Corbucci, mas também sobre alguns dos filmes vulgarmente aceites como sequelas, com tempo ainda para uma breve abordagem a algumas adaptações livres. Uma outra variante em voga naqueles tempos consistiu na simples adição da palavra Django ao título promocional do filme. Vimos isto acontecer um pouco por todo o lado, mas foram esses doidos Alemães que levaram esta prática ao extremo. Sentenza di morte foi um desses filmes, lançado em terras bárbaras como “Django - Unbarmherzig wie die Sonne”, mas sem qualquer ligação com a personagem criada por Corbucci. Este foi curiosamente o único western-spaghetti filmado por Mario Lanfranchi, um sujeito cujas ligações artísticas com o teatro e a ópera proporcionaram uma narração diferente do habitual neste género cinematográfico, dividindo o filme numa espécie vingança em quatro actos e privilegiando os grandes diálogos às habituais cenas de tiroteio e pancadaria.

Robin Clarke protagonizaria já nos anos oitenta, o clássico sci-fi xunga "Inseminóide - O Planeta do Medo"

O Norte-americano Robin Clarke - numa aparição única no género - foi o escolhido para interpretar Cash (ou Django dependendo da edição), um tipo aparentemente alcoólico que vê o seu irmão ser abatido por quatro indivíduos, revoltando-se contra estes acaba também ele por ser alvejado. Movido pelo ódio, Cash resolve trocar o malte pela lactose, lançando então a sua vendetta pessoal sobre os assassinos do seu irmão – nada de novo, portanto! O primeiro a provar o chumbo de Cash será Diaz (Richard Conte), um ganancioso fazendeiro que propositadamente acabará perseguido na imensidão das terras desérticas que o rodeiam. Despachado o primeiro assassino, somos imediatamente colocados noutro cenário: cidade aparentemente pacata onde reencontramos Montero - interpretado pelo excelente Enrico Maria Salerno (Bandidos, Un treno per Durango). Montero, ávido jogador de poker é confrontado por Cash que depois de lhe ganhar todo o dinheiro no jogo lhe impõe uma derradeira partida: Terá agora de apostar aquilo que de mais valor possui, a sua própria vida!

Enrico Maria Salerno, um actor de mão cheia.

O terceiro confronto será com Baldwin (Adolfo Celi - os fãs da saga 007 talvez se lembrem dele em Thunderball ) um falso homem de fé que espalha o terror na população. Astuto, Baldwin captura e baleia Cash, mas por intervenção divina ou simplesmente grande imaginação humana, Cash utilizará a mesmíssima bala para lhe tirar a vida. Cena suficientemente bizarra para merecer ser vista! Para o grande acto final, Lanfranchi fez alinhar o Cubano Tomas Milian (La resa dei conti , Faccia a faccia, Vamos a matar, compañeros), aqui na pele de um albino com possíveis indícios de epilepsia e completamente obcecado por ouro e tudo aquilo que com dourado se pareça, loiras inclusive. Valendo-se disso Cash preparar-lhe-á uma armadilha mortal. Milian que também passou pelas escolas de artes desempenha aqui mais uma das suas habituais actuações teatrais - no limiar do exagero - mas que dentro do ambiente concebido por Lanfranchi não destoa por aí além.

Este não joga com o baralho todo.

Embora forasteiro nestas andanças dos spaghettis, Lanfranchi acaba por conceber um filme bastante aceitável, com um bom trabalho de fotografia e sobretudo com um grande elenco. Perde no entanto a oportunidade de conceber uma obra maior, muito devido às repentinas passagens entre actos, que mereciam ter ligações mais preenchidas. Apesar disso e sabendo à partida que este não é filme de topo, serve como excelente exemplo de como até um género tão básico como o western-spaghetti pode ser mostrado de uma forma original. 

O nosso herói sofre nas mãos do malvado Baldwin

O filme está disponível pela Koch Media, com áudio original Italiano e legendas em Inglês. Como é habitual nas edições desta editora Alemã, para além da excelente qualidade de imagem, podemos contar com alguns extras interessantes, incluindo entrevistas e comentário áudio pelo próprio Mario Lanfranchi. Recomendável!


7 comentários:

  1. Vejo grandes semelhanças entre este filme e "Joko invoca dio...e muori", de Antonio Margheritti e protagonizado por Richard Harrison. Ambos estão sub-divididos por actos e o tema é a vingança. Por outro lado, acho ridículo o uso do nome Django quando se percebe claramente que o nome do protagonista é Cash!Enrico Maria Salerno torna o filme melhor e Tomas Milian tem um desempenho genial e louco!! Apesar disso, este filme está longe de ser um dos meus preferidos...

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  2. Bem visto, de facto "Joko invoca Dio... e muori" segue a mesma linha, pessoalmente a minha preferência até pende para esse. Aliás Margheriti realizou um dos meus spags favoritos: "E Dio disse a Caino".
    Não me esqueço do gag com o nome dele no "Inglorious basterds", hilariante!!!

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  3. Está película aún no la he visto, ya que es difícil de encontrar aquí en spain, y la verdad es que le tengo muchas ganas, sobre todo por el gran Tomas Milian.

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  4. Pois, é difícil de encontrar em todo o lado, menos na Alemanha e França. De Portugal nem se fala, não fora o punhado de edições da Prisvideo e estaríamos na mingua...

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  5. o mercado DVD em Portugal é mau e no que toca aos westerns-spaghetti é quase inexistente! Há alguns títulos editados pela Prisvideo e pouco mais... sem mencionar os preços escandalosos dos DVDs e CDs em Portugal!!

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  6. Apesar das passagens das cenas, que por vezes nos deixa perdidos quer no espaço, quer no tempo e nos deixa a pensar "que raio se passou aqui"... o filme vale a pena. A ideia de um pistoleiro temido que bebe leite é no mínimo original! Relativamente ao Tomas Milian, acho que o exagero se encaixa bem no personagem que representa tornando-o num verdadeiro louco!

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