9.30.2009

I giorni dell'ira (1967 / Realizador: Tonino Valerii)


Não sei ao certo quantas vezes terei visto este filme, mas lembro-me bem de me ter arrebatado logo no primeiro contacto – era ainda muito novo e o então jovem canal de televisão português, SIC, fazia as primeiras emissões. Depois disso voltei a vê-lo noutros canais de televisão espanhóis e até em VHS, ora dobrado em espanhol ora em inglês. Mas a primeira visualização de I giorni dell'ira (1967) foi desde logo na sua versão original, isto é falado em italiano. Ainda que este não tenha sido o primeiro western que assisti falado nessa língua, foi neste em que pela primeira vez reflecti sobre a nacionalidade daqueles tipos que tinha dentro da caixa mágica. Não eram afinal verdadeiros gringos, mas sim na sua maioria europeus como eu. E aquele oeste selvagem que mostravam, afinal não era mais do que as áridas paisagens mediterrâneas, muitas delas aqui bem ao lado de mim. A minha devoção por este filme tornou-se grande ao longo dos anos e sem grandes hesitações considero ainda hoje que tenha qualidades suficientes para figurar num hipotético “spaghetti top 10” pessoal, surgindo nas minhas preferências logo após as obras-mestras de Sergio Leone. Foi por isso com muito prazer que algures em 2008, aquando de uma viagem de trabalho que fiz a Madrid, finalmente encontrei à venda uma cópia em DVD deste filme que me permitiria fazer a substituição da já gasta cassete VHS pirata lá de casa. Foi aliás através desta compra que tomei conhecimento da existência da excelente “La colección sagrada del spaghetti western”, editada en tierras de nuestros hermanos pela Impulso. Esta colecção merece algumas linhas, dada a qualidade e raridade de alguns dos seus títulos, entre os quais destaco películas de grande valor inéditas em Portugal como, Lo voglio morto (1968), Un treno per Durango (1968), Una pistola per cento bare (1968) ou Una nuvola di polvere... un grido di morte... arriva Sartana (1971).

I giorni dell'ira, lançado por estas paragens como “Gigantes em duelo”, foi o segundo filme dirigido por Tonino Valerii (Per il gusto di uccidere, Una ragione per vivere e una per morire, Il mio nome è Nessuno). Valerii ao contrário do elenco de actores que teve à sua disposição – ambos com louros recolhidos – tinha ainda que demonstrar o seu valor, objectivo que atingiu com o seu empenho no projecto, que passou não só pela realização mas também pelo argumento (adaptado do romance “Der Tod ritt dienstags"). Este conta-nos a história de Scott (Giuliano Gemma), um pacato rapaz que sonha um dia ser um grande pistoleiro, mas que por circunstâncias de uma vida dura se vê relegado para as árduas e indesejadas tarefas de limpeza na cidade de Clifton. Comummente enxovalhado pelos respeitáveis cidadãos locais, Scott vê na chegada à cidade de um tal Frank Talby (Lee Van Cleef) a sua grande oportunidade de aprender a manejar o colt e assim impor o respeito aqueles que sempre o humilharam. Talby que se revelará um implacável pistoleiro, acaba eventualmente por se tornar o seu mentor, incutindo-lhe assim os seus ensinamentos, permito-me chamar-lhe uma espécie de mandamentos do pistoleiro! Os momentos em que Talby instrui as lições a Scott, são mesmo alguns dos pontos altos da narrativa do filme, sempre eficazmente acompanhados por uma magnífica trilha sonora de Riz Ortolani (Requiescant, La notte dei serpenti) - característica que provavelmente foi aprendida por Valerii nos tempos em que trabalhou como assistente de Sergio Leone. Talby, como rato velho que é, surge então com um esquema para chantagear e dominar a cidade. Aproveitando-se da então criada relação com Scott de mestre/aprendiz, para fazer deste o seu guarda-costas pessoal. Depostos do poder, os corruptos e até então pouco amistosos habitantes de Clifton tentarão convencer Scott a livrar-se de Talby e do seu então criado bando de bandidos. E mais não conto sob pena de desvendar demasiado da história do filme.

Este é sem dúvida o meu filme favorito de Valerii, de quem admito ser grande adepto, conto em breve voltar a debruçar-me sobre mais um título da sua obra. Quem também parece ser apreciador do cinema de Valerii, é George Lucas. Aparentemente o mestre da ficção-ciêntifica terá declarado ser apreciador de western-spaghetti, facto mais que suficiente para muitos terem já especulado sobre o paralelo entre as personagens de I giorni dell'ira com as de Star Wars. Dá que pensar! Um excelente argumento, superiormente interpretado por um elenco muito bem escolhido, que não se esgota de modo algum nas já então estrelas do cinema europeu - Lee Van Cleef e Giuliano Gemma - associado a uma cuidada escolha de cenários, filmagem e montagem de se lhe tirar o chapéu, e claro, uma inesquecível trilha sonora; fazem de I giorni dell'ira um clássico imperdível!

20 comentários:

  1. Muito legal mesmo esse filme. O outro que vi do Valerii foi My Name is Nobody, mas esse aqui parece mesmo ser insuperável.

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  2. esse é filmaço, dessa do George Lucas eu não sabia, engraçado que muitos crítico descem o pau em filmes classe B, e os mesmos sendo amados por cineastas consagrados, do Valerri falta eu ver IL PREZZO DEL POTTERE, UNA RAGIONE PER VIVERE, UNA PER MORIRE e PER IL GUSTO DI UCCIDERE.

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  3. Pois... isto é tudo menos classe B! Recomendo que vejas o segundo que mencionas. Acção explosiva ao estilo de "Dirty dozen"!

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  4. Um grau notável, sem dúvida.
    Boa revisão.
    O filme é um clássico, mas ainda assim é um prazer ver Lee Van Cleef.

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  5. Una película notable, sin duda.
    Buena reseña.
    De estilo western clasico, pero pese a todo es una delicia ver a Lee Van Cleef.

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  6. Belo texto! Este eu ainda não vi... mas com o Cleef fazendo spaghetti eu adoro o La Resa dei Conti.
    Abraço!

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  7. Imperdoável, tens mesmo de ver este filme... corrijo, filmaço! Pela certa não ficarás desiludido!

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  8. Excelente filme! Pouco mais há a acrescentar ao comentário do Pedro, também eu há muitos anos que admiro este filme, desde o VHS pan&scan que foi lançado em Portugal, muito cortado, tinha a duração de cerca de 80 minutos!!!
    Mais tarde adquiri a versão da wild east com 111 minutos!!
    Adiante, na minha opinião a verdadeira vilã do filme é a cidade de Clifton (e os seus "ilustres" habitantes) e durante algum tempo simpatizamos com Talby porque a humilha e praticamente a destrói, ou pelo menos destrói aquela fachada de hipocrisia e perfeição e reparem na limpeza da cidade, coisa única no western, reparem no saloon no qual Scott Mary é proibido de entrar pela porta principal e mais tarde sentar-se a pedido de Talby, porque Scott como órfão, e filho de uma prostituta e pai incógnito, um bastardo naquela época era do mais baixo que havia socialmente, era indigno de profanar toda aquela perfeição e é aí que eu acho que Talby tem o seu quê de herói, é ele que desmascara todos os "ilustres cidadãos" de Clifton, afinal, quem vê caras não vê corações...

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  9. Viva companheiro António!
    Guarda essa edição da Wild East com a tua vida, anda por aí muito gente à procura dela. Esses rapazes deviam repensar as quantidades de cópias que mandam fazer! Apareceu entretanto uma edição da Cultcine que supostamente terá melhor imagem do que essa, mas não posso confirmar. Fica aí o link para quem queira conferir:

    http://cultcine.com/products-page/all-titles/day-of-anger-1967-ntsc-tonino-valerii-it

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  10. Pois é, sócio! Este é um óptimo filme, os protagonistas são dois dos meus actores favoritos. As cenas em que Talby vai falar com o seu ex-sócio Wild Jack (Al Muloch) foram filmadas na aldeia de Los Albaricoques, Espanha.
    A versão em VHS que vi era má porque tinha muitas cenas cortadas.

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  11. É difícil acrescentar algo ao que já foi dito!! A forma com a história dá a volta é fantástica, tanto no que respeita à sociedade Clifton como no que se refere à relação de Scott com Talby! Cativa-nos do primeiro ao último minuto!!

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  12. Pois é, parece-me que estamos todos de acordo... grande, grande filme! Tive entretanto que corrigir a gramática do titulo do romance que deu origem ao filme. Devia ter tido mais atenção nas aulas de Alemão... Vielen Dank Herr Bruer!

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  13. Magnifico blog amigo....Un saludo desde España.

    JoseADiego

    http://exhumedmovies.netau.net/

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  14. Muchas gracias JoseADiego! Intentamos hacer lo mejor que sabemos...

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  15. Pedro, não quis desmerecer os Spaghettis mas naquela época eles eram feitos com uma percentagem de dinheiro menor, por isso é um tipo de gênero classe B por questõs orçamentarias, não disse que eles eram mal feitos.

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  16. Olá Artur!
    Sim, eu entendi o que querias dizer. Mas como dizias é um filmaço! O que só prova que por vezes, com pouco se pode fazer muito...

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  17. download:


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    Subtítulos en español:
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  18. EU ME LEMBRO DESSE FILME.. MUITO BOM APESAR DE TER UM CENÁRIO POBRE, PARA O DESENROLAR DAS CENAS.. ALIAZ POR FALAR EM FILMES BONS COM CENÁRIOS RUINS.. VALE AQUI LEMBRAR DO FILME" SE ENCONTRAR SARTANA REZE PELA SUA MORTE"..."VILMAR BRITO.

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  19. realmente esse filme tem um cenário pobre para a qualidade do filme.

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